segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Santa Cecília, padroeira da Música


Padroeira da Música, Santa Cecília foi uma jovem de suave beleza que, com inquebrantável força de ânimo e possuída da mais ardente fé, professou e difundiu o Cristianismo.

Interpretada pelos mais notáveis pintores, escultores e poetas, sempre lhe foram atribuídos os mais variados símbolos musicais, embora com particular predilecção pelo órgão. Isso deve-se em grande parte ao carácter religioso que, a partir do século XV, se atribui a este instrumento.

Historicamente as mais antigas referências não lhe conferem dotes particulares de musicalidade. Sabe-se, contudo, que era uma jovem patrícia muito culta, pertencendo a uma das mais ilustres famílias de Roma pelo que, tendo recebido esmerada educação, a prática da música ser-lhe-ía habitual, tocando, provavelmente, algum instrumento mais consentâneo com a sua feminilidade, como a harpa, a lira ou o saltério, pois o órgão, com que tão frequentemente é representada, era ainda um instrumento grosseiro e pouco difundido.

Segundo uma " Paixão " publicada no século V para satisfazer a curiosidade dos peregrinos que visitavam a primitiva Igreja " in Trastévere " dedicada à sua memória em Roma, Cecília, desposada contra vontade por imposição de seus pais, cumpriu o voto de castidade, já anteriormente formulado fazendo saber a Valeriano - o noivo - que a sua alma, bem como o seu corpo, estavam consagrados a Deus.

Valeriano sentiu-se tocado pela pureza daqueles propósitos e, não só prometeu respeitar tais votos, como, procurando o venerando bispo Urbano, que exercia o ministério sacerdotal escondido nas catacumbas, recebeu das suas mãos o baptismo.

Ao regressar, encontrou Cecília em oração e um anjo a seu lado. Este, que tinha duas coroas na mão, colocou uma sobre a cabeça da jovem e a outra sobre a de Valeriano. Penetrado pela graça, o nobre príncipe romano, anima seu irmão Tibúrcio a receber igualmente o baptismo.

Entretanto recrudescia a perseguição aos cristãos e os dois irmãos davam-se à piedosa missão de recolher os corpos daqueles confessores da fé a quem as autoridades imperiais recusavam um lugar nos cemitérios. Pouco depois foram também eles presos e decapitados. Por sua vez, Cecília foi igualmente presa por ter ousado dar-lhes sepultura na sua "vila" da Via Ápia onde, com grande fervor, exercia a caridade acudindo aos pobres e protegendo os perseguidos.

Colocada perante a alternativa de sacrificar aos deuses de Roma ou a morrer, não hesitou e dispôs-se ao sacrifício. Quando, durante os interrogatórios, o prefeito Almáquio lhe lembrava ter sobre ela direito de vida e de morte, respondeu: "É falso, porque podes dar-me a morte, mas não me podes dar a vida."

Almáquio condenou-a a morrer asfixiada por vapor mas, como Cecília sobreviveu a esse suplício, ordenou que lhe cortassem a cabeça. O carrasco, por imperícia ou por ter vacilado ante a serenidade angélica da condenada, depois de três golpes sucessivos não chegou a decepar a formosa cabeça deixando a mártir em dolorosa agonia.

Só passados três dias exalou o último suspiro e todos quantos haviam presenciado o modo sublime como aceitara tamanha provação, convertidos por tal exemplo à mesma fé, suplicavam a sua intercessão para que, na hora suprema, tivessem o mesmo valor e heroísmo por ela demonstrados, mesmo nas maiores angústias.

Nas "Actas" do martírio de Santa Cecília, que se crê tenha ocorrido no ano de 230, lê-se:

Enquanto ressoavam os órgãos, a Virgem Santa Cecília, no íntimo da sua mente, só a Deus se dirigia e cantava: "Permiti, Senhor, que o meu coração e o meu corpo permaneçam imaculados ", tradução da frase original assim iniciada - " Cantantibus organis Caecilia Domino decantabat dicens..." Tomando falsamente a palavra "organis" (designação sumária de instrumento) por órgão, os pintores já no século XV a fantasiavam tangendo-o como acompanhador dos seus piedosos cânticos.

Feita deste modo a primeira iconografia, nada mais natural do que os músicos logo a tenham escolhido para sua protectora.

Henrique Fernandes (1987) Em Louvor de Santa Cecília. Ponto e Contraponto , ano 0, n.º 0




Santa Cecília no panorama da História da Música

No século XVI constituíram-se em Paris e em Roma as primeiras associações da classe musical sob a égide de Santa Cecília. Alguns anos depois, em Inglaterra, instituiu-se um concurso anual, premiado pela corte, dando origem à criação de Odes literárias e musicais a ela consagradas por compositores tão ilustres como Henry Purcell, Haendel e, já no nosso tempo, Benjamim Britten.

EM PORTUGAL

Embora se encontrem referências mais remotas, o primeiro estatuto da Irmandade de Santa Cecília data de 1603.

Instalada primitivamente no Convento do Espírito Santo da Pedreira, que ficava situado no local em que hoje vemos os Armazéns do Chiado, foi transferida mais tarde para a antiga Igreja de Santa Justa, situada então na actual rua dos Fanqueiros, em Lisboa.

A fama desta Confraria ia crescendo de ano para ano devido, principalmente, ao brilho com que realizava a festa da sua padroeira.

D. João V foi um dos seus mais desvelados protectores o mesmo acontecendo com seu filho D. José I. A terrível catástrofe de Novembro de 1755, obrigou a Irmandade a procurar outras instalações vindo a fixar-se definitivamente, em 1787, na reconstruída Igreja dos Mártires, onde ainda hoje se encontra.

Depois das vicissitudes motivadas pelas invasões francesas e pela guerra civil que se lhes seguiu, as festas em honra de Santa Cecília readquiriram o seu antigo esplendor (testemunhado eloquentemente por William Beckford nas suas célebres cartas).

Consideradas por essa época como um dos maiores acontecimentos artísticos da vida musical de Lisboa, facilmente se adivinha como era exígua a Igreja dos Mártires para acolher todos quantos ali acorriam. Magníficas incentivas para os nossos compositores, lá foram dadas a ouvir obras de Marcos de Portugal, Leal Moreira, João de Sousa Carvalho, João Domingos Bomtempo e, dos compositores oitocentistas: Joaquim Casimiro, Santos Pinto, Guilherme Cossoul, Augusto Machado e muitos outros. Era assim, já passados os meados do século XIX, que entre nós se festejava esse dia particularmente caro a todos os músicos.

Em Paris

Também em Paris a data era solenemente assinalada na Igreja de Santo Eustáquio, havendo a tradição de todos os anos se fazer a primeira audição de uma missa escrita expressamente em honra de Santa Cecília.

Haendel, Haydn, Gounod, César Franck, Ambroise Thomas, Saint-Saens, figuram entre os mais famosos autores de missas Cecilianas.

Na Alemanha

Entre as numerosas associações de Santa Cecília espalhadas pelo mundo devem ainda referir-se os Caecilienverein, grupos alemães de cultores de música sacra, fundados em 1886 pelo padre Franz Witt. Tinham como objectivo reformar o canto litúrgico de acordo com os princípios do "Motu Proprio", de Pio X, divulgar o canto gregoriano e estimular a criação de novas obras. A sua acção propagou-se a numerosas regiões da Alemanha, disseminando-se em organizações paroquiais que se reuniam regularmente em congressos gerais participados por músicos de outros países. Estas actividades foram interrompidas pelo regime hitleriano.
Henrique Fernandes (1987) Em Louvor de Santa Cecília. Ponto e Contraponto, ano 0, n.º 0


Pesquisa realizada por:
André Vitória nº3
Diogo Salvador nº5
7ºD

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