Passei por um período em que achava que toda a gente se aproveitava de mim, e não me sentia nada contente. Parecia que todas as pessoas a quem decidira mostrar amabilidade ultrapassavam os seus limites. Lutava contra a ideia de que estava a praticar o bem só porque Deus dizia que era isso que devíamos fazer, mas, se o meu coração não ficava feliz, estaria realmente a fazer um favor a Deus? Não estaria a minha má atitude a anular o bem?
Tinha passado muitas horas e gasto muitos dólares com crianças desfavorecidas do nosso bairro, mas, a certa altura, a avó dessas crianças, com quem elas viviam, pareceu querer aproveitar-se de mim. Senti-me irritada com ela e com o facto de os netos não parecerem ser uma prioridade na sua vida. Recebera um telefonema seu, quando o Natal se aproximava, em que me falara de uma menina que ela conhecia e que não ia ter um bom Natal, pedindo-me que lhe comprasse alguma coisa.
Fiquei a matutar naquele pedido. Não suportava o seu atrevimento de me telefonar e pedir que fizesse alguma coisa por alguém que eu nem sequer conhecia. «Eu já não fazia o bastante pelos netos? Teria ainda de me ocupar de outra pessoa?» E nem sequer tinha muito dinheiro.
Uns dias mais tarde, enquanto fazia compras, vi uma caixa com duas bonecas, uma com cabelo escuro e outra com cabelo claro. Pensei na referida menina. Comprei a caixa porque me pareceu muito barata, mas não me senti contente. Atirei-a para o carrinho, resmungando, mal-humorada, levei-a para casa e embrulhei-a. Um pouco antes do Natal, entreguei-a à avó, e nunca mais ouvi nada acerca das bonecas. Tanto quanto sei, a rapariga nunca as recebeu, ou a avó disse-lhe que era uma oferta sua.
Quando eu era pequena, não me deixavam ver a minha avó paterna, que nunca deixava de nos comprar presentes de Natal e de os entregar à minha avó materna. A minha avó materna mudava os nomes das etiquetas, para dizer que eram dela. Quando atingi a idade adulta, descobri que a minha boneca preferida na infância fora oferecida pela minha outra avó. Tinha a certeza de que se tratava de uma situação semelhante. «Bem», pensei, «vamos ver o que acontece.» E assim fiz.
♥♥♥
Cerca de um ano e meio depois deste episódio, passeava com o meu cão quando vi uma menina com uns sete anos a brincar num pátio.
Quando passei por ela, gritou:
— Eu conheço esse cão!
Disse-lhe que vivia ao virar da esquina e que, às vezes, passava por ali com ele. Ocorreu-me que ela talvez conhecesse as crianças do meu bairro. Diziam-me sempre que tinham uma amiga chamada Joan (não é o seu verdadeiro nome), que vivia no nosso quarteirão. Perguntei à menina se o seu nome era Joan.
— Não, esse é o nome da minha avó — respondeu.
Então fez-se-me luz. Perguntei-lhe se conhecia Aaron, Nick e Melanie, e ela respondeu afirmativamente. Fiquei mais curiosa e interroguei-me se não seria a menina desconhecida para a qual comprara as bonecas. Perguntei-lhe em seguida:
— Não no Natal passado, mas no anterior a esse, recebeste duas bonecas?
— Oh, sim, Lucy tem cabelo claro e Debbie tem cabelo escuro. Agora estão a dormir lá dentro — replicou.
— Foi só isso que recebeste nesse ano? — perguntei.
— Creio que recebi outras coisas, mas não me lembro — disse ela.
— Quem te deu as bonecas? — perguntei.
— A avó do Aaron — respondeu.
Ah, ah! Era isso... a avó ia ficar com os louros. Para provar a mim mesma que estava certa, perguntei:
— Ela disse quem é que tas ofereceu?
E então Deus, de um modo misterioso, mostrou-me que aquilo que dou nunca é demais – mesmo se o fizer com um coração amargurado.
Fiquei com um nó na garganta quando a menina me respondeu:
— Ela disse que tinha sido um anjo.
Mickey Bambrick
Jack Canfield, Mark Victor Hansen
Canja de galinha para a alma – O tesouro do Natal
Mem Martins, Lyon Edições, 2002
(Adaptação)
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias
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