sexta-feira, 18 de junho de 2010

Boas Férias!

A Equipa da Biblioteca e Centro de Recursos do Agrupamento de Escolas Dom Paio Peres Correia deseja a toda a comunidade escolar e seus familiares, a todas as BECRE's e a todos os utilizadores e colaboradores deste blogue, umas Boas Férias Grandes, e para o ano há mais.

Não dão Playstations nem computadores às crianças e depois... dá nisto!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Da erva à árvore

Eram dunas e dunas, a perder de vista. Montes de areia para o vento brincar...
Hoje, fazia uma duna maior aqui, amanhã apagava-a, para fazê-la mais além e, sempre segundo os seus caprichos, onde estavam montes, cavava vales, onde estavam vales, amoldava montes. O vento era uma vassoura enorme.
Cabeleiras dóceis de ervinhas rasteiras deixavam-se pentear, despentear, ao sabor do vento gigante. Ele é que mandava.
Uma delas, à beira de um tojo só picos, cresceu.
Delgadinha que era arriscou-se à vida. Rompera a areia e apontava para cima. Ela lá sabia.
De dentes a ranger, o vento passou. Partiu-se o tronquinho? Não se partiu. Fincava as raízes, segurava-se com toda a força e, quando o vento descia, inclinava-se à vontade dele. Tinha de ser assim.
Lá se foi aguentando. O vento, a princípio, nem dava por ela. Era uma erva como as outras. Senhor daquelas dunas, o que ele queria era disciplina, ordem, submissão. A erva, que erva afinal não era, submetia-se. Óptimo.
Foi crescendo e o vento sem dar por ela. Era um tronco já, uma arvorezinha de Natal para casa de bonecas. Outras ervinhas como, dantes, ela tinha sido, despontavam também, na mesma duna.
Ali havia uma pequena nação de pinheiros novos. A ordem era: persistir. Por enquanto, persistir. Resistir, seria para depois. E foram vingando.
Quando o vento deu por eles, teve uma grande cólera e soprou, dias a fio, sobre a duna, donde nascia, miudamente, frágil ainda, um sinal de rebeldia ao seu poder. Nada conseguiu. Os pinheiros sabiam que eram pinheiros.
Tinham raça e coragem para fazer frente ao vento.
Uns e outros, os maiores e os mais pequenos, começaram a olhar para a  sombra.
Alastravam para outras dunas. Guerreiros chamavam por outros guerreiros e desafiavam o vento. "Nada podes contra nós", gritavam-lhe.
O maior, o chefe, o mais velho, que da erva se fez tronco, do tronco se fez árvore, comandava a defesa e dizia aos mais novos, nas alturas em que o vento lhes fazia ranger os ramos: "Aguentem, que já passámos por pior".
Eles aguentavam.
E foi assim que o vento, o gigante caprichoso que dantes arrasava dunas, teve de deixar de fazer castelos na areia.
António Torrado
Adaptação
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A lição da paciência


Um mandarim que se preparava para desempenhar um importante cargo oficial recebeu a visita de um amigo que lhe foi apresentar as despedidas.
Abraçaram-se e o amigo recomendou-lhe:
— Acima de tudo, no desempenho das tuas importantes funções, nunca percas a paciência.
Prometeu o mandarim que nunca esqueceria este precioso conselho.
Três vezes repetiu o amigo a mesma recomendação, provocando o enfado do mandarim. Quando se preparava para o fazer pela quarta vez, o mandarim exaltou-se e gritou:
— Basta, eu não sou surdo e muito menos sou um imbecil!
Então o amigo, acalmando-o com a mão posta sobre o seu ombro, fez este comentário:
— Podes assim ver como é importante ser paciente. Três vezes ouviste o meu conselho, já não conseguindo dissimular o enfado. À quarta vez não conseguiste controlar a fúria. O que acontecerá quando, no desempenho do teu cargo, tiveres de ser verdadeiramente paciente?
O amigo baixou os olhos para o chão e limitou-se a suspirar.
J. J. Letria
Contos da China antiga
Porto, Ambar, 2002
 A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Excluídas e Invisíveis

Não tem escolha


A ele não valia a pena perguntarem-lhe o que queria ser quando fosse grande. A resposta, quisesse ele ou não quisesse, só podia ser uma:
— Rei.
Tinha de ser. Pois se ele era príncipe, filho único de um senhor rei, que outra coisa, profissão ou destino podia caber nos seus projectos de futuro?
Pensando nisto, o príncipe, que não tinha vontade nenhuma de ocupar o trono dos seus antepassados, entristecia.
Uma vez, ouvira o jardineiro dos jardins reais queixar-se:
— O meu filho, que eu gostava tanto que fosse jardineiro como eu, diz que não tem vocação para a jardinagem.
Se ele dissesse o mesmo (isto é, o equivalente!), o que é que aconteceria?
Encheu-se de coragem e disse.
O rei, que era um homem compreensivo, respondeu-lhe:
— Meu filho, eu, quando tinha a tua idade, queria ser arquitecto, mas o teu avô deixou-‑me esta obrigação, o que havia eu de fazer?
Por sinal que era um rei muito dado a construções. Se queriam vê-lo feliz, mostrassem-‑lhe projectos de obras públicas, hospitais, escolas, novas cidades. O rei ficava encantado, dava opiniões, discutia com os arquitectos e os engenheiros como se fosse um deles.
— Se não tivesses de ser rei, o que é que gostarias de ser, quando fosses crescido? — perguntou o rei ao príncipe.
— Gostava de ser veterinário — respondeu o príncipe.
— Não vai ser fácil. Um rei veterinário não é muito comum. Há casos de reis-soldados, de reis-marinheiros, de reis-músicos, mas de reis-veterinários não tenho ideia. No entanto, vou pensar no assunto.
Era um bom pai e um bom rei. Em segredo, começou a projectar um grande jardim zoológico. Desenhou tudo muito bem desenhado, como se fosse um arquitecto.
Quando tinha a obra toda projectada, estendeu os rolos dos projectos diante dos olhos do filho e disse-lhe:
— Ficam ao teu cuidado, para que tu construas o jardim, quando fores rei.
— Mas o pai podia mandar construir agora — disse o príncipe.
— Quero que fique à tua responsabilidade. Quando eu morrer, deixo-te o reino e estes projectos, para que te ocupes deles.
Assim sucedeu. O príncipe tornou-se rei. Não tinha alternativa. Uma vez coroado, dedicou-se com entusiasmo aos trabalhos de governação. Mas com mais entusiasmo se dedicou a levantar o jardim zoológico, que, uma vez pronto, maravilhou o mundo.
Ao jardim deu o nome do senhor rei seu pai, que tinha querido ser arquitecto.

António Torrado
Adaptação


A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

Tudo depende da posição


Fazê-lo parado fortalece a coluna,

de barriga para baixo estimula a circulação do sangue,

de barriga para cima é mais agradável,

fazê-lo sozinho é enriquecedor, mas egoísta,

em grupo pode ser divertido,

no w.c. é muito digestivo,

no automóvel pode ser perigoso...

Fazê-lo com frequência

desenvolve a imaginação,

a dois, enriquece o conhecimento,

de joelhos, torna-se doloroso...

Enfim, sobre a mesa ou sobre ao secretária,

antes de comer ou à sobremesa,

sobre a  cama ou numa rede,

despidos  ou vestidos,

na relva ou sobre o tapete,

com música ou em silêncio,

entre lençóis ou no roupeiro:

Fazê-lo é sempre um acto de amor e de enriquecimento

Não importa a idade, nem a raça, nem o credo, nem o sexo, nem a
posição económica...


Ler é um prazer!

Leitor do Mês - Maio10