segunda-feira, 30 de maio de 2011

Assinatura do Protocolo da "Rede de Bibliotecas de Tavira"

No dia 30 de Maio, pelas 16 horas, realizou-se na Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, a assinatura do Protocolo da "Rede de Bibliotecas de Tavira”. Nasce, assim, o portal da biblioteca municipal, através do qual se pode aceder às bibliotecas escolares e respectivos blogues e catálogos.

Este evento contou com a presença de diversos convidados, designadamente: Dra Teresa Calçada, Coordenadora Nacional da Rede de Bibliotecas Escolares, Director Regional de Educação do Algarve, Director Regional Adjunto, Presidente da Câmara Municipal de Tavira, Directores das Escolas/Agrupamentos e Coordenadora Interconcelhia das BE.

Após a apresentação do portal, alunos das diferentes escolas proporcionaram aos presentes um agradável momento cultural. A nossa escola foi muito bem representada pelo aluno João Vasco, do 9ºA, que declamou o poema «Poeta Castrado», de Ary dos Santos.

Pode aceder ao site através de http://bibliotecas.cm-tavira.pt
A Profª Bibliotecária
Fátima Veríssimo

terça-feira, 24 de maio de 2011

Allen Jay e o Caminho-de-Ferro Clandestino

Nota da Autora
Allen Jay vivia com a família em Randolph, no Ohio, por volta de 1840. Os Jays pertenciam a um grupo religioso chamado Sociedade dos Amigos ou Quakers. Estas pessoas vestiam-se todas da mesma maneira e acreditavam que todos os homens eram iguais. Usavam roupas simples e tratavam toda a gente por "tu", fossem estranhos ou amigos.
Infelizmente, a maioria dos afro-americanos que viviam no sul dos Estados Unidos não eram tratados como iguais. Eram escravos. Os escravos trabalhavam todo o dia sem serem pagos. Os patrões tinham direito de propriedade sobre eles, como se fossem animais. Quando os escravos fugiam, eram perseguidos e castigados. Muitas vezes, eram torturados ou mortos. As pessoas que ajudavam os escravos a fugir também eram punidas.
Embora fosse perigoso, os pais de Allen, Isaac e Rhoda Jay, ajudavam os escravos a fugir. Os Jays faziam parte de um grupo secreto chamado "Caminho-de-Ferro Clandestino". As pessoas que trabalhavam para esta organização escondiam escravos fugidos nos seus celeiros, sótãos e esconderijos secretos. Levavam-nos de um lugar seguro para outro. Os fugitivos viajavam a pé, a cavalo, de carroça e por trilhos secretos até ao Canadá. Aí, todos eram tratados como iguais perante a lei.
Os Jays tinham o cuidado de não dizer a ninguém o que faziam, nem mesmo aos filhos. Allen, de onze anos de idade, sabia que os pais alimentavam e escondiam estranhos de pele escura que iam e vinham misteriosamente. Mas não percebia muito de escravatura. Até ao dia em que se encontrou face a face com um fugitivo…
♦♦♦♦♦♦♦♦
1 de Julho de 1842

Allen pendurou a última camisa na corda. A mãe estava demasiado doente para fazer esta tarefa tão pesada, por isso cabia ao filho mais velho fazê-la. Todas as segundas-feiras, Allen lavava, fervia, engomava e estendia a roupa. Depois podia brincar à vontade.
Nessa tarde, Allen dirigiu-se ao celeiro para ir buscar a sua cana de pesca. Enquanto atravessava o pátio, viu um cavalo a dirigir-se para a quinta deles. Era o médico da família, que logo se aproximou.
Amigo Jay! Amigo Jay! gritou o médico.
O pai de Allen saiu do celeiro e caminhou rapidamente para o portão. Comentou:
O teu cavalo hoje tem asas. Pareces apressado.
O médico inclinou-se para Isaac e disse em voz baixa:
Está um escravo fugido escondido no bosque. O dono dele e os seus homens estão no seu encalço e estão armados.
Agarrou o ombro de Isaac e acrescentou:
Tem cuidado, Amigo.
O pai de Allen assentiu com a cabeça. O médico virou o cavalo e partiu de novo. Allen aproximou-se do pai e viu a sua cara preocupada. Perguntou-se se o dono do escravo viria matar o pai. Lembrava-se de histórias de outros Amigos que ajudavam fugitivos. Alguns tinham sido espancados. Outros tinham visto as suas casas serem incendiadas. Isaac Jay olhou para o filho.
Allen, pode ser que em breve vejas um homem de pele escura. Leva-o para o campo de milho, para trás da nogueira grande. O milho aí é suficientemente alto para o esconder. Mas, se o esconderes, não me digas a mim nem a ninguém que o fizeste.
Virou as costas e caminhou de volta ao celeiro. Allen nem conseguia mexer-se. O que devia fazer agora? O som de algo a estalar no bosque interrompeu-lhe o pensamento. Viu alguém mover-se por entre as árvores e o matagal. Caminhou em direcção aos ruídos, que logo cessaram. De repente, um homem com uma arma na mão saltou dos arbustos. Allen recuou rapidamente. Ficaram a olhar um para o outro em silêncio. O homem tinha as roupas rasgadas e os pés ensanguentados. A sua pele escura tinha golpes e marcas de chicote.
Tu filho Patrão Jay? perguntou.
Os olhos moviam-se de um lado para o outro, a perscrutar a estrada e a casa.
Sou gaguejou Allen. Sou Allen, o filho dele.
O homem baixou a arma. Allen tentou ganhar coragem para falar. Sempre tinha tido dificuldade de falar claramente, mas agora precisava mais do que nunca que o compreendessem.
Segue-me disse devagar. O meu pai mandou-me levar-te para um esconderijo.
Percebo disse o homem.
Allen conduziu-o pela borda do bosque até às traseiras da quinta. Baixaram-se, enquanto corriam pelo campo de milho. Allen levou o homem para uma clareira debaixo da nogueira.
Tens de ficar quieto e longe da vista das pessoas sussurrou o rapaz. A seu tempo, virão buscar-te.
Tem piedade suplicou o homem. Chamo-me Henry James. Fugi anteontem e ainda não comi nem bebi nada.
Os olhos pareciam tristes e cansados. Os lábios estavam gretados do calor.
Volto em breve com alguma comida disse-lhe Allen.
Olhou em volta para se certificar de que ninguém veria Henry James. Quebrou um caule de milho e varreu a poeira atrás de si, à medida que tentava encobrir as pegadas. Certificou-se de que todos os caules de milho estavam no lugar. Depois correu até casa. Tinha esperança de que o dono do escravo estivesse a horas de distância. O pai ia precisar de tempo para planear uma fuga segura para este fugitivo. Allen abrandou o passo à medida que se aproximava do celeiro. Pensou que alguém podia estar à espreita.
Abriu a porta da cozinha. Os seus irmãos Milton, Walter, Abijah e Mary estavam à mesa a descascar ervilhas. A mãe levantou-se da cadeira de baloiço.
Senta-te, Allen ordenou com voz tranquila. Tenho uma coisa para ti.
Mas, mãe começou Allen a protestar.
Fica sossegado, filho.
Allen sentou-se no banco junto de Walter. A mãe pediu:
Mary, por favor põe algum pão de milho e um pouco de presunto num cesto.
Allen perguntou-se como sabia a mãe que devia preparar comida a esta hora do dia e por que motivo os irmãos estavam todos dentro de casa.
Quem vai comer o pão? perguntou o pequeno Milton.
Um amigo que passe à nossa porta respondeu a mãe, a sorrir.
Rhoda Jay deu o cesto cheio a Allen e disse-lhe:
Leva este cesto a alguém que tenha fome.
Allen pegou no cesto e agarrou numa caneca de leite. Em seguida, apressou o passo em direcção ao campo de milho. Quando chegou junto da nogueira, ouviu o barulho de caules a partirem. O canhão preto de um revólver apareceu por entre as folhas de milho. Allen ficou petrificado. Percebeu pelo barulho do gatilho que a arma estava pronta a disparar.
Por favor, não dispares! implorou o rapazinho.
Henry baixou a arma e afastou o milho.
Tu meter medo disse, com a voz a tremer.
Allen suspirou e aproximou-se. Mostrou ao homem o que tinha trazido.
Serve-te à vontade.
Henry agarrou na caneca e bebeu com gosto durante muito tempo.
Isto ser muito bom, Patrão disse, agradecido.
Podes ficar aqui a descansar enquanto o meu pai não vier buscar-te. Eu tenho de ir.
Allen avançou através do milho até à berma do campo. Quando estava a sair do bosque, ouviu vozes. Escondeu-se detrás de uma pilha de toros antes que alguém o visse. Espreitou através dos toros e viu o pai a falar com seis homens a cavalo. Eram forasteiros e estavam armados. Um deles interrogava Isaac Jay asperamente:
Tem a certeza de que não viu o meu foragido?
Isaac abanou a cabeça.
Já lhe disse que não. Eu nunca minto.
O dono de escravos resmungou, incrédulo.
Que tal darmos uma vista de olhos à sua casa?
São bem-vindos disse Jay, calmamente. Mas precisam de um mandato.
O homem gritou:
Pode demorar a arranjar. Voltamos amanhã de manhã.
Resmungou qualquer coisa para os homens que o acompanhavam e foram-se embora a galope. Nessa tarde, Allen não ouviu mais nada sobre o escravo em fuga ou os homens coléricos. Nem se atreveu a perguntar. O pai, quando veio jantar, falou pouco. Nessa noite, a mãe mandou os filhos cedo para a cama. O pai foi ao celeiro. Pouco depois, voltou e chamou Allen. O cavalo deles, o Velho Jack, estava atrelado a uma carroça no pátio.
Gostavas de ir até à casa do avô? perguntou Isaac ao filho.
Posso ir contigo? perguntou Allen, admirado.
Não, desta vez vais sozinho respondeu o pai.
Allen nunca tinha viajado à noite sozinho pelo bosque. Havia ursos, gatos selvagens e serpentes por todo o lado. Agora, até devia haver caçadores de escravos. Mas Allen sabia o que o pai queria que ele fizesse.
A mãe saiu de casa e agarrou o braço do marido.
Não deves mandá-lo. É muito perigoso.
Mas eu tenho de ir, mãe disse Allen. Se o dono do escravo e os outros homens voltarem, o pai tem de estar em casa.
Tenho orgulho em ti, filho disse o pai. Se achas que deves levar alguém contigo, leva.
Rhoda Jay abraçou o filho demoradamente. Allen subiu para a carroça e tomou as rédeas.
Vai depressa e não te afastes da estrada principal advertiu o pai. Podes passar a noite na casa do teu avô.
Allen conduziu o cavalo até ao campo de milho. Parou a carroça junto da nogueira.
Sou eu, o Allen. Temos de nos despachar.
Henry James subiu para a carroça e encolheu-se junto dos pés de Allen. Passaram as luzes aconchegantes que irradiavam das janelas das quintas. Uma nuvem toldou a lua e a escuridão envolveu-os no meio daquela estrada acidentada. Permaneciam ambos em silêncio. Será que os caçadores de escravos iriam apanhá-los? Allen procurou não pensar no medo que sentia. E se Henry tentasse matá-lo para ficar com o cavalo? Agarrou as rédeas com força para apressar o cavalo. Tinha as mãos húmidas. Mordeu o lábio inferior.
Tu ter medo mim? perguntou Henry.
Allen não conseguiu responder.
Patrão Allen, tu leva a espingarda. Se vires alguém, dá-ma depressa. Salto enquanto conduzes. Não quero que te magoes.
Henry entregou a espingarda a Allen. O rapaz abanou a cabeça. Nem conseguia tocar na arma. O escravo disse:
Eu não voltar àquela quinta. Podem matar-me, mas não vou mais ser chicoteado.
Em seguida contou histórias a Allen sobre a sua vida de escravo. Trabalhava o dia todo e a maior parte das noites nos campos do Kentucky. Tinha visto o irmão ser espancado até à morte. A irmã tinha sido vendida a outro dono, longe dali. Henry queria chegar ao Canadá para poder ser livre.
Allen sentiu-se mal por não ter confiado em Henry. Nesse momento, ouviu algo a agitar-se por entre as folhas. Começou a tremer. Uma sombra atravessou-se em frente da carroça. O Velho Jack empinou-se nas patas traseiras. Allen puxou as rédeas até os dedos doerem. O cavalo foi-se acalmando.
O que aconteceu? sussurrou Henry. Precisas da arma?
Não respondeu Allen, rindo nervosamente. Era apenas um coelho velho a atravessar a estrada.
Henry não se riu. Viajaram durante mais de hora e meia. Allen via um caçador de escravos em cada sombra. Estava a ficar com sono e doíam-lhe as costas. Sentia frio por causa da humidade nocturna e estava cansado de ter medo.
Finalmente, viu uma luz. Vinha de uma cabana, da cabana do avô Jay. Allen saltou da carroça e ajudou Henry a sair do esconderijo. Bateu à porta com força e o avô veio abrir a porta em pijama. Parecia surpreendido, mas sabia o que fazer.
Entrem depressa. Allen, vai acordar o teu tio Levi.
Allen fez o que o avô mandou. O tio vestiu-se e saiu para selar os cavalos. O avô pôs alguma comida numa trouxa e deu-a a Henry. O escravo agradeceu-lhe e seguiu-o até ao celeiro.
Antes de Henry partir com o tio Levi, Allen estendeu-lhe a mão e disse, numa voz forte e clara:
Desejo que faças boa viagem até ao Canadá.
Henry James pegou na mão do rapaz:
Não vou esquecer tu, Patrão Jay disse, apertando-lhe a mão. Tu ser rapaz corajoso.


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Posfácio

Trinta minutos mais tarde, Henry e Levi entraram num acampamento de afro-americanos livres no condado de Mercer, no Ohio. Tratava-se de uma paragem muito importante no Caminho-de-Ferro Clandestino. A família desse acampamento escondeu Henry até ele poder viajar para norte. Passados alguns meses, a família Jay soube que o escravo tinha chegado ao Canadá.
Allen tornou-se um conhecido professor e pastor Quaker quando cresceu. Era um orador famoso, o que surpreendia muita gente: é que Allen tinha nascido com um orifício no céu-da-boca, o que tornava as suas palavras difíceis de entender. Mas as suas poderosas palavras de paz e amor eram consideradas um tesouro por muitos Amigos. Quando envelheceu, Allen escreveu a história da sua vida e o seu encontro com o escravo fugido em A Autobiografia de Allen Jay.

  
Marlene Targ Brill
Allen Jay and the Underground Railroad
Minneapolis, Carolrhoda Books, 1993
(Tradução e adaptação)
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dia do Autor Português



10.30 - Apresentação do livro elaborado pela turma D, do 6º ano, sobre a versão original "As asas da lontra Bernardina".




10.45 - Sessão com Nuno Ezequiel







14.30 - Sessão com Luís Conceição





Programa aqui

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Palestra com o Dr. Jorge Rio Cardoso - Sessão apresentação do livro "Ser bom aluno, bora lá"

No dia 19 de Maio, pelas 10h30, realiza-se, no Auditório da nossa escola, uma palestra dinamizada pelo Dr. Jorge Rio Cardoso, autor do livro Ser bom aluno, ‘bora lá?.
Trata-se de um manual que pretende ensinar aos alunos uma metodologia de combate ao insucesso escolar.
Esta é mais uma actividade organizada pela Biblioteca Escolar e Biblioteca Municipal Álvaro de Campos.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O almoço é daqui a dez minutos

 No cruzamento, paro na passadeira. Os carros passam apressados à minha frente, colados uns aos outros. Pouso a pasta no chão, ao meu lado. Hoje está bastante pesada, mais pesada do que de costume. Ao segundo tempo tivemos Estudo do Meio e tenho sempre de levar o atlas, que pesa quase um quilo. Não admira, quando imagino que lá dentro estão todos os rios, montanhas, mares, cidades e países – ou, pelo menos, quase todos. Aqui estão eles, nesta pasta, aos meus pés. Que ideia mais esquisita. Espero que os rios e os mares não comecem a sair, senão o livro de leitura e os outros livros todos e os cadernos que trago comigo ficam molhados!
Os carros param. É o sinal de partida para mim. Atravesso ao lado de outros peões, roçando nos pára-choques. A minha mãe resmunga muitas vezes por causa deste percurso. É uma falta de consideração para com as crianças, comenta ela. Mas a mim, este caminho não me incomoda, e os carros também não. Se calhar, começa-se a pensar como a minha mãe quando se é mais velho… Ali à frente, na próxima esquina, vou mudar a pasta para a outra mão. Faço-o sempre nesse local. A tabacaria é a referência. Quando lá chego, já o couro da pega me fez uma marca vermelha na mão.
Estou quase a chegar a casa. Dobro esta esquina, ando mais um pouco, e vejo a nossa casa amarela pintada de fresco. Mas, o que é isso de nossa casa? É a casa onde nós e muitas outras famílias moramos…
Começo sempre por ver se a minha mãe está atrás de alguma janela. Às vezes, imagino que ela está lá, à espera de me ver chegar. Mas hoje também não está. Antes, quando eu andava na primeira classe, a minha mãe ficava muitas vezes lá em cima e acenava-me quando me via. Eu fazia então o último troço a correr. Se calhar, a minha mãe está na cozinha a preparar o almoço. Se calhar não soa a certeza, e eu tenho a certeza de que ela está na cozinha. É sempre assim!
Tenho de lhe contar sem falta que hoje me aconteceu uma coisa maluca na escola. Desde a primeira hora da manhã que fiquei sentado ao lado de um novo colega chamado Roberto. Sinto-me tão contente! É o colega da turma de quem eu mais gosto. E hoje perguntou se podia sentar-se ao meu lado!
Será que a minha mãe já esvaziou a caixa do correio? Sim, já esteve no átrio e levou o correio. A caixa está vazia, já não há nenhum jornal, nada. Esqueci-me completamente de trocar a pasta de mão. Agora também já não troco, embora já me comece a arder. De certeza que ainda aguento os poucos degraus. São vinte até à nossa porta. De certa maneira, até estou contente por ter calos na palma da mão por carregar com a pasta. Quando lhes pico um bocadinho com uma agulha, não sinto nada.
Começo por ver a porta dos nossos vizinhos; chamam-se Bambinek. Quando leio o nome, dá-me sempre vontade de rir, não sei bem porquê. Pronto… e agora já posso tocar à campainha. A minha mãe está em casa, como sempre. Atravessa o vestíbulo, não tarda a abrir a porta.
— B’dia — diz, e mais nada.
Pergunta quase sempre:
— Então, o que é que houve? Como foi a escola?
E eu conto o que se passou na escola e pergunto:
— O que é o almoço?
Quando tenho sorte, responde:
— Esparguete com molho de carne.
Mas hoje só diz:
— B’dia.
Vira-me logo as costas e vai para a cozinha. Mas eu quero contar-lhe o que me aconteceu na escola!
Quando vou à cozinha, torno a ver-lhe só as costas. O que se passa com ela? Pouso a minha pasta à entrada. Bolas, a mão dói-me bastante! Tenho mesmo de perguntar se posso ao menos deixar o atlas na escola. Entretanto, a minha mãe inclina-se sobre o fogão, e logo a seguir sobre a mesa, para cortar cebolas. Faz aquilo rapidíssimo. Agora corta batatas, deita sal na água. Nem precisa de dizer: “O almoço é daqui a dez minutos.” As costas dela dizem-mo. E é-me relativamente indiferente se o almoço está pronto em dez ou vinte minutos.
É pena que a minha mãe não tenha mais calma! Mas deve pensar que morro, se a comida não estiver em cima da mesa daqui a pouco. À noite, quando cozinha para o meu pai, faz exactamente o mesmo. É sempre muito pontual.
— Hoje aconteceu uma coisa na escola — conto, e quero continuar a falar. Mas como ela quer ter a comida pronta em dez minutos – agora são só nove – não me ouve. Só diz:
— Faz-me um favor, põe a mesa. — E de seguida: — O almoço é daqui a dez minutos.
Isso já eu sei. Em seguida ponho a mesa. Vou à sala, tiro os pratos do armário, os de domingo, porque hoje me apetece pôr. A minha mãe deve ter queimado os dedos na panela de pressão. Está a praguejar e bem. Pouso os talheres e corro para a cozinha.
— Panela estúpida — diz.
— Na escola estou sentado ao lado… — mas já vi que foi o momento errado para começar. Odedo continua a doer-lhe. Põe-no debaixo de água a correr.
— Já puseste a mesa? — pergunta.
— Hum — murmuro, e desapareço novamente para a sala.
Ela vem logo atrás de mim a gritar:
— Quantas vezes tenho de te dizer para não deixares as coisas da escola na entrada? Já não to disse umas cem vezes? Pendura-as no cabide. Com mil macacos!
Aprendeu esta expressão com o meu pai. Hoje é a primeira vez que a ouço dizê-la. Dito por ela, soa esquisito. Não consigo evitar e rio à socapa. Por sorte, o Carlos, o meu irmão mais novo, começa a chorar. A mãe olha-me horrorizada, como se se tivesse esquecido de uma coisa muito importante. Corre para o quarto do bebé. Não, não corre, lança-se para o quarto do bebé.
— Queres que leve alguma coisa? — pergunto.
Fui outra vez à cozinha de propósito para lhe falar do meu novo colega de carteira. Ainda estou contentíssimo.
— Sim — responde — leva os suportes para a sala.
— Olha, queria contar-te que hoje tenho um novo colega de…
— Depois! — diz ela. — Por favor, agora deixa, as batatas estão prontas. Se queres fazer-‑me um favor, leva o balde do lixo lá para baixo. O almoço é daqui a cinco minutos. Despacha-‑te e depois lava as mãos.
Pego no balde e desço. Deixo que a porta bata o mais alto possível, embora ela se irrite com isso. Não vou despachar-me, nem um pouco. Gostava de ficar fora pelo menos uma hora. Só estou contente por não ser sempre assim em minha casa. E uma coisa é certa: hoje já não lhe conto que tenho um novo colega de carteira. Já perdi a vontade.
Achim Bröger
Michael Ende; Irmela Brender (org.)
Bei uns zu Hause und anderswo
Stuttgart, K. Thienemanns Verlag, 1976
(Tradução e adaptação)
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

sábado, 7 de maio de 2011

Leitor do Mês - Abril11

Leitor do Mês - Março11

Livro do Mês - Maio 2011 - "Leandro, Rei da Helíria" (Alice Vieira)

O barco do avô

  
Conto Popular

Marisa vivia com amãe e o avô numa casita com vista para o mar.
O avô era pescador e navegava no seu barquito, que tinha uma vela castanha, pelas águas do porto.
Umas vezes, o avô pescava perto da costa e Marisa gostava de ver o barquito serpentear por entre as rochas e as enseadas da baía. Noutras, partia ao cair da noite e então Marisa ficava a ver o barco embrenhar-se no vermelho dourado do crepúsculo. A seguir ia para a cama, satisfeita por saber que, quando o Sol despertasse por detrás dos montes, veria a vela castanha regressar à luz ténue da aurora.
Quando isso acontecia, Marisa e a mãe desciam até à ponta do molhe para se despedirem dele com grandes acenos, e o barco, levado pelo movimento da maré, mergulhava na neblina do horizonte, parecendo afundar-se naquela imensidão de onde apenas emergia a ponta do seu mastro.
Depois, quando o próprio mastro desaparecia, Maria e a mãe ficavam completamente sós.
— Ele vai voltar — prometia-lhe sempre a mãe. Por vezes, Marisa até sabia em que maré ele iria regressar, e nessas alturas corria para o cimo do monte que ficava por detrás da casa e não tirava os olhos do mar até a ponta do mastro surgir no horizonte.
— Vem aí o avô, vem aí o avô! — gritava entusiasmada.
Então, ela e a mãe corriam para a ponta do molhe para acenarem para o barco cuja vela castanha se agitava cada vez mais perto até que, por fim, tornavam a ver a cara sorridente do avô.
Também havia alturas em que os dias passavam sem ele voltar, o que deixava a mãe de Marisa muito preocupada:
— Estamos na época das tempestades — explicava então Marisa — e o avô pode ainda demorar sabe-se lá quanto tempo.
No entanto, continuava à espera de o ver regressar.
— Se a viagem foi perigosa, o avô ainda estará mais ansioso por nos ver — dizia.
Marisa aprendeu a reconhecer quando a maré estava alta, pois era a altura mais propícia para o barco entrar no porto. Era então que ia à procura dele.
Chegava a passar uma semana à espera ou mesmo duas... mas acontecia sempre o mastro aparecer e o avô voltar.
— Às vezes desejo que o avô não saia para o mar para não nos deixar sozinhas — disse-lhe Marisa após uma viagem que tinha durado vários dias.
          — Vou fazer-te a vontade — suspirou o velho. — Já não sou tão forte como era dantes e por isso não me atrevo a ir para tão longe como costumava. A partir de agora não me afastarei muito... ando de cá para lá e de lá para cá durante o dia, enquanto a maré me ajudar.
De início, Marisa ficou satisfeita porque assim tinha mais tempo para estar com o avô. Porém, começou a reparar que, de dia para dia, ele estava cada vez mais frágil e debilitado, e quase já não saía de casa.
— O avô já não vai para o mar? — perguntou Marisa ansiosamente.
— O único barco em que eu agora irei navegar é o que me levará para o outro mundo — respondeu o avô a sorrir.
Marisa suplicou-lhe:
— Não vá! Nunca vá para lá! — disse-lhe a chorar.
— Essa é a viagem para que eu sempre vivi — retorquiu-lhe serenamente o avô. — Explorei tudo o que me apeteceu neste mundo e agora anseio por descobrir o outro.
Pouco tempo depois o avô de Marisa morreu. O sino da igreja da vila repicou solenemente quando o enterraram no cemitério que dava para o mar.
— Adeus, avô — sussurrou Marisa à terra escura.
A seguir correu sozinha para a ponta do molhe.
— Adeus, avô — gritou à maré que baixava rapidamente. — Adeus, adeus.
As águas foram-se afastando da costa e ela permaneceu à espera, tanto tempo quanto o barco do avô costumava levar até desaparecer no horizonte longínquo. Entretanto, chegou a mãe que se sentou a seu lado.
— Já não o podemos ver — disse tristemente a mãe. — Mas creio que numa costa distante, numa outra terra, haverá alguém que o estará a ver chegar.


Lois Rock (org.)
Contos e Lendas da tradição cristã
Lisboa, Editorial Verbo, 2006
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

terça-feira, 3 de maio de 2011

Carros estacionados ao sol. O perigo que corremos

Um carro estacionado à sombra, durante um dia, com as janelas fechadas pode conter cerca de 400 a 800 mg de benzeno. Se está ao sol a uma temperatura superior a 16ºC, o nível de benzeno subirá para 2000 a 4000 mg, 40 vezes superior ao nível aceitável...
A pessoa que entra no carro mantendo as janelas fechadas, inevitavelmente, aspirará em rápida sucessão, excessivas quantidades desta toxina.
O benzeno é uma toxina que afecta o rim e o fígado. O pior é que é extremamente difícil para o organismo expulsar esta substancia tóxica.

Ar condicionado ou ar simples dos automóveis
O manual do automóvel indica que antes de ligar o ar condicionado, se deve primeiramente abrir as janelas e deixá-las assim por dois minutos, porém não especificam "o porquê", apenas deixam entender que é para um "melhor funcionamento".
Eis a razão médica: de acordo com um estudo realizado, o ar refrescante antes de sair frio, manda todo o ar quente do circuito de plástico, o qual liberta benzeno, que causa cancro (leva algum tempo para se aperceber do odor do plástico quente no carro). Por isso a importância de manter os vidros abertos uns minutos.

Não ligue o ar condicionado ou simplesmente o ar, logo que entra no carro.
Se possível, abra as janelas e só depois de algum tempo, ligue o ar e mantenha as janelas abertas durante uns minutos.
Além de causar cancro, o benzeno envenena os ossos, causa anemia e reduz a produção de glóbulos brancos no sangue.
Uma exposição prolongada pode causar leucemia, aumentando o risco de cancro.
Também pode causar aborto. O nível de benzeno permitido em locais fechados é de 50 mg/929 cm2.

Assim, antes de entrarem no carro, abram as janelas e a porta para assim dar tempo a que o ar interior saia e se renove e disperse esta toxina mortal.