Aconteceu o que há muito era esperado. A Kodak, empresa que tornou a fotografia num fenómeno de massas há mais de cem anos, apresentou hoje um pedido de falência voluntária perante um tribunal de Nova Iorque.
Com este passo, a Kodak pretende reforçar a liquidez nos Estados Unidos e no exterior, rentabilizar a propriedade intelectual não estratégica e resolver a situação dos passivos, concentrando-se nos negócios mais competitivos. Um último esforço para se salvar.
Fundada em 1888 e com sede em Rochester (Nova Iorque), este não parecia um cenário possível para a mesma Kodak que durante anos dominou o mercado nas áreas da fotografia e do cinema. Os tempos mudaram. Quando George Eastman - jovem modesto que começara a trabalhar aos 14 anos para cuidar da mãe, viúva, e de duas irmãs - se interessou pela fotografia, desbravando um caminho onde foi pioneiro, as pessoas renderam-se a uma novidade que lhes transformou os "retratos" numa coisa fácil e acessível.
"Você aperta o botão, nós fazemos o resto" foi o slogan criado pelo próprio fundador e, de facto, a essência de um negócio que floresceu anos a fio, ditando as regras. Os problemas começaram na década de 1980, quando os filmes fotográficos da Kodak começaram a perder terreno face à concorrência estrangeira, tendo a empresa de lidar logo em seguida com o aparecimento da fotografia digital (Kodak foi a inventora da máquina digital mas nunca capitalizou essa nova tecnologia) e dos smartphones.
Em busca de alternativas viáveis, a companhia voltou-se para os químicos, produtos de limpeza e equipamentos médicos, antes de finalmente se decidir pela exploração das impressoras comerciais, via em que se concentrou nos últimos cinco anos, embora sem o sucesso economicamente necessário para retirar a empresa de aflições.
Ao escolher tentar vingar num mercado saturado e difícil de romper, a Kodak caminhou de prejuízo em prejuízo até lhe sobrar um grande problema final, sobretudo depois de em 2011 a estratégia de negociar patentes e licenças ter deixado de garantir a entrada de dinheiro.
De nada serviu tentar a venda das suas patentes digitais em agosto passado. Os potenciais compradores adivinhavam um pedido de insolvência e, assim sendo, preferiram esperar para ver.
A Kodak, que vale agora pouco mais de 90 milhões de euros, quando em 2004, estava valorizada em mais de 23 mil milhões de euros, vivia desde o início do ano sob a ameaça de expulsão de Wall Street, por parte do operador da Bolsa de Nova Iorque, o New York Stock Exchange, que tinha dado à empresa seis meses para recuperar a cotação das suas ações. Para as 19 mil pessoas que a companhia emprega, o futuro é incerto.
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