Iniciamos com este
conto e durante seis semanas um ciclo dedicado ao valor da RETIDÃO
No negócio de mobílias usadas, não se pode comprar
por catálogo, como se faz com as novas. As pessoas aparecem e o comerciante tem
de ir às casas vê-las e fazer o seu preço. “Não se pode vender o que não se
tem,” costumava dizer o meu pai. Por isso, estas visitas eram de extrema importância
para ele.
Quando eu tinha 13 anos, o meu pai ficou sem o
gerente da loja, um homem que, com o seu único braço, trabalhava muito mais do
que muitas pessoas com os dois. Conseguia, por exemplo, suspender uma cadeira
da ponta de uma vara, içá-la no ar e fazê-la deslizar até uns ganchos presos ao
teto, bem à vista de todos quantos entravam na loja. Na falta do gerente, o meu
pai veio pedir-me ajuda, pedindo-me que ficasse à frente do balcão enquanto ele
procedia às visitas do dia, até se encontrar a pessoa certa. A loja tinha
dezenas de milhar de objetos. “As pessoas gostam de regatear,” disse-me, “por
isso não há preços marcados. Apenas tens de ter alguns pontos de referência.”
Levou-me a dar uma volta pela loja. “Podes vender um
pequeno motor por quatro dólares. Por um frigorífico, dependendo do estado em
que se encontrar, podes pedir entre trinta e cinco e sessenta dólares. Se tiver
congelador, poderás ir até aos oitenta, vá lá, até aos cem dólares, caso esteja
em ótimo estado. Se uma junta estiver solta, é para o lixo. Não ligues a riscos
ou rachadelas. Os pratos vêm com a mobília e nem sequer os levo em consideração
quando lhes atribuo o preço. Poderás vendê-los por um preço simpático, algures
entre os cinco e os vinte e cinco cêntimos.”
Todos os dias depois da escola, voava na minha
bicicleta até à loja. Um dia, estava eu a escrever o preço de um prato muito
bonito numa tirinha de papel quando o meu pai entrou. Tinha pedido um dólar e o
comprador não hesitou. Fiquei todo contente. O meu pai viu o que eu estava a
fazer, virou-se para o cliente e disse, “Que bela pechincha leva aí! O meu
empregado fez-‑lhe o preço e é esse o preço certo.” Mais tarde, perguntei ao
meu pai, “Porque é que o pai disse aquilo?”
Tratava-se, pelos vistos, de um prato antigo que
valia umas boas centenas de dólares. Fiquei descoroçoado. Tanto que me
esforçava por dar o meu melhor. Pelos vistos, em vez de ajudar o meu pai,
estava a fazê-lo perder dinheiro.
“Se quisesse, podia ter impedido o negócio,” disse
ele. “Estavas a escrever o preço e ainda não tinhas pegado no dinheiro. Além
disso, és menor de idade. Só que um judeu honra a sua palavra e a dos seus
colaboradores.”
Este incidente haveria de ter uma consequência. Anos
mais tarde, a minha mulher e eu tivemos de mandar uma grande quantia de
dinheiro para a nossa filha em Israel. Um funcionário do banco aconselhou a
minha mulher a enviar o dinheiro através de cheque visado, uma vez que, dessa
forma, estaríamos isentos do pagamento de comissões. Quando recebi o extrato
bancário, porém, reparei que nos tinha sido debitada uma série de taxas.
Decidi, então, ir falar com a gerente do banco e explicar-lhe que um
funcionário seu é que nos tinha aconselhado sobre a melhor forma de evitar despesas
com o envio do dinheiro. Ouviu-me em silêncio e, no final, disse apenas,
“Lamentamos o sucedido, mas acontece que o colega deu uma informação errada.”
Foi então que lhe contei a história do meu pai e de
como ele fazia sua a palavra dos seus empregados, honrando-a. Terminei,
dizendo, “Isto aconteceu sem que o cliente tivesse sido lesado e tendo o meu
pai descoberto o erro antes de a transação ter sido efetuada. Imagine só como
ele teria agido se tivesse havido danos! Espero que o meu banco atue no mínimo
com a mesma integridade do meu pai.”
Durante todo o tempo em que falei, a gerente não
proferiu palavra e assim continuou, enquanto eu aguardava a sua reação. Quando
falou, a voz era suave. “O Banco de Comércio Imperial do Canadá não ficará
aquém do seu pai,” disse, com toda a dignidade. Prometeu, então, a anulação de
todas as taxas indevidamente cobradas.
Enquanto lhe agradecia e me preparava para ir
embora, senti-me grato por uma história de integridade ainda ter o poder, nos
tempos que correm, de tocar os corações e acordar consciências no mundo
impessoal dos negócios.
Rabbi Roy D. Tanenbaum
Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Rabbi Dov Peretz Elkins
Chicken Soup for the Jewish Soul
HCIbooks, Deerfield Beach, 1999
(Tradução e adaptação)
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