sábado, 15 de março de 2008

Agradecer


"Obrigado, Mãe-Terra. Obrigado, Pai-Céu. Obrigado por este dia."
O meu pai diz isto, todas as manhãs, quando está no campo perto de nossa casa.
Tal como os seus amigos índios — cantores e contadores de histórias — o meu pai acha que as coisas da Natureza são uma dádiva. E que devemos dar algo em troca dessa oferta. Que devemos dar graças.
O meu pai agradece às rãs e aos grilos, que cantam no riacho, e a todos os pequenos seres de seis ou oito patas que tecem histórias minúsculas mesmo junto à terra.
Agradece aos cogumelos selvagens, que cheiram como as abóboras.
Agradece às árvores, que agitam os braços e fazem voltear as folhas na brisa.
Agradece à raposa de orelhas pontiagudas e cauda farta e ondulante, que ele entrevê por um instante por entre a relva alta.
Agradece aos veados, que deixaram pegadas que parecem dois dedos impressos no pó do chão a apontarem para a água.
Agradece às águias que, agitadas, se dispersam para se juntarem de novo.
Agradece à lebre que cabriola e dá grandes saltos no ar a perseguir uma sombra.
Agradece ao falcão, que desenha círculos no céu e grita antes de se lançar em voo picado.
Agradece ao Avô-Sol pelo dia, quando ele se põe atrás das colinas.
E agradece à Avó-Lua por ter vindo até nós.
Sinto-me embaraçado quando agradeço às árvores e às coisas. Mas o meu pai diz que é uma questão de hábito e que acabamos por nos sentir bem ao fazê-lo.
"Obrigado, estrelas", digo, à medida que nos aproximamos de casa. E as estrelas acendem-se e parecem sair do seu esconderijo, uma a uma.
Tradução e adaptação
Jonathan London
Giving ThanksMassachusetts , Candlewick Press, 2005

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