sexta-feira, 7 de março de 2008

O que ainda se pode fazer

Há muitos milhares de anos atrás, o Laaerberg, um pequeno monte na cidade de Viena, estava coberto por floresta virgem. Nela viviam o mamute e o rinoceronte sem corno. O mamute extinguiu-se, o rinoceronte emigrou para sul mas a floresta virgem ficou. Ficou assim por muitos milhares de anos, até que, há poucos séculos, os homens decidiram arrancá-la.
Como o solo deixara de ser protegido pelas árvores, o sol queimava-o. Como consequência, a terra secou e ficou reduzida a pó. O vento, quando soprava, arrastava para longe esse pó que fora terra fértil na altura em que a vegetação a protegera. Uma estepe estendia-se agora na área que tinha sido outrora uma grande floresta. Erva insuficiente segurava com as fracas raízes uma fina camada de húmus onde, apenas alguns centímetros mais fundo, estava já o "esqueleto" e as "entranhas" do Laaerberg: cascalho e lama infértil.
O clima da zona (o "microclima") também se adaptara ao novo e horrível aspecto do Laaerberg. A antiga floresta de carvalhos tornava o ar mais fresco e fazia com que houvesse mais humidade no ar, por isso chovia mais. Agora, sem árvores, o Verão era muito quente e seco, e a chuva, de que as plantas tanto precisavam, caía muito mais esporadicamente do que antes.
No início dos anos 50, a município decidiu que a antiga floresta devia renascer tão bonita como fora dantes. Em 1953 e 1954 a administração das florestas plantou árvores pequeninas, mas a terra húmida da floresta há muito que se tinha tornado numa estepe completamente seca. As raízes não tinham humidade e o sol queimava as pontas frágeis. Assim não iam conseguir.
Para tornarem a nascer árvores, o solo precisava de mais água, de mais nutrientes e de mais protecção contra o sol intenso e escaldante do Verão. A administração das florestas construiu um sistema de rega e transportou terra boa, húmus, para o Laaerberg. Quando ficou pronto plantaram... não, desta vez não foram ainda plantados carvalhos.
Primeiro, plantaram arbustos para impedir o solo de secar e que ao mesmo tempo seguravam as encostas dos lagos. Foram várias espécies de espinheiros e outras plantas que cresciam espontaneamente em zonas como aquela. Nas encostas também se plantaram espinheiros e arbustos com picos para impedirem as pessoas de descer pelas colinas, o que poderia danificá-las.
De seguida, os funcionários da administração das florestas plantaram freixos de crescimento rápido que não só davam sombra, como também protegiam do vento. E depois esperaram. Cuidaram da nova plantação até os arbustos se tornarem fortes e espessos e os freixos se tornarem suficientemente grandes. Isto durou muitos anos. Finalmente chegou a altura de plantar as primeiras árvores espontâneas daquela zona. Carvalhos e áceres, freixos e pinheiros bravos. Desta vez, as arvorezinhas desenvolveram-se e quando deixaram de precisar do suporte dos freixos, que nunca antes tinham nascido no local, estes foram arrancados.
Os guardas florestais plantaram cerca de 270.000 plantas florestais e trabalharam durante cerca de 25 anos para devolverem ao Laaerberg o seu antigo aspecto. A Natureza, uma vez desertificada e danificada, não é assim tão fácil de restabelecer. Mas agora cá está a nova floresta, como se nunca tivesse sido diferente.
A propósito, será que o Laaerberg é natural? Claro! Mas também é artificial, naturalmente...


Ernst Epler
Lene Mayer-Skumanz (org.)
Hoffentlich bald
Wien, Herder Verlag, 1986
Texto traduzido e adaptado

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