terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O Cego e o Filhote de Lobo

Semana da Leitura 2007/2008

Litania para o Natal de 1967


Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para nos pedir contas do nosso tempo

David Mourão-Ferreira
Lira de Bolso, 1969


domingo, 24 de fevereiro de 2008

Semana da Leitura 2007/2008 - Plano Nacional de Leitura

Semana da Leitura 2007/2008 - Plano Nacional de Leitura

Semana da Leitura 2007/2008

Semana da Leitura 2007/2008

Ele há coisas assim...

O certo não está errado. É o errado que não está certo.

Concurso de Poesia 2007/2008

A propósito de Livros…



Reflectindo sobre a Semana da Leitura e na importância de envolver os jovens nesta actividade tão nobre e enriquecedora, permito-me transcrever aqui um excerto do romance "A Sombra do Vento", do espanhol Carlos Ruiz Zafón:

“- Este lugar é um mistério Daniel, um santuário. Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte. Mesmo os livros que se perderam no tempo, os que já ninguém se lembra, vivem para sempre, esperando chegar um dia às mãos de um novo leitor, um novo espírito.
Daniel sentiu-se triste ao recolocar o livro na estante do "Cemitério dos Livros Esquecidos". Tinha descoberto todo um universo, num só livro, e dezenas de milhares ainda ficariam inexplorados, páginas abandonadas como se fossem almas sem dono, enquanto o mundo lá fora estava a perder todas estas memórias.”



Boas leituras!
O.M.H.P.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Semana da Leitura 2007/2008

Ofir Renato Chagas

Ofir Renato Chagas, nasceu em 21 de Outubro de 1935, na cidade de Tavira, onde aprendeu as primeiras letras na Escola Primária do Palácio da Galeria. Por motivos familiares e económicos, só iniciou o estudo secundário quando adulto, completando o 1º ciclo liceal. Depois e quando da criação do ensino nocturno da Escola Técnica de Tavira, matriculou-se e completou o Curso de Electromecânica, com a particularidade de ter sido o primeiro e único aluno da primeira turma a fazê-lo.
Entrou em 1953 para a função pública, no antigo Posto Agrário de Tavira e depois estação Agrária da XV Região Agrícola, como funcionário administrativo. Em 1972 ingressou no Quadro do Serviço Nacional de Emprego, como Técnico de Emprego, vindo a aposentar-se em 1997, como Chefe de Serviços do Instituto de Emprego e Formação Profissional, no Centro de Emprego de Vila Real de Santo António.
Apesar de ter completado uma formação tecnológica, foram as letras que o motivaram. Cedo iniciou a colaboração assídua na imprensa regional, nomeadamente no “Povo Algarvio” e no “Jornal do Algarve”. Apaixonado pelo jornalismo, em 1973 criou com Luís Horta o jornal “O Tavira” e depois o “Lestalgarve”, sendo Director destes dois jornais durante a sua publicação. Simultaneamente interessou-se pela pesquisa histórica da cidade de Tavira, reunindo ao longo dos anos um vasto acervo, que foi arquivando e que veio a dar lugar ao trabalho Tavira – Memórias de Uma Cidade. Publicou antes outros trabalhos, nomeadamente “Algarve e Andaluzia no Itinerário de D.Paio Peres Correia” (1995), “Remexido Guerrilheiro Realista do Algarve” (1997), Tavira a Sorrir (1999), "Frei Gil de Tavira" (2006) e foi co-autor do livro “Espaço de Tavira”, uma colectânea de crónicas citadinas, publicadas semanalmente no “Jornal do Algarve”, em colaboração com Sebastião Leiria e Luís Horta.

O autor visita a Biblioteca e Centro de Recursos da nossa escola durante a Semana da Leitura, que decorrerá nos dias 3, 4, 5, 6 e 7 de Março (consultar programa definitivo).

O Filhote de Cervo e a sua Mãe


Recebemos visitas...

Recebemos cá na nossa Biblioteca a visita da Coordenadora da Rede de Bibliotecas Escolares, Dra Teresa Calçada e da sua equipa.
Ficaram muito agradados com o que viram e deixaram algumas indicações para melhorarmos ainda mais a nossa biblioteca.
É verdade, também visitaram o nosso blog. Gostaram e elogiaram muito o excelente trabalho desenvolvido em equipa.
Um aval desta natureza deixa-nos ainda com mais vontade de continuar a fazer mais e melhor, embora esta opinião possa não ser a de todos os que nos visitam.
No final da visita, fomos todos brindados com o excelente trabalho que a turma dos CEF vem desenvolvendo nas várias actividades do género, na nossa escola, orientados pela professora Margarida Rodrigues, um delicioso cocktail de sabores. Parabéns!

Bolo Rei



Todos os anos, quando os velhos Reis Magos acabam de atravessar pequena estrada de areia que se esboça entre caminhos de musgo e lagos feitos de bocados de espelho partido; quando a estrela de prata que se suspende entre os dois exemplares de "A Paleta e o Mundo" de Mário Dionísio se recolhe para regressar à velha caixa de papelão, com trinta anos de viagens, cheia de bocados de jornal amachucados que ainda guardam notícias de dias que já foram e onde se embrulham os cordeirinhos, os pastores, as oferendas várias que o Menino Jesus recebeu, apesar de já lhe faltar a mãozinha direita que alguém partiu em excesso de limpeza; todos os anos, dizia, recordo a história que o Fernando Midões me contou, certa tarde em que misturámos poemas com lágrimas.
De calças à golfe, lacinho à Baptista Bastos, fato de ver a Deus e celebrar o Dia de Reis, Fernando foi com a mãe jantar a casa das senhoras, gente de talher de prata, criadas de avental branco e crista engomada, cheias de silêncios e reverências.
Com olhos de amora madura, esse sorriso que ainda hoje conserva, sempre molhado de uma melancolia que tem de adivinhar-se mais do que ver-se, Fernando entrou na sala de jantar das anfitriãs, cujas portas só o espírito natalício abria, raros que eram os gestos de caridade e partilha. Assim se explicava a presença do rapazinho e sua mãe, viúva recente e que ali trabalhava de manhã à noite, para que a vida se assemelhasse ao que já fora.
Servidos os manjares da época: a canja onde as bolhas de gordura lembravam pequenos sóis fumegantes, o leitão de maçã vermelha na boca que olhava Fernando em gritos de sufoco que só ele, poeta em germinação, conseguia ouvir; os fritos vários que nas travessas exibiam a abastança, chegou finalmente e foi colocado em lugar de honra, no centro da mesa, ladeado por dois castiçais onde as velas vermelhas ardiam, o bolo-rei, roda magnífica de cores, frutas, pinhões, bocados de açúcar que lembravam neve e cujo esplendor ofuscava o dourado das filhós, os reflexos das garrafas de licor, o brilho dos copos de cristal.
Fernando, pequenino, queixo tocando a toalha de renda, olhava aqueles mistérios de cor e perfume e falava, falava, dizia coisas tão a propósito que as senhoras, enlevadas, não se cansavam de sorrir e felicitar a mãe que tal filho tinha. Então, a mais velha, cabeção de renda e camafeu de marfim a fechar as golas, pega na faca de prata e com solenidade, meticulosamente, parte o bolo. A criada ajuda à distribuição nos pratinhos de sobremesa.
— Agora, não se esqueçam: aquele ou aquela a quem calhar a fava terá de pagar o bolo-rei no ano que vem!
E entre comentários de enlevo, gula, elogios à tessitura e ponto ideal do levedo da massa, à abundância das frutas, à maciez e agrado do paladar, se comeu a sobremesa.
A prenda calhou à criada.
— Que sorte! Mostre lá!
— Olhe que medalha tão bonita! Parece uma libra de verdade. Até pode usar no fio que ninguém diz que não é autêntica.
— E tu, Fernandinho, não acabas de comer a tua fatia de bolo?
— Come que está bom e fofinho!

Fernando, subitamente silencioso, abanava a cabeça em negativas.
— Então, filho! Não sabes falar? Responde às senhoras: queres mais um bocadinho de bolo?
— Ao menos acaba esse!
— Está cansado, coitadinho! Deixe-o lá.
Fernando baixava a cabeça, cabelos lisos na testa. A noite ia adiantada. A Miguel Bombarda, onde moravam, ainda ficava longe. Sim, minha senhora, amanhã às oito cá estarei, se Deus quiser, para cortar o vestido novo e pôr em prova a saia do "tailleur". Foi uma noite muito bonita. Muito obrigada! Fernando dá um beijo às senhoras e agradece. Diz obrigado, Fernando!
Fernando deu o beijo às senhoras, esticou a cara, pôs-se em bicos dos pés, encheu os olhos de gratidão.
— Diz obrigado, filho! Mas o que te aconteceu?
— Deixe-o lá, coitadinho, perdeu a língua. É o sono, não é?
Descem o elevador, abrem a porta da rua. A mãe, agastada, ralha:
— Mas que vergonha! Umas senhoras tão boas, recebem-nos como família, estavas a portar-te tão bem e agora isto, nem uma palavra de agradecimento, nem boa noite, é esta a educação que te tenho dado? Se o teu pai fosse vivo…
Então, já na rua, o frio de Janeiro a gelar-lhe as mãos e o nariz, a névoa a transfigurar a rua e as pessoas, Fernando, finalmente, abre a boca e lá do fundo deixa voar o mistério da sua inesperada mudez:
— É que me calhou a fava, mãezinha. Eu sei que tu não tens dinheiro para, no ano que vem, comprares um bolo-rei igual àquele.
E, na palma da mão pequenina, cuspiu a fava que ali nascia, quente ainda, do esconderijo em que estivera.
E ainda hoje, nas horas mais dolorosas, quando se esquece de mastigar a comida que arrefece no tabuleiro da cantina e prefere viajar no país da infância, Fernando Midões, meu irmão mais antigo, sente a ternura solidária do abraço e o húmido das lágrimas com que a mãe o aconchegou junto de si.
Sem palavras, mãe.
Sem palavras.

Maria Rosa Colaço
Viagem com Homem dentro (adaptação)
Leiria, Editorial Diferença, 1998

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Capítulo I – Apresentação do grupo



Aventuras e desventuras em Tavira…



Outrora uma cidade piscatória, Tavira é hoje em dia, como a maior parte das povoações do litoral algarvio, uma terra dedicada essencialmente ao turismo.
É frequente ao longo do ano depararmo-nos com uma enorme multiplicidade de turistas vindos das mais variadas partes do continente.
As histórias que vos irei contar têm como cenário precisamente a cidade de Tavira…
O herói das nossas histórias chama-se Filipe, um puto de 13 anos que gosta mesmo muito de aventuras. Destemido, corajoso, divertido e muito simpático, Filipe tinha a propensão para se ver envolvido nas mais “loucas” aventuras.
Filipe tem um grupo de amigos com o qual costuma brincar. Trata-se de um grupo muito unido. Nestas idades ainda não há o hábito das saídas nocturnas e das discotecas. As “brincadeiras” nestas idades são diferentes… mais infantis.
No grupo do Filipe, havia mais dois miúdos e duas raparigas. Carlos, “El Gordito”, que adorava comer, principalmente bolos… bem, não era só bolos que ele devorava… devorava mesmo tudo! Rafael, o “Trinca Espinhas”, que era muito pequenino e magrinho. Havia também as duas raparigas, mais ajuizadas, mas também bem divertidas. A Raquel, a “Miss Escola”, que era linda e deixava todos os miúdos de boca aberta, e a Rita, um pouco menos “Miss”. Usava daqueles óculos que mais parecem um fundo de garrafa, uma vez que sofria de miopia. Para além disso usava um aparelho nos dentes que lhe davam um ar estranho… robótico até… não é que eu tenha alguma coisa contra os aparelhos deste tipo, mas aquele aparelho, naquela rapariga dava-lhe mesmo um ar… estranho (no mínimo).
Apesar das diferenças, não só físicas, mas também de personalidade, o grupo dava-se todo muito bem. Viviam todos em Tavira e muito perto uns dos outros, o que permitia um convívio bem intenso entre eles. Para além disso pertenciam todos à mesma turma.
Assim a afinidade e cumplicidade entre eles era mesmo muito grande. Também era raro entrarem em conflito, ou melhor, quando entravam rapidamente faziam as pazes.
Filipe era o líder natural deste grupo. Devido à sua maneira de ser conseguia a unanimidade do grupo sem ter de se impor pela força.


As aventuras virão depois... nos próximos números.
Xaux