sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Comunidade Criativa ASA

 

D. Paio Peres Correia (c.1205-1275)


D. Paio Peres Correia, em Espanha conhecido por Pelayo Pérez Correa (século XIII) foi Mestre da Ordem de Santiago, tendo conduzido uma campanha militar contra os mouros no Algarve, que culminou com a tomada de Silves e foi determinante para a conquista definitiva daquela região em 1249.
Biografia
D. Paio Peres Correia terá nascido no ano de 1205, em Monte de Fralães (Barcelos), onde ficava a tradicional casa desta nobre família. As Inquirições assinalam a presença dos seus irmãos, de uma irmã e de outros parentes em freguesias da vizinhança.
No reinado de D. Sancho II, encontramo-lo em Alcácer do Sal; a partir de 1228 vai ter como primeiro palco da sua acção o Alentejo, conquistando Aljustrel, Alvalade, Juromenha, Beja e Mértola, descendo depois até ao Algarve, conquistando Alcoutim, Vaqueiros, Ayamonte, Cacela e Tavira. De acordo ocm a Crónica da Conquista do Algarve, Tavira foi conquistada aos mouros, em Junho de 1239, por Dom Paio Peres Correia, como represália pela morte de sete dos seus cavaleiros.
Em 1242, torna-se, em Mérida, o 17º Grão-Mestre da Cavalaria de S. Tiago e passou então a estar ao serviço de Fernando III de Leão e Castela e de seu filho, o futuro Afonso X de Leão e Castela, vivendo naturalmente no reino de Castela.
Terá passado algum tempo no Seixal, onde fundou a aldeia com o seu nome: Aldeia de Paio Pires.
Alguns anos adiante, voltou ao Algarve, no reinado de D. Afonso III de Portugal, e trouxe para a posse cristã a parte restante do Algarve. Um dos pontos altos da sua acção militar aconteceu na tomada de Sevilha, onde teve uma acção de grande relevo, como a testemunha, por exemplo, a Crónica Geral de Espanha de 1344.
Falecido em 1275 em Talavera de la Reina, os seus restos mortais foram levados no século XVI para Tentudia. É improvável que alguma vez tenham sido trasladados para Tavira, para a Igreja de Santa Maria do Castelo.
Referências a Paio Peres
A Crónica Geral de Espanha de 1344 narra o conselho em que Fernando III decide a estratégia a adoptar para submeter a cidade de Sevilha - e que foi a que Paio Peres Correia defendeu:
"E a esto cada huu dava sua divisa, segundo seu entender. Mas o meestre dom Paae Correa e outros boos cavaleiros e muy sabedores de guerra disseron a el rey que fosse cercar Sevilha e que, se a cobrasse, que per ella cobrarya todo o al e que seria mais sen trabalho e con mais pequena custa e sem muyta lazeira d’alguus. Mas esto contradisseron outros, dizendo que Sevilha era logar grande e muy pobrado e que non seria muy ligeiro de cercar mas pero se el rey tal cousa quisesse cometer, que primeiro compria correr e estragar a terra per alguas vezes e, depois que a bem quebrantada tevessem e os mouros bem apremados, que entõ seria bem de a hir cercar. Mas o meestre dõ Paae Correa e os outros que primeiro conselharon o cerco de Sevilha disserõ a el rey que o tempo que posesse em corrimentos e fazer cavalgadas e cercar outros pequenos logares que melhor era de o poer sobre Sevilha e que, tomandoa, cobrava todo o al e que, por esta razon, melhor era de acabar todo per huu afam e per huu tempo que por muytos. E demais que poderia seer, se lhes dessem tal vagar, que elles se avisariã de guisa que seria depois muy forte cousa de começar e que por esto melhor seria de começar esto cedo que tarde. E, ditas estas palavras e outras muytas, acordousse el rey con todolos outros en este cõselho."
E agora este passo, que fala das façanhas de Paio Peres Correia e dos seus homens:
"(...) o meestre dom Paae Correa e os outros ricos homees que com el estavon da outra parte do ryo, segundo ja ouvistes, cavalgarom sobre Golles e cõbaterõna e entrarõna per força e mataron todollos mouros que dentro acharom e levarõ muy grande algo que hy acharom. E, em se tornando per Tyriana, sayiu a elles gram cavalarya de mouros e muitos peõoes com elles e ouverõ com elles gram batalha. E foron os mouros vencidos e mortos muytos delles e os cristãaos tornarõsse muy hõrados pera seu arreal."
Uma enciclopédia espanhola refere-se a Paio Peres Correia nestes termos:
"Fantasías aparte, es innegable que su nombradía se asienta en una vida militar llena de gloriosos hechos, como lo demuestra el que se le confiase el mando de el ejército español en aquel período verdaderamente heroico de la Reconquista. Fue Gran Maestre de la Orden de Santiago y tanto los monarcas portugueses como los castellanos, se disputaran el honor de tenerle à su servicio."
Luís Vaz de Camões recorda-o em duas estrofes d'Os Lusíadas (canto VIII, estrofes 26-27), Almeida Garrett baseou a D. Branca nos seus feitos algarvios enquanto que Lope de Vega escreveu sobre ele em El Sol Parado. No Cancioneiro da Biblioteca Nacional existe uma cantiga que o critica.
Herança ao nível de arruamentos e localidades
D. Paio Peres Correia é lembrado na toponímia de várias cidades e vilas como: Lisboa, Setúbal, Silves, Tavira, Sevilha (bairro de Triana), Samora Correia, entre outras. Setúbal, por exemplo, recebeu foral em Março de 1249, concedido pela Ordem de Santiago, senhora desta região, e subscrito por D. Paio Peres Correia, Mestre da Ordem de Santiago, e por Gonçalo Peres, comendador de Mértola. A terra de Paio Pires (Seixal) deve-lhe também o seu nome, assim como Samora Correia (Santarém), havendo ainda uma rua e uma estátua em homenagem ao seu fundador.

Fonte e mais informação

Honrar a palavra

Iniciamos com este conto e durante seis semanas um ciclo dedicado ao valor da RETIDÃO

No negócio de mobílias usadas, não se pode comprar por catálogo, como se faz com as novas. As pessoas aparecem e o comerciante tem de ir às casas vê-las e fazer o seu preço. “Não se pode vender o que não se tem,” costumava dizer o meu pai. Por isso, estas visitas eram de extrema importância para ele.

Quando eu tinha 13 anos, o meu pai ficou sem o gerente da loja, um homem que, com o seu único braço, trabalhava muito mais do que muitas pessoas com os dois. Conseguia, por exemplo, suspender uma cadeira da ponta de uma vara, içá-la no ar e fazê-la deslizar até uns ganchos presos ao teto, bem à vista de todos quantos entravam na loja. Na falta do gerente, o meu pai veio pedir-me ajuda, pedindo-me que ficasse à frente do balcão enquanto ele procedia às visitas do dia, até se encontrar a pessoa certa. A loja tinha dezenas de milhar de objetos. “As pessoas gostam de regatear,” disse-me, “por isso não há preços marcados. Apenas tens de ter alguns pontos de referência.”

Levou-me a dar uma volta pela loja. “Podes vender um pequeno motor por quatro dólares. Por um frigorífico, dependendo do estado em que se encontrar, podes pedir entre trinta e cinco e sessenta dólares. Se tiver congelador, poderás ir até aos oitenta, vá lá, até aos cem dólares, caso esteja em ótimo estado. Se uma junta estiver solta, é para o lixo. Não ligues a riscos ou rachadelas. Os pratos vêm com a mobília e nem sequer os levo em consideração quando lhes atribuo o preço. Poderás vendê-los por um preço simpático, algures entre os cinco e os vinte e cinco cêntimos.”

Todos os dias depois da escola, voava na minha bicicleta até à loja. Um dia, estava eu a escrever o preço de um prato muito bonito numa tirinha de papel quando o meu pai entrou. Tinha pedido um dólar e o comprador não hesitou. Fiquei todo contente. O meu pai viu o que eu estava a fazer, virou-se para o cliente e disse, “Que bela pechincha leva aí! O meu empregado fez-‑lhe o preço e é esse o preço certo.” Mais tarde, perguntei ao meu pai, “Porque é que o pai disse aquilo?”

Tratava-se, pelos vistos, de um prato antigo que valia umas boas centenas de dólares. Fiquei descoroçoado. Tanto que me esforçava por dar o meu melhor. Pelos vistos, em vez de ajudar o meu pai, estava a fazê-lo perder dinheiro.

“Se quisesse, podia ter impedido o negócio,” disse ele. “Estavas a escrever o preço e ainda não tinhas pegado no dinheiro. Além disso, és menor de idade. Só que um judeu honra a sua palavra e a dos seus colaboradores.”

Este incidente haveria de ter uma consequência. Anos mais tarde, a minha mulher e eu tivemos de mandar uma grande quantia de dinheiro para a nossa filha em Israel. Um funcionário do banco aconselhou a minha mulher a enviar o dinheiro através de cheque visado, uma vez que, dessa forma, estaríamos isentos do pagamento de comissões. Quando recebi o extrato bancário, porém, reparei que nos tinha sido debitada uma série de taxas. Decidi, então, ir falar com a gerente do banco e explicar-lhe que um funcionário seu é que nos tinha aconselhado sobre a melhor forma de evitar despesas com o envio do dinheiro. Ouviu-me em silêncio e, no final, disse apenas, “Lamentamos o sucedido, mas acontece que o colega deu uma informação errada.”

Foi então que lhe contei a história do meu pai e de como ele fazia sua a palavra dos seus empregados, honrando-a. Terminei, dizendo, “Isto aconteceu sem que o cliente tivesse sido lesado e tendo o meu pai descoberto o erro antes de a transação ter sido efetuada. Imagine só como ele teria agido se tivesse havido danos! Espero que o meu banco atue no mínimo com a mesma integridade do meu pai.”

Durante todo o tempo em que falei, a gerente não proferiu palavra e assim continuou, enquanto eu aguardava a sua reação. Quando falou, a voz era suave. “O Banco de Comércio Imperial do Canadá não ficará aquém do seu pai,” disse, com toda a dignidade. Prometeu, então, a anulação de todas as taxas indevidamente cobradas.

Enquanto lhe agradecia e me preparava para ir embora, senti-me grato por uma história de integridade ainda ter o poder, nos tempos que correm, de tocar os corações e acordar consciências no mundo impessoal dos negócios.

Rabbi Roy D. Tanenbaum
Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Rabbi Dov Peretz Elkins
Chicken Soup for the Jewish Soul
HCIbooks, Deerfield Beach, 1999
(Tradução e adaptação)

Novidades na BECRE - fevereiro 2012 (2)

O filme de hoje é o famoso e oscarizado "Quem Quer Ser Bilionário?" (Slumdog Millionaire).

A história começa, quando está prestes a acabar. Jamal Malik (Dev Patel) está a uma pergunta para ganhar o famoso concurso "Quem Quer Ser Milionário?". Um feito, pois ele é considerado um vagabundo, e os ditos mais letrados, que foram ao concurso, não chegaram tão longe.

É assim que se desconfia que Jamal é uma fraude e a polícia "rapta-o" para um interrogatório em que ele vai ter de explicar como sabia as respostas, pois cada uma delas está, de alguma forma, ligada à sua vida.

Contar a sua vida, as suas aventuras, o relacionamento com o irmão Salim (Madhur Mittal) e a sua história de amor com Latika (Freida Pinto).



Dois Mundos, seis guerreiras, uma história de fantasia moderna repleta de aventura, sensualidade e humor.
Quem disse que as raparigas não conseguiam ser sensuais e fortes ao mesmo tempo?
Magia e Mundos Paralelos não existem...
Até ao dia em que somos transportados para Orbias
« Dei uma volta na cama. Ainda pensava em Sebastian. Era doentio estar atraída por ele. Era como se ele fosse um extraterrestre, nem era deste mundo! Mudei de posição de novo, mas ele não me saía da cabeça. Estava raivosa com Sebastian, já não o suportava, mesmo só o conhecendo há horas! Estava irritada por ele me ter lançado naquela situação como Guerreira. Estava irritada porque ele gozava comigo. Estava irritada porque ele me seduzia para divertimento dele. Estava irritada porque ele tinha feito com que estivesse completa e perdidamente... apaixonada por ele!»

Noemi é fã de cinema e séries de acção e aventura. Mas nunca imaginou que ela própria faria o papel de uma dessas personagens que de um momento para o outro vêem a sua via normal dar uma volta de 180 graus. De uma forma pouco ortodoxa, descobre que é um Anjo, uma Guerreira ancestral renascida e que, numa dimensão paralela à da Terra, existe um mundo mágico regido por uma Deusa: Orbias.

Mas Noemi não terá apenas de lidar com os seus novos poderes e responsabilidades. Terá também de se confrontar com perigos e emoções aos quais não estava habituada, especialmente um sentimento em relação a Sebastian, um orbiano sedutor... Conseguirá ela superar a sua fragilidade e conflitos interiores para salvar os dois mundos da destruição?

Orbias é uma aventura fantástica repleta de acção, sensualidade, personagens e cenários surreais, humor e magia. Uma obra essencial para quem gosta de uma história cheia de surpresas e fantasia moderna.






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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Carnaval


O Carnaval é uma festa que se originou na Grécia em meados dos anos 600 a 520 a.C.. Através dessa festa os gregos realizavam os seus cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção. Passou a ser uma comemoração adotada pela Igreja Católica em 590 d.C..

É um período de festas regidas pelo ano lunar no cristianismo da Idade Média. O período do carnaval era marcado pelo "adeus à carne" ou do latim "carne vale" dando origem ao termo "carnaval". Durante o período do carnaval havia uma grande concentração de festejos populares. Cada cidade brincava a seu modo, de acordo com os seus costumes. O carnaval moderno, feito de desfiles e fantasias, é produto da sociedade vitoriana do século XIX.

A cidade de Paris foi o principal modelo exportador da festa carnavalesca para o mundo. Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro se inspirariam no carnaval parisiense para implantar as suas novas festas carnavalescas. Já o Rio de Janeiro criou e exportou o estilo de fazer carnaval com desfiles de escolas de samba para outras cidades do mundo, como São Paulo, Tóquio e Helsinquia, capital da Finlândia.

O carnaval do Rio de Janeiro está no Guinness Book como o maior carnaval do mundo. Em 1995, o Guinness Book declarou o Galo da Madrugada, da cidade do Recife, como o maior bloco de carnaval do mundo.

História e origem
A festa carnavalesca surgiu a partir da implantação, no século XI, da Semana Santa pela Igreja Católica, antecedida por quarenta dias de jejum, a Quaresma. Esse longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas festividades nos dias que antecediam a Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma. A palavra "carnaval" está, desse modo, relacionada com a ideia de deleite dos prazeres da carne marcado pela expressão "carnis valles", que, acabou por formar a palavra "carnaval", sendo que "carnis" em latim significa carne e "valles" significa prazeres.

Em geral, o carnaval tem a duração de três dias, os dias que antecedem a Quarta-feira de Cinzas. Em contraste com a Quaresma, tempo de penitência e privação, estes dias são chamados "gordos", em especial a terça-feira (Terça-feira gorda, também conhecida pelo nome francês Mardi Gras). O termo mardi gras é sinónimo de Carnaval.

Cálculo do dia de Carnaval
Todos os feriados eclesiásticos são calculados em função da data da Páscoa, com exceção do Natal. Como o domingo de Páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira lua cheia que se verificar a partir do equinócio da primavera (no hemisfério norte) ou do equinócio do outono (no hemisfério sul), e a sexta-feira da Paixão é a que antecede o Domingo de Páscoa, então a terça-feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa.

Datas do Carnaval
O Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa, em fevereiro, geralmente, ou em março, conforme o Cálculo da Páscoa, e uma curiosidade: o Carnaval ocorre próximo ou no dia de Lua Nova.

O Carnaval Brasileiro
O Carnaval do Brasil dura três dias. Nesses dias é uma total diversão!
É uma festa que é preparada ao longo do ano e a maior parte das favelas gastam todo o dinheiro na sua preparação. O Carnaval, para os brasileiros, é uma festa em comunidade e em família.
O Carnaval Brasileiro destaca-se em várias partes do país, como no Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador… Nesta época estas cidades recebem escolas de samba pelas ruas, concertos musicais ao vivo, fogo-de-artifício e milhares de pessoas com muita diversão, animação e sobretudo alegria…

O Carnaval do Uruguai, considerado o mais longo do mundo pelos seus quase 40 dias de duração, o Carnaval do Uruguai começou nesta segunda-feira, 2 de Fevereiro, com um desfile pela avenida principal da capital Montevidéu. O início da festa estava previsto para o dia 29 de Fevereiro, mas teve de ser adiado devido às chuvas. As celebrações vão até à primeira semana de Março.
Milhares de uruguaios já estão a usufruir das festividades, uma vez que já se procedeu à inauguração dos palcos populares em diferentes bairros da capital uruguaia. A abertura da festa de luxo com um colorido desfile pela principal avenida de Montevidéu, conhecido popularmente como “corso”, em que participaram quase 50 agrupamentos, conjuntos, carroças alegóricas e as rainhas das festas de Momo desfilaram durante cinco horas.

Carnaval em Mazatlán
No México o carnaval é celebrado em algumas cidades principalmente em Mazatlán., Mérida e Península de Yucatán, no estado Veracruz.
O Carnaval é celebrado com músicas tradicionais e danças. As pessoas vestem trajes coloridos e com penas e fazem actuações nas ruas. Existem paradas em vários pontos do país e também se fazem jogos e “rodeos”. A coroação da rainha, os festivais de comida ao ar livre e as cinco noites de festa nas ruas ao som da música mexicana fazem parte da tradição. Imperdível é ainda a batalha naval com fogos de artifício, um espectáculo deslumbrante para quem assiste no porto, a saborear uma “Margarita”.
Por vezes este Carnaval é comparado ao do Rio de Janeiro ou de Nova Orleães.

Carnaval de Veneza, Itália
O carnaval da Antiguidade era marcado por grandes festas, onde se comia, bebia e participava em alegres celebrações e busca incessante dos prazeres. O Carnaval prolongava-se por sete dias nas ruas, praças e casas da Antiga Roma, de 17 a 23 de dezembro. Todas as actividades e negócios eram suspensos neste período, os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que em quisessem e as restrições morais eram relaxadas. As pessoas trocavam presentes, um rei era eleito por brincadeira e comandava o cortejo pelas ruas (Saturnalicius princeps) e as tradicionais fitas de lã que amarravam aos pés da estátua do deus Saturno eram retiradas, como se a cidade o convidasse para participar da folia.
No período do Renascimento as festas que aconteciam nos dias de carnaval incorporaram os bailes de máscaras, com as suas ricas fantasias e os carros alegóricos. Ao caráter de festa popular e desorganizada juntaram-se outros tipos de comemoração e progressivamente a festa foi tomando o formato atual.
O Carnaval de Veneza pode ser considerado o mais importante e famoso de toda a Europa. A sua origem, nos termos em que hoje é conhecido, remonta, segundo se pensa, ao ano de 1162.
Esta festa continuou por muitos séculos até que no século XVII foi enriquecida em termos de música, cultura e vestuário rico e exótico. As belíssimas máscaras estiveram, durante centenas de anos, associadas à tradição e à fantasia do Carnaval e muitas delas tornaram-se famosas fazendo mesmo parte da "Commedia dell'Arte", um tipo de teatro cómico surgido na segunda metade do século XVI, que se contrapunha ao teatro clássico rígido e formal e que imortalizou personagens como o Arlequim, a Columbina, a Pulcinella, o Doutor ou o Pantalone.
Em Veneza o Carnaval começava de terça a noite, após o qual os ânimos desmaiam no rescaldo dos despojos do festim que ainda oficialmente com o Liston delle Maschere, o caminho das máscaras, que era o passeio dado pelos habitantes que, elegantemente vestidos e usando as suas máscaras, expunham as suas riquezas em sedas e jóias.
A "Bauta", de cor branca, é considerada a máscara tradicional de Veneza, a qual permitia ao seu utente comer e beber sem a retirar, sendo usada também durante todo o ano para proteger a identidade e permitir os encontros românticos.
A "Moretta", máscara exclusivamente feminina, foi uma das mais famosas, apesar de ser segura, através de um botão, pelos dentes da frente, o que impunha às mulheres um silêncio forçado, muito do apreço dos homens. "Mattaccino" era o nome dado às máscaras dos jovens atiradores de ovos, ficando a ser um dos personagens típicos do Carnaval de Veneza. Estes ovos perfumados, que existiam em grande variedade.
Existem hoje em Veneza cerca de dois mil fabricantes de máscaras, verdadeiras obras de arte feitas de couro, papel mâché, alumínio ou seda. Requintadas, como a maschera noble, ou absurdas, como o taracco da Commedia Dell'Arte, são imprescindíveis ao ambiente de ilusão feérica vivido no grande palco de personagens irreais em que Veneza se transforma durante o Carnaval.
Nas ruas, os trajes e as máscaras continuam exuberantes e magníficos e o auge da festa é atingido no fogo-de-artifício mantém o seu carácter sensual e pagão de celebração da Primavera.

O Carnaval na Rússia
O Carnaval na Rússia comemora-se sete semanas antes da Páscoa, durante uma semana inteira, à qual se dá o nome de Semana da Panqueca, “MASLENITZA”. Cada dia tem o seu nome próprio e rituais próprios.
Em Moscovo e, particularmente, na famosa Praça Vermelha fazem-se desfiles, há lutas com bolas de neve, percursos de trenó, várias formas de esqui, teatro e encenações feitas pelos“SKOMOROKHS” (bobos). A música também tem um papel relevante com “CHASTOOSHKAS” (canções tradicionais), dança, bandas, desfiles de Máscaras, fogo-de-artifício e concertos.
Na gastronomia salientam-se as Panquecas e os Bolos e Biscoitos que têm o nome de “PRYANIKY”.
Os elementos principais da celebração do Carnaval são a Mascote - a Senhora Maslenitsa e as panquecas, que simbolizam o sol porque são redondas e douradas.
Também conhecida por “KOSTROMA”, a Maslanitsa é vestida com cores brilhantes e vestes luxuosas. O ponto máximo da festa é no domingo à noite, em que se retiram as vestes luxuosas da Maslanitsa e se põe a Maslanitsa a arder numa fogueira.

O Carnaval em Portugal
Em algumas aldeias transmontanas, como Podence e Ousilhão, e também na Beira Alta, em Lazarim, o Carnaval é diferente. A festa não se faz com lantejoulas, nem plumas, nem com trajes de polícia, Super-homens e palhaços. A figura típica é o careto: usa máscara com nariz saliente, feita de couro, latão ou madeira e pintada com cores vivas de amarelo, vermelho ou preto. A máscara de amieiro, coroada com chifres e outros aparelhos, é usada em Lazarim. O careto usa fatos ou riscas, com capuz de cores garridas, feitos de colchas com franjas compridas de lã vermelha, verde e amarelo. Carregada com bandoleiros com campainha e enfiados de chocalhos à cintura. Da sua indumentária faz também parte um pau ou cacete.
Quando os homens vestem aquele fato, tornam-se misteriosos e os seus comportamentos mudam completamente, ficando possuídos por uma energia que não se sabe de onde vem. Os caretos, na rua, chocalham, falam mal dos rapazes que não têm namoradas e empurram as pessoas, expondo a vida da comunidade ao juízo comum.

No Algarve, chamava-se "Entrudo" à pessoa que se mascarava e ia passeando pelas estradas e caminhos, fazendo barulho, com vozes disfarçadas e pregando partidas. Os bailes de "mascarinhas" eram momentos altos da festa, bem como as Estudantinas, grupos que cantavam quadras alusivas ao Carnaval.
Hoje, o Carnaval algarvio adoptou, sem preconceitos, os sons das escolas de samba brasileiras. Isto não impede outras manifestações mais genuínas, como os bailes na eira, ou as partidas.
Diversas são as cidades que elegem o Rei e Rainha do Carnaval, e o enterro do rei momo, na Quarta-Feira de Cinzas, é uma cerimónia bem pitoresca. Muito algarvias são as batalhas de flores, como há em Moncarapacho, Quarteira, Loulé, Vila Real de Santo António ou São Brás de Alportel.
São três dias em que o Algarve se enche de música, irreverência e até de um pouco de loucura, porque afinal “no Carnaval, ninguém leva a mal”.

Na Terça-feira de Carnaval, em Amareleja, Baixo Alentejo, saem à rua as Estudantinas, costume antigo que se relaciona com o Entrudo e são um momento em que os intervenientes criticam e satirizam fatos ocorridos na vila e no País durante o ano, fazendo-o através da poesia, da música e da dança.
Esta tradição nasceu nos tempos do contrabando que, vindo de Espanha, passava por Amareleja no tempo da guerra civil espanhola. Do país vizinho terão igualmente vindo as danças ou estudantinas, manifestação semelhante às “murgas” andaluzes e às “brincas” de Évora.
Os grupos, compostos por mais de uma dezena de pessoas, percorre a vila, ao ritmo da concertina, detendo-se juntos às tabernas e cafés ou à porta de algum habitante que esteja pronto a recebê-los e a oferecer um petisco. Com os elementos da Estudantina dispostos em roda, as quadras são cantadas em coro. Dois ou três elementos do grupo, mascarados, ocupam o centro da roda e vão reproduzindo as situações que as quadras relatam. À volta, o coro, vestido a rigor – calça, colete e chapéu preto, faixa à cintura e lenço ao pescoço – responde com quadras que são o julgamento da moral popular.
Os grupos são ensaiados por um mestre e cada um deles chega a ser responsável por duas Estudantinas, uma para “brincar”, que sai à rua na segunda-feira de Carnaval e composta de críticas à vida social, e outra mais “séria” que, na terça-feira, possui conteúdo de cariz político.
Esta é uma tradição popular do Entrudo no concelho de Moura, onde a Câmara Municipal concedeu tolerância de ponto na Terça-feira de Carnaval. Como manda a tradição, além do Carnaval das Escolas e das Estudantinas de Amareleja, outras iniciativas terão lugar nestes dias, organizadas pelas coletividades do concelho.

Fonte e mais informação

Ver também
Moda do Entrudo (Zeca Afonso) http://www.youtube.com/watch?v=e-xSY4beUHs
Entrudo chocalheiro de Podence http://www.youtube.com/watch?v=YM6_M6kqmBA

Lëila

 
Leïla tem dez anos. Nasceu no grande deserto, onde os Beduínos viajam em camelos, no infinito das dunas movediças. Leïla é viva e veloz como um pássaro. Na tribo, chamam-‑lhe Leïla a indomável. O pai, o xeque Tarik, é justo. Por isso é respeitado em todos os acampamentos do deserto. Mas Tarik não sabe como acalmar a natureza selvagem da filha.
Leïla tem seis irmãos. Slimane é o mais velho. É o filho preferido do xeque Tarik. Só ele sabe como acalmar Leïla quando ela se irrita, quando se exalta. Só ele a faz rir quando está sombria e triste. E todos os dias Leïla acompanha Slimane através do oásis.
Certa manhã, quando as últimas estrelas se extinguem, Slimane deixa o acampamento. Monta o cavalo do pai e atravessa o deserto, procurando novas pastagens. Lá do alto de uma duna, Leïla e o pai acenam a Slimane que se afasta. Mas os dias passam e Slimane não regressa.
Tarik parte à procura do filho. Avança de duna em duna, de oásis em oásis. Leïla acompanha-o. Os pastores dizem-lhes que viram o cavalo branco, no horizonte, mas que este não levava cavaleiro algum.Os mercadores, com os seus camelos carregados de mercadoria, falam dos grandes espaços que atravessaram. Dizem a Tarik:
— Só Alá sabe onde se encontra o teu filho.
Então, Tarik compreende que o filho foi engolido pelas areias, como já acontecera a tantos Beduínos. E diz a Leïla que não voltará a ver Slimane. Leïla chora e grita. Ninguém pode levar-lhe o irmão, nem mesmo Alá!
Por fim, Tarik consegue acalmá-la. Regressam, vagarosamente, ao acampamento. Tarik fica em silêncio. Durante vários dias, permanece sentado na entrada da tenda, não tocando sequer nas deliciosas refeições que lhe oferecem os seus servidores. Leïla vagueia pelo oásis, como cega. Ao fim de sete dias, Tarik sai da tenda. Junta o seu povo e diz-lhe:
— A partir de hoje, qualquer um de vós que pronuncie o nome de Slimane será severamente punido. Quero esquecer!
O seu olhar é duro e frio. Todos os Beduínos baixam a cabeça. Sentem-se mal, mas ninguém ousa falar. Leïla também ouve a decisão do pai. Mas, apesar disso, todos os dias, sempre algo lhe fala de Slimane. Quando vê as crianças a brincar, lembra-se dos jogos que Slimane lhe ensinava. Quando passa pelas mulheres, recorda as histórias que lhes contava Slimane. Ao encontrar os pastores a guardar os rebanhos, pensa no pequeno cabritinho negro que o irmão adorava. A cada recordação Leïla quer gritar o nome de Slimane. Mas cala-se. E cada vez se torna mais selvagem e mais violenta. Os Beduínos afastam-se quando ela passa. Leïla sente-se mais só do que nunca.
Um dia, Leïla vê os irmãos fazerem um jogo que Slimane lhes ensinara. Então, sem pensar, diz-‑lhes:
— Slimane não jogava assim.
Os irmãos detêm-se de imediato, olhando-a com ar assustado. Ela tinha quebrado o silêncio.
Leïla vai visitar as mulheres à tenda e começa a contar-lhes uma história — uma daquelas que Slimane lhes contava. A mãe de Leïla protesta, angustiada:
Pára, Leïla, se o teu pai ouve...
Pouco a pouco, as mulheres foram-se calando para ouvir, a sorrir e com um ar sonhador, a história de Leïla. Mas esta apercebe-se do ar inquieto da mãe. Queria fazer-lhe compreender... Mas só consegue gritar:
Tenho de falar dele, tenho mesmo!
E sai a correr.
Leïla vai juntar-se aos pastores da montanha que, ao ouvirem o nome interdito, fogem. Mas Leïla vai atrás deles.
Fala-lhes do amor que o irmão sentia pelo pequeno cabrito negro. Pouco a pouco, os pastores aproximam-se dela. Quanto mais Leïla fala de Slimane, mais ele lhe parece próximo e presente. Agora sente-se em paz. Em breve todos a ouvem, a sorrir. É como se Slimane vivesse de novo entre eles.
Certa noite, um dos pastores mais jovens aproxima-se da tenda de Leïla. Chama-a:
Anda, vem ver como o cabrito de Slimane cresceu.
Abre-se o pano da tenda e é Tarik que aparece. O seu olhar é mais gelado do que a aurora do deserto. As suas palavras ferem como o sabre mais cruel.
— Pastor, proibi que pronunciassem o nome do meu filho. Mas tu desobedeceste. Expulso-te deste oásis. Não voltes mais.
O pastor afasta-se, chorando. Os Beduínos baixam os olhos em silêncio. Estão infelizes. Têm medo. Afastam-se de Leïla, deitando-lhe um olhar de reprovação. Leïla quer gritar: “Slimane!”, mas guarda para si as palavras que lhe afloram aos lábios. Sente que a raiva aumenta. Sufoca. A sua paz é destruída. Parece que Slimane se afasta uma vez mais.
Na manhã seguinte, muito cedo, Leïla decide falar com o pai. Tarik está sentado na tenda, pensativo. Leïla aparece bruscamente à sua frente. Fala em voz baixa e reprimida:
— O pai não irá roubar-me o meu irmão. Não deixarei que o faça....
Tarik lança-lhe um olhar ameaçador mas Leila não lhe dá tempo para falar. Continua:
Consegue ver o rosto de Slimane? Ouve a sua voz?
Tarik fica petrificado de espanto. Diz a tremer:
Não, não consigo. Apesar disso, fico horas e horas no deserto.
Os olhos de Tarik enchem-se de lágrimas. Leïla diz-lhe docemente:
Sei de uma maneira, pai, ora ouça...
Então Leïla começa a falar de Slimane. Como ele passeava com ela e o que dizia; como brincava e o que contava. Como a acalmava ou a fazia rir quando ela se irritava. Fala-lhe de alegria, de ternura e de vida... Quando acaba, diz:
Pai, já consegue ver-lhe o rosto? Ouve agora a sua voz?
Tarik baixa a cabeça e, pela primeira vez desde há algum tempo, sorri.
Está a ver — murmura Leïla — Slimane pode ainda viver entre nós.
Por algum tempo Tarik fica sonhador. Depois, volta-se para Leïla:
Diz ao meu povo que venha juntar-se aqui.
Quando os Beduínos se reúnem em volta de Tarik, este declara:
A minha filha Leïla soube trazer-me de volta o meu filho Slimane. Por isso, daqui em diante, chamar-lhe-eis Leïla – a mais sábia. Quero que o seu nome e o de Slimane sejam honrados em todos os acampamentos do deserto.
Dias mais tarde, o jovem pastor expulso regressou ao oásis.
E Slimane viveu de novo no coração de todos aqueles que dele se recordavam.
Sue Alexander
Leïla
Porto, Ed. Edinter,1989
(Adaptação)
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

Concurso/Prémio Apetece-me

Livro do mês - fevereiro/março 2012 ("Eclipse" - Stephenie Meyer)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Violeta

Aqueles dois nem sequer reparam que Klaus abrira a porta da sala.
Então é aqui que está Niki, escondida atrás de umas costas altas e de uns braços compridos e verdes!
— O namorado da nossa filha tem uns braços de aranha! — costuma dizer o pai. E também diz: — Há três meses que traz vestida a mesmíssima camisola verde! Se calhar só a tira quando ela se desfizer!
— Deixa a Niki em paz — a mãe tenta acalmá-lo. — Tu não percebes! A Niki está apaixonada. O Bruno não tem de te agradar!
— Agradar!?! Deixa-me rir. Até fico cheio de comichão de cada vez que o vejo. Alto como a Torre Eiffel e magro como um esparguete! E é de uma coisa assim que a minha filha gosta? De um Bruuuno!!
“Será que o pai iria gostar mais da Violeta?”, pensa Klaus, à porta da sala.
Ele não se atreve a entrar e ir à prateleira buscar o livro sobre aviões, pelo menos enquanto os dois estiverem enrolados um no outro. Verde-aranha com pintas cor-de-‑laranja. As pintas cor-de-laranja são da t-shirt da Niki.
Porque é que Klaus tem de pensar agora mesmo na Violeta? E porque é que fica com o coração aos pulos? Aquilo ali, no sofá, à frente dele, não tem nada a ver com ele e com Violeta. Ou será que tem? Klaus ainda não beijou Violeta. Beijou, sim. Uma vez num jogo. Como multa, Klaus tinha de dar três beijos na cara de alguém. Claro que não foi escolher o Pedro ou o Martim e muito menos a Helga. Foi a Violeta quem recebeu os três beijinhos minúsculos. E logo de seguida, ficaram os dois vermelhos que nem tomates. Toda a gente se riu!
— O Klaus está apaixonado pela Violeta! — gritaram.
Deixá-los rir!
Estar apaixonado não tem graça nenhuma. É bonito, mas não é engraçado, pensa Klaus, porque Violeta se ofende muito depressa. E quando ela olha para ele só de relance, durante as aulas e depois no intervalo também… até dói! De cada vez que ele olha para Violeta e ela desvia o olhar, Klaus sente uma pontada lá no fundo… Mas agora, há já algum tempo que andam os dois bem, e Klaus tenta não fazer nenhuma asneira que possa zangar Violeta.
Klaus queria ir buscar o livro. Niki e Bruno ainda não repararam nele. Estão abraçados um ao outro e baloiçam-se levemente de um lado para o outro como se se tentassem adormecer mutuamente. Têm os olhos fechados. Estão em silêncio.
“Se calhar”, pensa Klaus, “quando se está mesmo apaixonado não se deve falar. O não falar significa precisamente gosto de ti.”
A dado momento, Niki abre os olhos mas só vê o seu Bruno. Não vê Klaus à porta.
A irmã e o namorado olham-se nos olhos, em silêncio. Continuam a não falar. “Hmm”, pensa Klaus, “eu e a Violeta também fazemos isso. Por acaso, este também é o nosso jogo. Olhamo-nos nos olhos muito tempo e tentamos adivinhar a cor dos olhos do outro porque ela muda ligeiramente todos os dias. Se há sol, se chove, se está claro ou escuro. Se é de manhã, ao meio-dia ou à tarde.”
Violeta acha que Klaus tem os olhos castanhos. Cor de café com leite. Klaus diz que tem olhos pretos. Como café sem leite.
— E os teus são azuis — diz depois Klaus. — Como a minha caneta.
— Não! Não gosto dessa comparação! — Violeta faz uma cara de ofendida e fulmina Klaus com o olhar. — Diz uma coisa mais bonita!
— Azul como o lago de Constança. — Klaus já lá tomou banho.
Violeta fica satisfeita com o lago, mesmo não o conhecendo. O azul de um lago é bonito.
— Como estes dois demoram! — suspira Klaus, apoiando-se na outra perna.
Então, quando se está apaixonado é assim… Agarramo-nos bem. Balançamo-nos de um lado para o outro. Fechamos os olhos por muito tempo. E, depois, abre-se os olhos mas não se pode olhar para mais lado nenhum a não ser para a pessoa que está à frente. A mão esquerda de Bruno percorre suavemente a mão direita de Niki, sobe pelo braço e volta a descer devagar. Também durante muito tempo.
Violeta iria achar isto estúpido. E Klaus, para falar a verdade, também. Já não aguenta muito mais tempo na soleira da porta. Klaus não gosta de ficar a olhar para namorados. Envergonha-se um pouco, mas não sabe bem porquê. Está um tanto agitado, mas não sabe muito bem porquê.
Vira as costas aos dois, mas choca contra a porta. Bum!
— Olha lá, miúdo, tu por acaso andas a espionar-nos?! — ouve-se a voz arranhada de Bruno.
— Há quanto tempo estás aí? — pergunta Niki, sentindo-se atingida.
Klaus encolhe os ombros. Será que deve dizer: “Há uma eternidade”?
— Já posso ir buscar o meu livro?
— Pensei que o teu irmão não estivesse cá hoje!
Bruno levanta-se.
— Da próxima vez que pensares que ele não está em casa, no teu lugar eu ia ver primeiro se, por acaso, não estará metido nalguma gaveta!
A voz de Bruno soa bastante desagradável. Niki também se levanta e segura o namorado pelo braço, mas Bruno solta-se.
— Não me sinto bem aqui! — diz. — Tchau!
E vai embora. Nem sequer se torna a virar para Niki. Já não a olha mais nos olhos. Nem muito, nem pouco. Absolutamente nada.
Com Violeta é muito mais bonito. Eles acenam sempre com a mão um ao outro quando vão para casa, depois da escola, e se separam na paragem do elétrico. Pelo menos, nos dias em que Violeta não tenta olhar de relance para Klaus.
Depois, Violeta sorri.
Um sorriso muito amoroso e Klaus consegue ver-lhe os olhos, mesmo que já esteja muito escuro. Brilham, azuis como o lago de Constança. Continuam a brilhar mesmo quando Klaus já está do outro lado da rua, e ele até consegue sentir‑lhes ainda o brilho, muito depois de ter dobrado a esquina.



Evelyne Stein-Fischer
13 Geschichten vom Liebhaben
München, DTV Junior, 1990
(Tradução e adaptação)
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias