terça-feira, 13 de julho de 2010

O Menino que Consertou o Mundo.




Simples, não é?!

Biblioteca digital mundial


"A NOTÍCIA DO LANÇAMENTO NA INTERNET DA WDL, A BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL É UM PRESENTE DA UNESCO PARA A HUMANIDADE INTEIRA !!!
Reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos e explica em sete idiomas as jóias e relíquias culturais de todas as bibliotecas do planeta.
Tem, sobre tudo, carácter patrimonial" , antecipou em LA NACION Abdelaziz Abid, coordenador do projecto impulsionado pela UNESCO e outras 32 instituições.
A BDM não oferecerá documentos correntes, a não ser "com valor de patrimônio, que permitirão apreciar e conhecer melhor as culturas do mundo em idiomas diferentes: árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português.
Mas há documentos em linha em mais de 50 idiomas".

Entre os documentos mais antigos há alguns códices precolombianos, graças à contribuição do México, e os primeiros mapas da América, desenhados por Diego Gutiérrez para o rei de Espanha em 1562", explicou Abid.
Os tesouros incluem o Hyakumanto darani , um documento em japonês publicado no ano 764 e considerado o primeiro texto impresso da história; um relato dos azetecas que constitui a primeira menção do Menino Jesus no Novo Mundo; trabalhos de cientistas árabes desvelando o mistério da álgebra; ossos utilizados como oráculos e esteiras chinesas; a Bíblia de Gutenberg; antigas fotos latino-americanas da Biblioteca Nacional do Brasil e a célebre Bíblia do Diabo, do século XIII, da Biblioteca Nacional da Suécia.

Fácil de navegar:
Cada jóia da cultura universal aparece acompanhada de uma breve explicação do seu conteúdo e seu significado. Os documentos foram passados por scanners e incorporados no seu idioma original, mas as explicações aparecem em sete línguas, entre elas O PORTUGUÊS. A biblioteca começa com 1200 documentos, mas foi pensada para receber um número ilimitado de textos, gravados, mapas, fotografias e ilustrações.
O acesso é gratuito e os usuários podem ingressar directamente pela Web , sem necessidade de se registrarem.
Permite ao internauta orientar a sua busca por épocas, zonas geográficas, tipo de documento e instituição. O sistema propõe as explicações em sete idiomas (árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português), embora os originai s existam na sua língua original.
Desse modo, é possível, por exemplo, estudar em detalhe o Evangelho de São Mateus traduzido em aleutiano pelo missionário russo Ioann Veniamiov, em 1840. Com um simples clique, podem-se passar as páginas de um livro, aproximar ou afastar os textos e movê-los em todos os sentidos. A excelente definição das imagens permite uma leitura cômoda e minuciosa.
Entre as jóias que contem no momento a BDM está a Declaração de Independência dos Estados Unidos, assim como as Constituições de numerosos países; um texto japonês do século XVI considerado a primeira impressão da história; o jornal de um estudioso veneziano que acompanhou Fernão de Magalhães na sua viagem ao redor do mundo; o original das "Fábulas" de Lafontaine, o primeiro livro publicado nas Filipinas em espanhol e tagalog, a Bíblia de Gutemberg, e umas pinturas rupestres africanas que datam de 8.000 A.C.
Duas regiões do mundo estão particularmente bem representadas:

América Latina e Médio Oriente. Isso deve-se à activa participação da Biblioteca Nacional do Brasil, à biblioteca de Alexandria no Egipto e à Universidade Rei Abdulá da Arábia Saudita.
A estrutura da BDM foi decalcada do projecto de digitalização da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que começou em 1991 e atualmente contém 11 milhões de documentos em linha.
Os seus responsáveis afirmam que a BDM está sobretudo destinada a investigadores, professores e alunos. Mas a importância que reveste esse sítio vai muito além da incitação ao estudo das novas gerações que vivem num mundo audio-visual."

segunda-feira, 12 de julho de 2010

As crianças da mina - Fim

… continuação

Um dia, à hora da saída, Louis e Tounet foram atraídos por um relinchar. Um cavalo ia descer ao fundo da mina. Quando se aproximaram dele, reconheceram Tambour, o amigo que os saudava sempre no caminho para a escola.
O palafreneiro estava desesperado:
— O animal está demasiado nervoso. Nunca mais o atamos.
Sem proferir palavra, Tounet ajoelhou-se junto do cavalo e sussurrou-lhe algumas palavras ao ouvido.
Depois de alguns minutos, disse ao palafreneiro:
— Ele já está pronto para descer.
Com efeito, e para surpresa de todos, o animal parara de relinchar e parecia agora calmo. Deixou-se atar sem nervosismo, e em breve descia para o interior do poço, viajando dentro da cabina. Tambour deixava para sempre a superfície. Nunca mais veria a luz do dia…
As semanas passaram e Louis empurrava os vagões cada vez com mais facilidade. Mas era um trabalho muitíssimo duro: doíam-lhe as pernas, os braços e as costas, e o medo do grisu nunca o largava. Quando não conseguia reprimir mais as lágrimas, escondia-se para que não o vissem chorar.
Tounet tinha trocado Apolo por Tambour. Era a única pessoa que conseguia fazê-lo trabalhar. Quando ouviam um pequeno assobio alegre, todos sabiam que Tounet se aproximava com Tambour.
Louis havia também de recuperar o sorriso graças a uma personagem que começou a trabalhar no "Inferno". Certo dia, diante do seu vagão, apareceu um senhor elegantemente vestido.
— Quem terá tido a ideia de abrir galerias tão estreitas? — exclamou o homem.
Ao ver a criança, perguntou-lhe:
— Será que poderias ajudar-me, meu pequeno?
— Tenho de levar o vagão ao comboio, senhor — respondeu Louis.
— Deixa lá, não é isso que vai parar o trabalho na mina. De qualquer forma, nem sequer deverias estar aqui — continuou o homem.
Convencido, Louis deixou o vagão e ajudou o homem a desenrolar uma corrente estranha.
— Ora bem, onde terei posto o meu lápis? — perguntou-se o estranho.
— Está na sua orelha — reparou o rapaz.
— Está pois. Sou tão distraído — murmurou a personagem.
"Quem será este senhor tão estranho?" perguntava-se Louis.
De repente, ouviu-se um grito:
— Louis, onde estás?
Era Ratel.
— Com que então, escondes-te aí. Vais ver…
Ratel estacou ao avistar o visitante.
— Oh, Senhor Chagnon! Não o tinha visto — desculpou-se, num tom de voz servil.
— Vejo que não — disse, secamente, o homem.
Aproximando-se do encarregado, perguntou:
— Não lhe tinha já dito para parar a exploração deste sector?
— Disse sim, mas eu pensava que…
— Muito bem. Falarei directamente com o administrador.
O homem pegou no saco que tinha posto no chão e pediu a Louis:
— Pega no meu material e segue-me, pequeno.
— E o meu vagão? Quem vai empurrá-lo? — perguntou Ratel.
— Empurre-o você. A partir de agora, esta criança é o meu assistente pessoal.
Virou costas ao encarregado e afastou-se, seguido de Louis. Ratel ficou vermelho de raiva. Uma raiva que não se apagaria…
O Senhor Chagnon era engenheiro agrimensor. O seu trabalho consistia em medir as galerias com precisão, a fim de poder cartografar as minas. Utilizava instrumentos muito engraçados, que Louis estava encarregado de transportar. A criança acompanhava o agrimensor em todas as suas deslocações e ficava a conhecer as galerias.
Um dia, desembocaram numa galeria onde corria um pequeno riacho. Aqui e ali, as ratazanas comiam a madeira do passadiço e os cogumelos que cresciam por todo o lado. Perdido nos seus pensamentos, o Senhor Chagnon não viu os restos de refeição que um roedor acabava de abandonar. O pé escorregou, o homem perdeu o equilíbrio e caiu à água. Felizmente que não se magoou.
— Graças a Deus que a minha lâmpada não se apagou. Seria bem difícil encontrar a saída às escuras.
— Onde vai dar este riacho? — perguntou Louis, enquanto o seu novo chefe tentava secar-se.
— Vai dar a um poço especial: o poço mais baixo da mina. Existem tubos que aspiram a água desse poço para o exterior.
— Porque é preciso mandá-la para o exterior? — continuou Louis.
— Para que a mina não fique inundada em poucos dias.
Embora fosse distraído, o agrimensor conhecia as galerias como ninguém. Numa outra ocasião, o jovem mineiro foi surpreendido por uma corrente de ar.
— Estamos perto de um poço de ventilação — explicou o engenheiro. — Está equipado com um enorme ventilador, que permite renovar o ar da mina e eliminar uma parte do grisu.
Louis pensou que a mina estava cheia de segredos, segredos de que os habitantes da aldeia nem sequer suspeitavam. Mas, apesar de todo o prazer que explorar a mina na companhia do agrimensor lhe dava, ficava sempre contente quando a jornada de trabalho chegava ao fim.
Chegava a invejar as mulheres e crianças que recolhiam alguns restos de carvão nos aterros por detrás da mina. Contudo, mesmo que estas pessoas trabalhassem ao ar livre, estavam longe de ganhar o que ele ganhava como mineiro de fundo. Pensava o mesmo quando via as mulheres encarregadas de retirar os pedaços de rocha misturados com o carvão. Era um trabalho monótono e fatigante, pelo qual eram pagas apenas segundo o número de cestos de pedras que enchiam por dia.
Em redor de um dos pontões, crescia um emaranhado de vias-férreas. O carvão acabado de escolher pelas mulheres era carregado em grandes vagões, que partiam em direcção a Lyon, a Le Puy, e a outros portos do rio Loire. Louis continuava a seguir o engenheiro por todo o lado, dos pontões aos passadiços, dos passadiços ao edifício onde se encontrava o escritório do engenheiro. Depois de ter arrumado o material, o rapaz punha-se a admirar os mapas que estavam nas paredes.
Quando, às vezes, o engenheiro não passava o dia todo no fundo da mina, Louis transportava lâmpadas. Atravessava a mina inteira para trocar lâmpadas acesas por lâmpadas apagadas, melhorando assim o seu conhecimento das galerias.
Louis esperava sempre, com impaciência, a chegada do domingo, o único dia de descanso dos mineiros. Deitado na erva ao lado de Tounet, desfrutava, enfim, do sol. Há mais de três meses que trabalhavam no fundo da mina. A alguns metros deles, o pai de Louis ocupava-se do jardim. Antigo mineiro, sofria de silicose, uma doença dos pulmões que afecta a maioria dos mineiros. Como já não podia trabalhar na mina, ocupava-se da horta para alimentar a família.
Tounet perguntou a Louis:
— Quantos anos vivem os cavalos?
Um pouco surpreendido, Louis pensou por momentos e respondeu:
— Não sei, mas não tantos como as pessoas. Porque perguntas?
— Por nada. Penso que gostaria de passar a vida inteira com o Tambour.
No dia seguinte, regressaram ao trabalho. Mal os dois pequenos mineiros chegaram ao fundo, encontraram Ratel, que saía de uma das galerias. Louis esboçou um sorriso trocista que logo perdeu.
— Vem comigo! — ordenou o encarregado.
— Estou à espera do Senhor Chagnon — resistiu o rapaz.
— Não estou a falar contigo! Estou a falar com ele!
E designou Tounet com o queixo.
— Mas… e o Tambour… — balbuciou Tounet.
Ratel nem o ouvira:
— Como o Senhor Engenheiro me tira o meu pessoal, tenho de recuperá-lo onde posso.
O encarregado pegou no rapaz pelo colarinho e levou-o consigo.
Tounet gritava e chorava:
— Tambour! Quero ver o Tambour!
Louis sentiu-se consternado. Como não podia atacá-lo, Ratel atacava o seu melhor amigo. Quando o Senhor Chagnon chegou, a criança, quase a chorar, contou-lhe o que se passara.
— Ai é assim que ele se comporta? Não te preocupes, hoje à noite falarei com o administrador. O mais provável é que Ratel seja despedido. Tem dado demasiado nas vistas!
Louis ficou mais tranquilo. No dia seguinte, Tounet voltaria para junto do cavalo e ele livrar-se-ia de vez do encarregado. Foi com o coração mais leve que seguiu o engenheiro rumo a uma galeria que uma equipa estava naquele momento a cavar na rocha.
Naquele preciso instante, Ratel colocava Tounet diante de um ventilador manual e mandava-o pôr o maquinismo a trabalhar mais depressa. Com os olhos cheios de lágrimas, o rapazinho começou a dar à manivela. Os mineiros tinham pena dele, mas não ousavam dizer nada, com medo de Ratel.
Louis e o engenheiro tinham acabado de chegar à nova galeria.
— Se os meus cálculos estiverem certos, em breve devemos encontrar carvão — exclamou o agrimensor.
Em seguida desatou a rir, porque se tinha enganado no instrumento que tirara do saco. Louis riu também, sempre admirado com a distracção do homem.
Mas as coisas não estavam a correr bem a Tounet. O cansaço e o desespero consumiam-no. Estava totalmente exausto. Foi então que viu algo que lhe partiu o coração: Tambour estava a ser conduzido por um mineiro e nem reparara nele. O rapaz desatou a soluçar.
Talvez por causa das lágrimas, teve de repente a sensação de que a luz da galeria se esbatera. Tentou regular a chama da sua lâmpada, sem reparar no tom azulado que a chama adquirira. Então, morto de cansaço e esquecido de todas as recomendações que lhe tinham sido feitas vezes sem conta, Tounet levantou a grelha da lâmpada.
É impossível descrever o barulho tremendo e a detonação infernal que se fez sentir por toda a mina. Dentro da nova galeria todos foram projectados ao solo. Depois da surpresa, veio o pânico.
— Temos de evacuar toda a gente! — gritou alguém por entre as nuvens de pó.
 Desataram todos a correr em direcção à cabina que os levaria à superfície. Louis ouviu uma discussão entre dois encarregados:
— Alguém apanhou grisu lá para os lados do "Inferno".
"Grisu? Inferno?", pensou Louis.
— Tounet! — gritou, espavorido, desatando a correr em direcção ao labirinto mineiro.
Sabia bem por onde ir, pois já lá tinha estado. Reflectia nas direcções a tomar em voz alta, para apaziguar o medo que sentia. De repente, ficou sem fôlego, e sentiu que o chão lhe fugia debaixo dos pés. Um mineiro acabara de o agarrar pelo pescoço e levava-o de volta para a cabina.
— Deixe-me, deixe-me! Tenho de ir procurar o Tounet!
O mineiro nem lhe prestou atenção. Louis gritou pelo amigo, mas em vão. Na obscuridade da mina, no coração do Inferno, Tounet já não podia ouvi-lo.
O balanço do acidente foi anunciado nessa mesma noite: catorze feridos e seis mortos. Entre os mortos, estava um rapaz chamado Antoine Vallat, que todos conheciam como Tounet. Um cavalo tinha igualmente morrido na mina. As galerias, fragilizadas pela explosão, não demoraram a desmoronar.
No dia seguinte ao drama, Louis voltou ao trabalho na mina. Passaria aí toda a sua vida. Atingido pela silicose, como o pai, desceu ao poço pela última vez em 1913, numa cabina instalada no novo poço Couriot. Morreu dois anos mais tarde, a 19 de Maio de 1915.
Foi encontrado deitado na relva, a alguns metros do seu jardim, aquele mesmo onde quarenta anos antes o amigo tinha murmurado:
— Gostaria de passar a vida inteira com o Tambour.

FIM
Fabien Grégoire
Les enfants de la mine
Paris, l'école des loisirs, 2003
(Tradução e adaptação)
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

terça-feira, 6 de julho de 2010

As crianças da mina - 1ª parte


— Tenham cuidado ao sair. O solo está escorregadio — avisou o professor, enquanto abria a porta pesada.
Apesar da advertência, os alunos tiveram dificuldade em resistir a uma pequena corrida, tanto mais que tinham passado a manhã toda sentados. Iniciou-se uma perseguição, um soco derrapou no gelo fino, e a brincadeira acabou em gargalhadas.
De todos os alunos, apenas dois não partilharam o bom humor reinante. 
— Louis e Tounet! — exclamou o professor. — O que fazem aqui? As aulas já acabaram.
— Queríamos despedir-nos de si — murmurou Tounet.
— Sim, queríamos — confirmou Louis. — Amanhã descemos os dois e não vamos poder voltar.
A fisionomia do professor alterou-se e uma profunda tristeza invadiu os seus olhos.
— Já me tinha esquecido — disse.
Ficou calado por uns instantes e depois apertou demoradamente a mão de cada um dos rapazes.
— Vão, meus filhos, e sejam prudentes.

Nessa noite de Inverno, Louis e Tounet deixaram a escola para sempre. No dia seguinte, iriam descer à mina. A mina engolia todas as crianças que fizessem dez anos. Era essa a regra, tanto em Saint-Étienne, como em toda a França. Os dois rapazes pararam para saudar o cavalinho Tambour pela última vez. Fizesse chuva ou sol, o animal esperava--os sempre por detrás da cerca.
— Adeus, Tambour, vamos sentir a tua falta.
Depois da despedida, abalaram para suas casas, que ficavam nos arredores da cidade.
Na manhã seguinte, às cinco horas, os mineiros partiram para o trabalho. Eram cinco os que afrontavam a noite e o vento glacial: Louis e o primo, Émile, acompanhados por Tounet, pelo pai deste, Isidore, e pelo irmão, Charles.


— Eis-nos chegados! — resmungou Isidore, depois de uns longos minutos de caminhada.
As instalações da mina surgiram, devagar, diante dos olhos do grupo. Por entre um conjunto de barracas, chaminés e carris de comboio, distinguiam-se as silhuetas de dois pontões. Estavam construídos na vertical dos poços e sustentavam os cabos dos ascensores.
Cada poço tinha um nome. Louis e Tounet trabalhariam no Châtelus nº 1. A estrutura de madeira erguia-se com orgulho junto da via-férrea que conduzia a Firminy. À entrada do pontão, começava todo um labirinto de construções e de passagens.
— Vamos perder-nos — inquietou-se Tounet.
Mas chegaram sem problemas ao local onde cada um recebia a sua lâmpada. Charles repetiu os avisos:

— Nunca levantem a grelha da vossa lâmpada! Se a chama ficar azulada e aumentar, é sinal de grisu.
O grisu, um gás explosivo libertado pelo carvão, estava sempre na origem de vários acidentes. Três anos antes, por exemplo, tinha matado 70 pessoas no poço Jabin, a leste da cidade. Para evitar as explosões, as lâmpadas estavam equipadas com uma fina grelha metálica, que impedia que o grisu que houvesse na mina se inflamasse. Daí o aviso de Charles.
De repente, sem se aperceberem, já estavam diante do elevador, à espera de que uma das cabinas subisse. Os cabos desfilavam a toda a velocidade. Ouvia-se um barulho de trovão algures.
— Tens medo? — perguntou Tounet a Louis.
— Não. E tu?
— Eu também não — retorquiu o rapazinho.
Mas, apesar do esforço para aparentar a calma, estavam ambos muito pálidos.
Por entre um barulho de ferragens, uma cabina surgiu do poço para os levar para o fundo da mina. Mal se instalaram, a porta fechou-se com um ruído surdo. De repente, como se o chão fugisse debaixo dos pés, a cabina desceu a pique com uma rapidez incrível. Os dois rapazinhos tiveram a impressão de que o estômago ia sair-lhes pela boca.
Um vento escaldante fustigou-lhes o rosto. Foram sacudidos com violência: da esquerda para a direita, de frente para trás, de encontro às grades, de encontro às pernas dos mineiros. O vazio abriu-se debaixo deles e Louis pensou que ia desmaiar. Depois, a cabina travou bruscamente e imobilizou-se.
— Chegámos, rapazes!
Viam finalmente a mina de que tanto tinham ouvido falar. Diante deles estava uma sala, da qual partiam duas galerias.


— Toca a andar! Não estamos aqui para ver a paisagem! — disse Charles.
As equipas separaram-se. Louis foi com Émile para o estaleiro, enquanto Tounet acompanhava o irmão às cavalariças.
A equipa encabeçada por Émile atravessou dezenas de galerias, embrenhando-se cada vez mais no coração da terra. Quando chegou ao estaleiro, Émile disse:
— É aqui! O tecto está quase a abater. Temos de substituir a madeira toda num percurso de dez metros.
Louis foi encarregado de transportar as pranchas desde o armazém, a algumas dezenas de metros dali. A temperatura era insuportável e o rapaz já tinha saudades do vento glacial do exterior. Por volta do meio-dia, a refeição magra que tinham levado foi bem-vinda. Os mineiros contaram histórias como a do cavalo que se embebedara com o vinho do palafreneiro ou a do mineiro que jurava ter encontrado Belzebu numa mina de Ricamarie.
 Findas a refeição e a brincadeira, o trabalho foi retomado, no meio de uma humidade impressionante. Por volta das quatro da tarde, iniciou-se o regresso à superfície. Louis reencontrou Tounet, que tinha sido encarregado de conduzir um dos cavalos da mina.
— O meu cavalo chama-se Apolo — disse, com orgulho.
Os dois amigos tinham mil coisas a contar um ao outro, depois deste primeiro dia. De volta a casa, tomaram banho, a última tarefa da jornada de um mineiro. Mas Louis sabia, por ter visto outros mineiros, que a poeira do carvão não sairia só com um banho…
As duas crianças desembaraçaram-se bem nas primeiras semanas de trabalho. Contudo, um incidente entre Louis e Ratel, um dos encarregados da mina, veio estragar o bom ambiente. Ao manobrar um tronco pesado demais, Louis magoou acidentalmente o encarregado num joelho.
— Imbecil! — gritou o homem. — Nem vês o que fazes!
 — É o meu primito. Está a começar — desculpou-o Émile.
— É teu primo? Então tiro-te dois francos por não o teres ensinado a respeitar os superiores. Tu — continuou, falando com Louis — vens comigo. Tenho um óptimo trabalho para um idiota do teu estilo.
Louis foi empurrar vagões no sector oeste da mina, uma zona em que as galerias eram antigas, confusas e perigosas. Os mineiros chamavam a este sector "O Inferno". Enquanto empurrava um vagão carregado com mais de cem quilos de carvão, Louis tentava encontrar um apoio para fincar os pés no solo lamacento. O seu trabalho consistia em conduzir as carruagens desde o local de extracção do carvão até à galeria principal. Aqui, os vagões eram atrelados de forma a constituir pequenos comboios, que iriam ser puxados por cavalos até à cabina.
"O Inferno" fazia jus ao nome: respirava-se com muita dificuldade e o calor era mais forte do que em qualquer outro lado da mina. Ainda por cima, o local tinha fama de estar cheio de grisu, devido às características do carvão aí existente. Os mineiros tinham muito cuidado com as candeias e respeitavam todas as normas de segurança, para não pôr em perigo a sua vida e a dos seus camaradas de trabalho.

continua…
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

sexta-feira, 2 de julho de 2010

AVISO-GPS

Para muita gente as férias acabaram, mas para outros começam agora,  por isso gostava de vos lembrar algo que se pode tornar num caso muito
 triste.

 Quando se faz uma viagem longa utilizamos quase todos um GPS para nos orientar durante a deslocação.
 Os ladrões também.
 Uma família parte para férias no carro.
 A viagem decorre normalmente e decidem parar para tomar um refresco, deixando a viatura no estacionamento próximo.
 Quando regressam, constatam que o GPS foi roubado.

 Algumas horas mais tarde os vizinhos telefonam para os informar que a  casa foi assaltada.
 Os ladrões utilizaram simplesmente a função de retorno a casa. 
 Eles estavam tranquilos, sabendo que os proprietários estavam longe, portanto não seriam incomodados.
 Um conselho:
 No GPS mude o seu endereço (que você conhece sem dúvida) pelo posto da policia próximo.
 Os ladrões ficarão com o GPS mas não lhe roubarão a casa.

 Todos os cuidados são poucos, portanto seja prudente quando se desloca em viatura.

Boas férias!