quarta-feira, 29 de junho de 2011

São Pedro, o Apóstolo

Pedro (século I a.C., Betsaida, Galileia — cerca de 67 d.C., Roma) foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo, como está escrito no Novo Testamento e, mais especificamente, nos quatro Evangelhos. Os católicos consideram Pedro como o primeiro Bispo de Roma, sendo por isso o primeiro Papa da Igreja Católica.
São Pedro, o Apóstolo e o pescador do lago de Genezareth, cativa seus devotos pela história pessoal. Homem de origem humilde, foi Apóstolo de Cristo e depois encarregado de fundar a Igreja Católica, tendo sido o seu primeiro Papa.
 
Depois da sua morte, São Pedro, segundo a tradição católica, foi nomeado chaveiro do Céu. Assim, para entrar no paraíso, é necessário que o santo abra as suas portas. Também lhe é atribuída a responsabilidade de fazer chover. Quando começa a trovejar, e as crianças choram com medo, é costume acalmá-las, dizendo: "É a barriga de São Pedro que está a roncar" ou "o São Pedro está a mudar os móveis de lugar".
 
Tal como São João e Santo António, São Pedro é um santo popular e a data é celebrada no mês dos santos populares – Junho.

Em Portugal o Dia de São Pedro comemora-se a 29 de Junho e a tradição manda que a população festeje a data decorando as ruas com várias cores e manjericos. Bailes e marchas populares são organizadas nas ruas e a música está sempre presente.

Na gastronomia, a sardinha assada, o pimento, broa, caldo verde e vinho são os elementos principais da festa.

Algumas cidades celebram o feriado municipal no dia de São Pedro como por exemplo, Póvoa de Varzim, Sintra e Bombarral.
 
Também considerado o protector das viúvas e dos pescadores, o Dia de São Pedro é festejado no Brasil, no dia 29 de Junho, com a realização de grandes procissões marítimas em sua homenagem.
Em terra, os fogos e o pau-de-sebo são as principais atracções festivas.
 
No dia de São Pedro, todos os que receberam o seu nome devem acender fogueiras à porta das suas casas. Além disso, se alguém atar uma fita ao braço de alguém chamado Pedro, ele tem a obrigação de dar um presente ou pagar uma bebida àquele que o amarrou, em homenagem ao santo.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

As crianças têm direitos!

As crianças têm direitos!

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Crianças de lado nenhum
Era uma vez um menino como tu, da tua idade, que vivia com a família. Tinha amigos, ia à escola, fazia desporto e frequentava aulas de música. Tal como tu, queria saber tudo e devorava livros para poder conhecer o mundo. Mas isso não lhe bastava. Um dia foi passear pelo campo e sentou-se junto de uma árvore. Era um carvalho robusto, centenário, com ramos tão acolhedores que lembravam braços abertos. O menino sentia-se bem e começou a falar:
— Se o nosso planeta fosse tão pequeno como uma aldeia, seria fácil percorrer todos os continentes; com poucos passos, eu podia encontrar todos os meninos da Terra!
Naquele instante, os ramos do velho carvalho baixaram-se, levantaram o menino e levaram-no num turbilhão ensurdecedor. Quando voltou a abrir os olhos, seguia por um caminho de pedras. À sua frente avançava um grupo de crianças descalças, sujas, embrulhadas em cobertores. As mais velhas levavam ao colo as mais pequenas.
— Olá! — disse o menino. — Para onde vão?
— Não sabemos. Há meses e semanas que caminhamos, que fugimos de casa por causa da guerra.
— E a vossa família? E a vossa aldeia, o vosso país? — perguntou o menino.
— Já não temos nada. Temos apenas medo no peito. Alguns de nós fugiram num barco de tábuas velhas e esburacadas. Outros, atravessaram o deserto sem comer nem beber e outros ainda esconderam-se na floresta, alimentando-se de raízes e dormindo ao relento!
O menino sentiu o medo apoderar-se dele. Um medo terrível que até então desconhecera. Não era um medo pequeno como o medo do escuro ou da trovoada, mas o de um pesadelo, de onde se quer sair o mais depressa possível. Queria voltar a encontrar o velho carvalho, queria regressar a casa. Dentro do bolso, sentiu uma folha mexer-se entre os dedos. Apertou-a… e, de repente, encontrou-se junto da velha árvore:
— É horrível! Vi meninos retirados ao pai, à mãe, à sua terra, aos seus sonhos. É preciso ajudá-los; têm o direito de viver em paz a sua vida de criança!
O menino ia levantar-se para se ir embora, quando um ramo pegou nele e o fez sobrevoar o caminho de pedras onde, em grandes camas de rede, as crianças de lado nenhum descansavam em paz, debaixo de dois grandes carvalhos que, de repente, ali tinham aparecido. O menino ficou mais tranquilo. Fechou os olhos e deixou-se também embalar pelos ramos. Um calor suave acariciava-lhe o rosto.

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Crianças do Haiti
Abriu os olhos: estava numa ilha sob um sol ardente. Ao longe, viu crianças atarefadas.
— Olá! — gritou-lhes.
As crianças mal repararam nele e prosseguiram, umas a engraxar sapatos, outras a despejar lixo, outras ainda a lavar azulejos. Abeirou-se delas:
— Querem brincar comigo?
Àquelas palavras, as crianças pararam de trabalhar. O mais velho deu um passo na direcção do menino:
— Eh! Não há tempo para brincar. Temos trabalho a fazer!
— Trabalho?
— Nós temos de trabalhar o dia inteiro, senão, à noite, não temos nada para comer.
— Vocês trabalham? Na vossa idade?
— Lá em casa somos doze, não há outro remédio! Temos de ajudar os nossos pais. Já vês que não temos tempo para brincar.
— E à noite?
— À noite, estamos tão cansados que nem pensamos em brincar. Estás a ver aquele homem ali em baixo, com os sapatos cheios de pó? Está à minha espera. Tenho de deixá-los a brilhar e, se ele ficar satisfeito, dá-me duas moedas. Já chega para comprar fruta, pão e quatro batatas-doces. Bom, então adeus, miúdo. Bem gostava de brincar contigo!...
Em seguida, o menino foi sentar-se ao pé de uma árvore coberta de flores vermelhas e cor-de-laranja. "Uma árvore que faz sonhar", pensou ele.
Ouviu a voz do mais velho murmurar-lhe ao ouvido:
— Eh, miúdo, quando for grande hei-de fazer uma lei que dê a todas as crianças o direito de brincar todos os dias!
Da árvore flamejante brotaram então, como uma chuva de sonhos, os brinquedos mais extraordinários.

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Manitra
O menino ia pegar num brinquedo, quando, de novo, os ramos da árvore se ergueram para levá-lo a um outro lugar. Pousaram-no num bairro pobre de uma grande cidade.
— Estas casas são feitas de cartão. Como se pode viver lá dentro quando chove?
Respondeu-lhe uma menina de vestido sujo e esfarrapado com as mãos pretas do pó de carvão.
— Eu sou a Manitra. Quando chove, cobrimo-las com plásticos grandes e pronto! Boeh, boeh!
— O que quer dizer boeh, boeh?
— Carvão, carvão! Eu apanho carvão e ando pelas ruas a apregoar boeh, boeh! Para o vender. Com o dinheiro, já posso comprar arroz e feijões!
No fim de cada frase, Manitra tossia, uma tosse aguda.
— Estás doente?
— Em Madagáscar, todas as crianças que apanham carvão tossem. É o pó que irrita os pulmões.
— Não tens nenhum xarope?
— É preciso dinheiro para a gente se tratar!
Um bebé correu a encostar-se a Manitra. Tinha as pernas cobertas de chagas.
— É o meu irmãozinho.
— Tem de tratar as pernas!
— Eu sei. Mas para comprar uma pomada, tenho de apanhar e vender cinquenta pedras de carvão. E é muito difícil!
O menino rebuscou no fundo dos bolsos e deitou ao chão uma folha de carvalho. Em segundos, um embondeiro majestoso ergueu-se, carregado de medicamentos e de vitaminas. Manitra recolheu o que era preciso para curar o irmão.
— Um dia, hei-de ser enfermeira no meu país. Vou tratar dos meninos pobres que vivem na rua ou em bairros de cartão, para que também eles tenham direito a ser tratados.

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Romain
O menino já não a ouvia. Já estava longe, muito longe, numa cidade de betão, onde não havia embondeiros nem flores. Nas escadas de um prédio, estava sentado Romain. O menino abordou-o:
— Olá! Estás sozinho? Não tens amigos?
Romain ergueu a cabeça.
— Estou sozinho o dia inteiro. Quando me levanto, os meus pais já têm saído e, à noite, como sozinho em frente da televisão!
— E isso é porque eles têm muito trabalho?
— Não. Nos dias em que não trabalham, é igual. Quase não falam comigo, e quando falam, é só para me castigarem ou para me ralharem. Se faço a mesma pergunta muitas vezes, o meu pai irrita-se e bate-me. Não percebo porquê. Talvez eu não seja o filho que ele desejava!
Romain escondeu a cabeça entre os joelhos.
— Tenho vergonha de te ter contado isto, tenho vergonha! — e correu a fechar-se em casa.
O menino encostou-se à porta e disse-lhe:
— Vergonha porquê? Mas tu não tens culpa! Tens direito a falar, a contar a tua história, não deves ficar fechado no teu silêncio, a sofrer sozinho. Estás a ouvir-me? Eu sou teu amigo! Eu sou teu amigo!
E, diante da porta de Romain, deixou um punhado de folhas de carvalho. Num instante, elas formaram uma trança que correu de casa em casa, e entrou em casa de outras crianças, novos amigos de Romain. O menino bem gostaria de seguir aquela longa cadeia de amizade, mas já os ramos lhe indicavam outro destino.

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Meninas das Filipinas
Conduziram-no por uma rua estreita e mal iluminada onde se sentiu um pouco inseguro. Atrás de uma janela gradeada viu duas meninas. "Crianças na prisão?"
— Bom dia — disse ele timidamente — o que estão a fazer aí?
— Estamos presas!
— Mas é proibido meter crianças na cadeia! O que é que vocês fizeram de mal?
— Nada. Um homem comprou-nos aos nossos pais.
— O quê, comprou-vos?
— Sim. Disse que ia dar-nos trabalho, que íamos ter um tecto, comida e dinheiro! Como somos muito pobres, acreditámos nele.
— Era um mentiroso, um aldrabão!
— Agora não nos deixa sair. Pôs grades nas portas e nas janelas, e proíbe-nos de falar. Somos escravas dele — sussurrou a menina.
— Onde está esse homem? Tem de ser preso e julgado. Onde é que ele está?
— No nosso país há muitos homens como ele. Não se pode fazer nada!
— Claro que pode!
O menino, revoltado, pôs-se a forçar as grades com quanta força tinha, mas não conseguiu alargá-las. Apavoradas, as meninas foram esconder-se. Tinha de encontrar o velho carvalho o mais rapidamente possível! Meteu as mãos nos bolsos e esfregou uma folha. A árvore apareceu imediatamente. O menino agarrou-se à casca a gritar:
— No nosso planeta há pessoas que batem nas crianças e há crianças que são compradas. É uma vergonha, não há direito!
E começou a chorar.
O ramo veio delicadamente secar-lhe as lágrimas, que lhe deslizavam pela cara abaixo como pérolas de chuva. Pegou nele e pousou-o debaixo de uma tília em flor.

… (CONTINUA)
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

São João Baptista

João Baptista (AO 1945: Baptista) (Judeia, 2 a.C. - 27 d.C.) foi um pregador judeu, do início do século I, citado pelo historiador Flávio Josefo e os autores dos quatro Evangelhos da Bíblia.
João Baptista nasceu na cidade de Judá, quando os pais, Zacarias e Isabel, já eram idosos. Era um filho muito desejado, uma vez que Isabel era estéril e Zacarias, mudo. Ambos eram de estirpe sacerdotal. Isabel haveria de dar à luz um menino, cujo nome significaria "Deus é propício". Assim foi avisado Zacarias pelo Anjo Gabriel que o visitou anunciando a chegada do tão esperado herdeiro.

Segundo a narração do Evangelho de São Lucas, João Baptista era filho do sacerdote Zacarias e Isabel (ou Elizabete), prima de Maria, mãe de Jesus. Foi profeta e considerado pelos cristãos como o precursor do prometido Messias, Jesus Cristo. Baptizou muitos judeus, incluindo Jesus, no rio Jordão, e introduziu o baptismo de gentios nos rituais de conversão judaicos, que mais tarde foram adoptados pelo cristianismo.


No ano 27, João apareceu como profeta e quando iniciou a sua pregação muitos chegaram a acreditar que ele era o próprio Messias. Vestia-se como os sábios eremitas essênios da época, os quais usavam uma túnica grosseira feita de pele de camelo atada a um cinto de couro (representação da liberdade, da escolha do destino de cada um), e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Para que se salvassem do pecado, as pessoas recebiam, por intermédio desse profeta, a ablução nas águas do rio Jordão (acto comum entre os essênios), prática chamada de baptismo, razão por que passou ele a ser conhecido como João Baptista.

Fazia os seus sermões e muitos eram aqueles que o ouviam e o acompanhavam. Afirmava que o Reino de Deus estava próximo, baptizava todos os que queriam e pedia que repartissem os seus alimentos e roupas com os mais pobres. Chegou a baptizar o próprio Cristo, embora se achasse indigno até mesmo de lhe desatar as sandálias.

Foi depois do baptismo que Jesus entendeu que começava então sua verdadeira missão. Passados de alguns meses, João foi preso mas, mesmo no cárcere, acompanhava os trabalhos de Jesus, fazendo perguntas por intermédio de mensageiros (Lucas 7, 19-29).

Morreu degolado sob o governo do rei Herodes, por defender a moralidade e os bons costumes, por isso é reconhecido nos dias de hoje como um dos Santos mais populares em todo o mundo cristão. O dia 24 de Junho foi consagrado a S. João pois crê-se que ele nasceu nesta data.

São João é o santo que mais se festeja na Europa, sendo também o padroeiro de muitas terras em Portugal e no Brasil.

Há inúmeras tradições associadas às festas de S. João que variam de terra para terra, de região para região, havendo mesmo quem considere que a noite de S. João é uma noite mágica, propícia a milagres e adivinhações. Enfim, o imaginário à volta da figura deste santo é riquíssimo e variado.

 
Fonte e mais informação

São João do Porto

Se Santo António é o santo de Lisboa, São João é, sem sombra de dúvida, o mais popular santo em Portugal. No Porto, na noite de 23 para 24 de Junho, toda a cidade perde a cabeça em homenagem a São João Baptista, também designado por São João Degolado. Na origem do seu martírio esteve uma mulher - Salomé.

S. João do Porto, eremita natural do Porto, (séc. IX), viveu a sua vida eremítica na região de Tuy, em frente a Valença, tendo sido sepultado em Tuy. No séc. XVII ainda aí se conservavam as suas relíquias, de grande veneração entre os fiéis, que acreditavam que S. João os salvaria das febres. Diz a tradição, que a cabeça de S. João do Porto, foi trazida pela Rainha Mafalda no séc. XII, para a Igreja de São Salvador da Gandra e que parte dessa relíquia teria sido levada para a capela da " Santa Cabeça ", na Igreja de N ª Sra. Da Consolação, na Cidade do Porto. O facto da sua festa se ter celebrado a 24 de Junho talvez explique o facto de ter o seu culto sido absorvido pelo de S. João Baptista, cujo nascimento ocorreu no mesmo dia 24 de Junho e a que o povo dedicou através dos tempos forte devoção e grandes festas, mantendo-se ainda hoje muito viva a tradição das fogueiras de S. João de origem muito antiga, ao mesmo tempo que substituíam as festas pagãs do solstício.

Festas de forte caris popular, o S. João do Porto é uma festa que nasce espontaneamente, nada se encontra combinado, embora a festa se vá preparando discretamente durante o dia, é normalmente depois do jantar, constituído por sardinhas assadas, batatas cozidas e pimentos ou entrecosto e fêveras de porco na brasa, acompanhadas de óptimas saladas, jantar obviamente regado com vinho verde ou cerveja, mais modernamente. Findo o jantar, os grupos de amigos começam a encontrar-se, organizando rusgas de S. João, como são chamadas.
As pessoas muniam-se de alhos-porros e molhos de cidreira, actualmente as armas, são outras, mudaram para martelos de plástico, duros e ruidosos, mas que acabaram por ser bem aceites e hoje já fazem parte da tradição, Há alguns anos atrás, o S. João limitava-se a uma área da cidade que era constituída, pelas Fontainhas (Ponto nevrálgico), R. Alexandre Herculano, Praça da Batalha, R. Santa Catarina, R. Formosa ou R. Fernandes Tomás, R. de Sá da Bandeira, R. Passos Manuel, Praça da Liberdade, Av. dos Aliados, R. dos Clérigos, Praça de Lisboa, e no retorno, subindo-se a R. de S. António, estava praticamente concluído o percurso obrigatório.
A par deste percurso, que juntava para cima de meio milhão de pessoas, que tornavam as ruas pejadas de gente, e onde não há atropelos, as zaragatas são de imediato sustidas pelos populares, os beligerantes rapidamente selam a paz com mais um copo e uma pancada de alho-porro de amizade.
O S. João do Porto é uma festa onde ricos e pobres convivem uma noite de inteira fraternidade e onde a festa é constante. Nos bairros, a festa continua e as comissões organizadoras de cada uma mantém o baile animado até altas horas da madrugada. No tempo áureo do alho-porro quem chegasse ao Porto vindo de fora, estranharia o odor espalhado pela cidade...efectivamente ela cheirava a alho.

Nos dias de hoje, o S. João espalhou-se pela cidade, além do seu palco tradicional, estendeu-se até a Ribeira, às Praias da Foz, à Boavista e por aí fora. Vai as discotecas, aos pubs e bons restaurantes. Tornou-se mais cosmopolita e em alguns casos mais selectivo. Modernizou-se, sofisticou-se e de certa forma, acompanhou os tempos, até penso que se tornou mais jovem.

Mas muita da tradição ainda se mantém: Em barracas ou espalhados pelo chão lá estão os manjericos (Planta tradicional do S. João), as tendas das fogaças, as farturas, o algodão doce, as pipocas, as barracas da sardinha assada e dos comes e bebes. Os matraquilhos, os carrosséis, as pistas dos carros. As tendas de venda das louças de barro, das cutelarias, o tiro-ao-alvo e as tômbolas.
Durante toda a noite, centenas de balões são lançados e muito fogo-de-artifício particular é queimado, pela meia-noite o tradicional fogo-de-artifício da Câmara Municipal, faz sempre furor pela sua beleza. No fim e já alta madrugada é ver os foliões procurarem as padarias onde o pão acabado de fazer e ainda quentinho vai confortar as barrigas para um merecido descanso.

A História de um Feriado
(Texto original, publicado na Revista Ponto de Encontro de Julho de 2001)
Os festejos de S. João na cidade do Porto são já seculares e a origem desta tradição cristã remonta mesmo a tempos milenares. Mas foi só no século XX que o 24 de Junho passou a ser feriado municipal na Invicta, proporcionando um merecido dia de folia a milhares de tripeiros. E tudo graças a um decreto republicano e a um referendo aos portuenses, promovido pelo Jornal de Notícias.

A história é curiosa e mostra o protagonismo que, já na altura, a Comunicação Social tinha no modus vivendi urbano. Estávamos em Janeiro de 1911 e a República Portuguesa dava os primeiros passos. A monarquia tinha sido destronada apenas três meses antes, com a revolução de 5 de Outubro de 1910.
O Governo Provisório da República assumia a governação do país e, desde logo, começava a introduzir mudanças na sociedade portuguesa que espelhavam, muito naturalmente, os ideais da nova ordem republicana. Numa tentativa de implementar a nova ordem junto da população, o Governo Provisório redefiniu os dias feriados em Portugal.
Por decreto, a República instituiu como feriados nacionais o 31 de Janeiro (primeira tentativa - falhada - de revolução republicana, em 1891, no Porto), o 5 de Outubro (instauração da República) e o 1º de Dezembro (restauração da independência em 1640), para além do Natal e do Ano Novo. Mas o mesmo decreto impunha, a cada município do país, a escolha de um dia feriado próprio: "As câmaras ou commissões municipaes e entidades que exercem commissões de administração municipal, proporão um dia em cada anno para ser considerado feriado, dentro da area dos respectivos concelhos ou circumscripções, escolhendo-os d'entre os que representem factos tradicionaes e característicos do município ou circumscripção".

E foi com este propósito que a Comissão Administrativa do Município do Porto reuniu a 19 de Janeiro de 1911. Segundo o relato do Jornal de Notícias, o "velho e conceituado republicano, sr. Henrique Pereira d'Oliveira" logo sugeriu a data de 24 de Junho para feriado municipal. O facto não causa espanto. Afinal de contas, o S. João era, já na altura, uma festa com longa tradição na cidade do Porto.
A primeira alusão aos festejos populares data já do século XIV, pela mão do famoso cronista do reino, Fernão Lopes. Em 1851, os jornais relatavam a presença de cerca de 25 mil pessoas nos festejos sanjoaninos entre os Clérigos e a Rua de Santo António e, em 1910, um concurso hípico integrado nos festejos motivou a presença do infante D. Afonso, tio do rei (a revolução republicana apenas se daria em Outubro).

Referendo popular
Contudo, a sugestão de Henrique d'Oliveira de eleger o S. João como feriado municipal da Invicta foi contestada por outros membros da Comissão Administrativa do Município do Porto, que mostraram opiniões diversas. Foi então que "o sr. dr. Souza Junior lembrou, inspirado n'um alto princípio democrático, que não devia a Commissão deliberar nada sem que o povo do Porto, por qualquer forma, se pronunciasse em tal assumpto".

Para solucionar o imbróglio, o Jornal de Notícias dispôs-se a organizar um surpreendente referendo popular para escolher o feriado municipal. Logo no dia 21 de Janeiro, somente dois dias após a reunião da Comissão Administrativa, foi colocado na primeira página do jornal o anúncio da "Consulta ao Povo do Porto", explicando toda a situação e a forma de participação. As pessoas teriam que enviar, até ao dia 2 de Fevereiro, "um bilhete postal ou meia folha de papel dentro de enveloppe" para a redacção do jornal, com a indicação do dia de sua preferência. E, para recompensar o trabalho dos leitores, o Jornal de Notícias oferecia "dez valiosos premios" - o mais valioso era de 10 mil réis, cerca de cem escudos - a serem sorteados de entre todos aqueles que votassem no dia eleito.

Nos dias seguintes, o Jornal de Notícias fez o relato diário da emocionante votação. A vitória foi quase só discutida entre o dia de S. João, já com larga tradição na cidade, e o 1º de Maio, Dia do Trabalhador, a que não será alheio o facto de a cidade do Porto ser considerada "a capital do trabalho".

No dia 22 de Janeiro já se davam conta dos primeiros resultados: "a votação de hontem, que foi grande, dá maioria ao 1 de Maio, seguido pelo 24 de Junho (S. João) e N. S. Conceição [8 de Dezembro] ". No dia 24 - o Jornal de Notícias não foi publicado no dia 23, segunda-feira, porque o matutino encerrava ao domingo! -, deu-se uma reviravolta nos resultados: o 24 de Junho trocava de lugar com o 1º de Maio, ficando na posição de mais votado. Porém, a 25, num dia em que "a votação cresceu imenso", o 1º de Maio quase passava novamente para a liderança da votação.
Mas foi no dia 26 de Janeiro que o resultado da votação começou a ficar definido, ao que muito se deve a forte participação popular do dia anterior, como relata o Jornal de Notícias desse dia: "Só hontem vieram tantos votos como em todos os dias anteriores. O dia de S. João tem enorme maioria. O dia 1 de Maio já está muito em baixo". E, a 27, o próprio jornal já dava como certo o vencedor: "Positivamente o dia mais votado é o de S. João. O dia 1 de Maio fica muito para trás. Augmenta bastante o de N. S. Conceição". Durante os dias seguintes foram publicados os resultados provisórios diários, sem que tivesse havido alterações de maior no sentido de voto dos portuenses.
Até que, a 4 de Fevereiro de 1911, foram publicados os totais finais da consulta popular: o dia 24 de Junho foi o mais votado, com 6565 votos, seguido pelo 1º de Maio, com 3075 votos, o dia de Nossa Senhora da Conceição, com 1975 votos, e o dia 9 de Julho, com oito. "Ficou, pois, vencedor o dia de S. João que é aquele que o povo do Porto escolhe para ser o de feriado municipal".
Só não se sabe se o vencedor do sorteio chegou a receber os seus 100 escudos, pois registada só ficou a promessa de que "o sorteio dos 10 prémios a que esta consulta dá lugar far-se-á em um dos próximos dias"...

Texto originalmente publicado na revista "Porto de Encontro", Julho de 2001.

terça-feira, 21 de junho de 2011

O Verão

O Verão começou agora!
O Verão é uma das quatro estações do ano. Neste período, as temperaturas permanecem elevadas e os dias são longos. Geralmente, o verão é também o período do ano reservado às férias.
O verão do hemisfério norte é chamado de "verão boreal", e o do hemisfério sul é chamado de "verão austral". O "verão boreal" tem início com o solstício de verão do Hemisfério Norte, que acontece cerca de 21 de Junho, e termina com o equinócio de Outono nesse mesmo hemisfério, por volta de 23 de Setembro. O "verão austral" tem início com o solstício de verão do Hemisfério Sul, que acontece cerca de 21 de Dezembro, e finda com o equinócio de outono, por volta de 20 de Março nesse mesmo hemisfério.

Nos tempos primitivos, era comum dividir o ano em cinco estações, sendo o verão dividido em duas partes: o verão propriamente dito, de tempo quente e chuvoso (geralmente começava no fim da primavera), e o estio, de tempo quente e seco palavra da qual deriva o termo "estiagem". Atualmente usa-se o termo "estio" para um período de seca e também como um sinônimo para verão.

O período das férias de verão ou o período em que uma pessoa passa fora de sua casa, geralmente em uma casa de praia, no verão, é conhecido como veraneio.

Fonte e mais informação

Boas Férias!

A Equipa da Biblioteca e Centro de Recursos do Agrupamento de Escolas Dom Paio Peres Correia deseja a toda a comunidade escolar e seus familiares, a todas as BECRE's e a todos os utilizadores e colaboradores deste blogue, umas Boas Férias Grandes, e para o ano há mais.

Férias Blue

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Exposições de final de ano lectivo, na BECRE



















Final de ano lectivo na BECRE

A história da criança e do desenho

Certa vez, uma criança fez um desenho. Demorou muito tempo a terminá-lo e usou todos os lápis de cor que tinha. Depois, foi ter com a avó e mostrou-lho.
— O que é isto? — perguntou à avó.
— É um desenho muito bonito e cheio de cor — respondeu a avó.
— Mas o que é? — insistiu.
A avó não soube responder.
A criança foi perguntar ao avô.
— Isto é quase um Picasso — respondeu o avô a rir.
— E o que é "quase um Picasso"? — perguntou a criança.
— Um pintor — foi a resposta do avô.
— Eu também sou pintor! — disse a criança.
De seguida foi ter com a irmã mais velha.
— Usaste mesmo as cores todas! — disse ela.
— Pois foi. Mas o que é isto?
— Uma gatafunhada colorida!
A criança tirou-lhe o desenho e foi ter com o pai que estava à mesa, a ler o jornal. A criança pôs o desenho em cima do jornal e não disse nada.
— Oh! — disse o pai. — Mas isto é um arco-íris todo colorido e muito bonito! Vai de uma ponta à outra. Vai de mim até ti!
— Acertaste! — disse a criança.
Em seguida, a criança e o pai penduraram o desenho precisamente no local onde a luz do sol se reflectia na parede.

Rolf Krenzer
Freue Dich auf jeden Tag
Würzburg, Echter Verlag, 1996
(Tradução e adaptação)
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

terça-feira, 14 de junho de 2011

Boa pergunta!... (Se souberes, responde nos comentários)

1. Como é que se escreve zero em algarismos romanos?

2. Porque é que os Flintstones comemoravam o Natal se eles viviam numa época antes de Cristo?

3. Porque é que os filmes com batalhas espaciais têm explosões tão barulhentas se o som não se propaga no vácuo?

4. Se depois do banho estamos limpos porque é que lavamos a toalha?

5. Se Deus está em todo lugar, porque é que as pessoas olham para cima para falar com ele?

6. Se os homens são todos iguais, porque é que as mulheres escolhem tanto?

7. Porque é que a palavra 'Grande' é menor do que a palavra 'Pequeno'?

8. Porque é que 'Separado' se escreve tudo junto e 'Tudo junto' se escreve separado?

9. Se o vinho é líquido, como pode existir vinho seco?

10. Porque é que as luas dos outros planetas têm nome, mas a nossa se chama só Lua?

11. Por que é que as pessoas apertam o comando da televisão com mais força quando a pilha está fraca?

12. O instituto que emite os certificados de qualidade ISO 9002 tem qualidade certificada por quem?

13. Quando inventaram o relógio como sabiam que horas eram para o poder acertar?

14.Se a ciência consegue desvendar até os mistérios do DNA, porque é que ninguém descobriu ainda a fórmula da Coca-Cola?

15. Como é que a placa 'É Proibido Pisar a Relva' foi lá colocada?

16. Porque é que quando alguém nos pede que ajudemos a procurar um objecto perdido temos a mania de perguntar: 'Onde é que perdeste?'?

17. Porque é que há pessoas que acordam os outros para perguntar se estavam a dormir?

18. Porque é que as caixas negras dos aviões são cor de laranja?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Santo António de Lisboa

Santo António de Lisboa, internacionalmente conhecido como Santo António de Pádua, OFM (Lisboa, 15 de Agosto de 1191-1195? - Pádua, 13 de Junho de 1231), de seu nome de baptismo Fernando de Bulhões, foi um Doutor da Igreja que viveu na viragem dos séculos XII e XIII, em plena Idade Média.

Santo António, de seu nome Fernando, filho de Martim de Bulhões(?) e Maria Teresa Taveira Azevedo, nasceu em Lisboa entre 1191 e 1195, (aceita-se oficialmente a data de 15 de Agosto de 1195), numa casa próxima da Sé de Lisboa, às portas da cidade, no local, assim se pensa, onde posteriormente se ergueu a igreja sob sua invocação.

Fez os primeiros estudos na Igreja de Santa Maria Maior (hoje Sé de Lisboa), ingressando mais tarde, por volta de 1210 ou 1211, como noviço, na Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no Mosteiro de São Vicente de Fora, guiado pela mão do então prior D. Estêvão. Primeiramente foi frade agostiniano, tendo ingressado como noviço (1210) no Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa, tendo posteriormente ido para o Convento de Santa Cruz, em Coimbra, onde fez os seus estudos de Direito.
Permaneceu em São Vicente de Fora por três anos, tendo com 18 ou 19 anos entrado no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, ao tempo um importante centro de cultura medieval e eclesiástica da Europa, onde realizou os estudos em Direito Canónico, Filosofia e Teologia.
O martírio de cinco franciscanos, decapitados em Marrocos, e a vinda dos seus restos mortais em 1220 para Coimbra fizeram Fernando abraçar o espírito de evangelização e trocar a Regra de Santo Agostinho pela Ordem de São Francisco, recolhendo-se no Eremitério dos Olivais de Coimbra e mudando então o nome para António.

Tornou-se franciscano em 1220 e viajou muito, vivendo inicialmente em Portugal, depois em Itália e em França. No ano de 1221 passou a fazer parte do Capítulo Geral da Ordem de Assis, a convite do próprio Francisco, o fundador. Foi professor de Teologia e grande pregador. Foi convidado por São Francisco para pregar contra os Albigenses em França.

Foi transferido depois para Bolonha e de seguida para Pádua, onde, bastante doente, faleceu a 13 de Junho de 1231 no Oratório de Arcela, com 36 (ou 40) anos. Os seus restos mortais repousam na Basílica de Pádua, construída em sua memória.

Foi canonizado pelo Papa Gregório IX, na catedral de Espoleto, em Itália, em 30 de Maio de 1232, no processo de canonização mais rápido de sempre da Igreja Católica.

Foi proclamado doutor da Igreja pelo papa Pio XII, em 1946, que o considera «exímio teólogo e insigne mestre em matérias de ascética e mística».

A sua representação iconográfica mais frequente é a de um jovem tonsurado envergando o traje dos frades menores (franciscanos), segurando o Menino Jesus sobre um livro e tendo uma cruz, ou um ramo de açucenas, na outra mão. Esses atributos podem ser substituídos por um saco de pão, embora geralmente a figura do menino Jesus (nu ou vestido, de pé ou sentado, interagindo ou não com o santo) mantenha-se na outra mão.

Santo António de Lisboa é considerado por muitos católicos um grande taumaturgo, sendo-lhe atribuído um notável número de milagres, desde os primeiros tempos após a sua morte até aos dias de hoje.

Muitos escritos são atribuídos a Santo António, na sua maioria apócrifos. Segundo os estudiosos, os Sermões Dominicais e Festivos são a única obra autêntica escrita pelo punho de Frei António, com a marca da sua personalidade e espiritualidade.

Protector dos noivos, é tradição em Lisboa realizar-se um casamento coletivo, no dia 13 de Junho, na sua igreja, junto à Sé de Lisboa.

Situados perto da Sé Patriarcal de Lisboa, a Igreja e Museu Antoniano em Lisboa são o centro da devoção ao santo lisboeta, em especial no dia que lhe é dedicado, 13 de Junho.
O Museu Antoniano é um museu monográfico dedicado à vida e veneração do santo, exibindo, em exposição permanente, objectos litúrgicos, gravuras, pinturas, cerâmicas e objectos de devoção que evocam a vida e o culto ao santo.
O Museu fica anexo à Igreja, local onde, de acordo com a tradição, nasceu o santo. Em conjunto, esses dois espaços constituem um dos mais importantes locais de homenagem ao mesmo.
No ano de 1995 comemorou-se o 800.º aniversário do seu nascimento, com grandes celebrações por toda a cidade de Lisboa.
Em Portugal, Santo António é muito venerado na cidade de Lisboa e o seu dia, 13 de Junho, é feriado municipal.
As festas em honra de Santo António começam logo na noite do dia 12. Todos os anos a cidade organiza as marchas populares, grande desfile alegórico que desce a Avenida da Liberdade (principal artéria da cidade), no qual competem os diferentes bairros.
Um grande fogo de artifício costuma encerrar o desfile. Os rapazes compram um manjerico (planta aromática) num pequeno vaso, para oferecer às namoradas, as quais trazem bandeirinhas com uma quadra popular, por vezes brejeira ou jocosa. A festa dura toda a noite e, um pouco por toda a cidade, há arraiais populares, locais de animação engalanados onde se comem sardinhas assadas na brasa, febras de porco (fêveras), caldo verde (uma sopa feita com couve tipo mineira, cortada aos fiapos, o que lhe confere uma cor esverdeada) e se bebe vinho tinto. Ouve-se música e dança-se até de madrugada, sobretudo no antigo e muito típico Bairro de Alfama.
Santo António é o santo casamenteiro, por isso a Câmara Municipal de Lisboa costuma organizar, na Sé Patriarcal de Lisboa, o casamento de jovens noivos de origem modesta, todos os anos no dia 13 de Junho. São conhecidos por 'noivos de Santo António', recebem ofertas do município e também de diversas empresas, como forma de auxiliar a nova família.

Um tostão para o Santo António


A
ndava um garoto a pedir um tostãozinho para o Santo António. Uns davam, outros não.
Até que passou por ele um senhor de sobretudo comprido, até aos pés, e de sandálias, vejam bem. E se estava frio!
O garoto, cá de baixo, reparou no desconcerto, não deu importância. E vá de pedir:
— Dê-me um tostãozinho para o Santo António...
O senhor do sobretudo castanho todo esfarrapado debruçou-se para o miúdo e, sorrindo, disse-lhe assim:
— Tanto andas tu a pedir como eu. Hoje ainda não me deram nada.
— A mim já — respondeu o garoto. — Quer ver?
E mostrou-lhe, na palma da mão, umas tantas moedas. O mendigo contou-as.
— Davam e sobravam para pagar uma sopa e um pão, ali, na taberna da esquina — observou o mendigo.
— Mas eu não tenho fome — preveniu o garoto. — A minha mãe deu-me de almoçar, ainda agora.
O senhor mendigo suspirou e disse:
— Pois a minha mãe já morreu. Deve ser por isso que ainda não comi nada, hoje...
O mocinho olhou para o homem, a certificar-se se seria verdade o que ele dizia. Os olhos tristes do mendigo garantiram-lhe que sim.
Foi a vez de o garoto suspirar:
— Este dinheiro era para eu comprar berlindes...
O homem de sandálias admirou-se:
— Mas tu, há bocadinho, não pedias para o Santo António?
O garoto riu-se:
— É um costume. Quero eu lá saber do Santo António! É tudo para os berlindes.
O mendigo não estranhou a revelação. Percebia-se, a conversa ia ficar por ali. Despediu-se:
— Ainda tenho hoje muito que andar. Adeus e boa colheita.
O rapazinho viu-o descer a ruela, num passo cansado. Então, num impulso, correu atrás dele e puxou pela ponta da corda, que o homem trazia à roda da cintura:
— Tome lá para um pão e para uma sopa. Mas não vá ali àquela casa da esquina, que são uns mal-encarados. Na outra rua abaixo, há mais onde comer.
O homem de sandálias e sobretudo roto, que lhe davam um ar de frade de antigamente, agradeceu as moedas e o conselho e seguiu caminho.
O garoto voltou ao seu poiso. E quando, pouco depois, porque estava frio, meteu as mãos nos bolsos, encontrou-os atulhados de berlindes...

António Torrado
O mercador de coisa nenhuma
Porto, Livraria Civilização Editora, 1994
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias