Biblioteca da Escola EB 2/3 Dom Paio Peres Correia - Tavira
terça-feira, 27 de julho de 2010
terça-feira, 13 de julho de 2010
Biblioteca digital mundial
"A NOTÍCIA DO LANÇAMENTO NA INTERNET DA WDL, A BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL É UM PRESENTE DA UNESCO PARA A HUMANIDADE INTEIRA !!!
Reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos e explica em sete idiomas as jóias e relíquias culturais de todas as bibliotecas do planeta.
Tem, sobre tudo, carácter patrimonial" , antecipou em LA NACION Abdelaziz Abid, coordenador do projecto impulsionado pela UNESCO e outras 32 instituições.
A BDM não oferecerá documentos correntes, a não ser "com valor de patrimônio, que permitirão apreciar e conhecer melhor as culturas do mundo em idiomas diferentes: árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português.
Mas há documentos em linha em mais de 50 idiomas".
Entre os documentos mais antigos há alguns códices precolombianos, graças à contribuição do México, e os primeiros mapas da América, desenhados por Diego Gutiérrez para o rei de Espanha em 1562", explicou Abid.
Os tesouros incluem o Hyakumanto darani , um documento em japonês publicado no ano 764 e considerado o primeiro texto impresso da história; um relato dos azetecas que constitui a primeira menção do Menino Jesus no Novo Mundo; trabalhos de cientistas árabes desvelando o mistério da álgebra; ossos utilizados como oráculos e esteiras chinesas; a Bíblia de Gutenberg; antigas fotos latino-americanas da Biblioteca Nacional do Brasil e a célebre Bíblia do Diabo, do século XIII, da Biblioteca Nacional da Suécia.
Fácil de navegar:
Cada jóia da cultura universal aparece acompanhada de uma breve explicação do seu conteúdo e seu significado. Os documentos foram passados por scanners e incorporados no seu idioma original, mas as explicações aparecem em sete línguas, entre elas O PORTUGUÊS. A biblioteca começa com 1200 documentos, mas foi pensada para receber um número ilimitado de textos, gravados, mapas, fotografias e ilustrações.
O acesso é gratuito e os usuários podem ingressar directamente pela Web , sem necessidade de se registrarem.
Permite ao internauta orientar a sua busca por épocas, zonas geográficas, tipo de documento e instituição. O sistema propõe as explicações em sete idiomas (árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português), embora os originai s existam na sua língua original.
Desse modo, é possível, por exemplo, estudar em detalhe o Evangelho de São Mateus traduzido em aleutiano pelo missionário russo Ioann Veniamiov, em 1840. Com um simples clique, podem-se passar as páginas de um livro, aproximar ou afastar os textos e movê-los em todos os sentidos. A excelente definição das imagens permite uma leitura cômoda e minuciosa.
Entre as jóias que contem no momento a BDM está a Declaração de Independência dos Estados Unidos, assim como as Constituições de numerosos países; um texto japonês do século XVI considerado a primeira impressão da história; o jornal de um estudioso veneziano que acompanhou Fernão de Magalhães na sua viagem ao redor do mundo; o original das "Fábulas" de Lafontaine, o primeiro livro publicado nas Filipinas em espanhol e tagalog, a Bíblia de Gutemberg, e umas pinturas rupestres africanas que datam de 8.000 A.C.
Duas regiões do mundo estão particularmente bem representadas:
América Latina e Médio Oriente. Isso deve-se à activa participação da Biblioteca Nacional do Brasil, à biblioteca de Alexandria no Egipto e à Universidade Rei Abdulá da Arábia Saudita.
A estrutura da BDM foi decalcada do projecto de digitalização da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que começou em 1991 e atualmente contém 11 milhões de documentos em linha.
Os seus responsáveis afirmam que a BDM está sobretudo destinada a investigadores, professores e alunos. Mas a importância que reveste esse sítio vai muito além da incitação ao estudo das novas gerações que vivem num mundo audio-visual."
segunda-feira, 12 de julho de 2010
As crianças da mina - Fim
… continuação
Um dia, à hora da saída, Louis e Tounet foram atraídos por um relinchar. Um cavalo ia descer ao fundo da mina. Quando se aproximaram dele, reconheceram Tambour, o amigo que os saudava sempre no caminho para a escola.
O palafreneiro estava desesperado:
— O animal está demasiado nervoso. Nunca mais o atamos.
Sem proferir palavra, Tounet ajoelhou-se junto do cavalo e sussurrou-lhe algumas palavras ao ouvido.
Depois de alguns minutos, disse ao palafreneiro:
— Ele já está pronto para descer.
Com efeito, e para surpresa de todos, o animal parara de relinchar e parecia agora calmo. Deixou-se atar sem nervosismo, e em breve descia para o interior do poço, viajando dentro da cabina. Tambour deixava para sempre a superfície. Nunca mais veria a luz do dia…
As semanas passaram e Louis empurrava os vagões cada vez com mais facilidade. Mas era um trabalho muitíssimo duro: doíam-lhe as pernas, os braços e as costas, e o medo do grisu nunca o largava. Quando não conseguia reprimir mais as lágrimas, escondia-se para que não o vissem chorar.
Tounet tinha trocado Apolo por Tambour. Era a única pessoa que conseguia fazê-lo trabalhar. Quando ouviam um pequeno assobio alegre, todos sabiam que Tounet se aproximava com Tambour.
Louis havia também de recuperar o sorriso graças a uma personagem que começou a trabalhar no "Inferno". Certo dia, diante do seu vagão, apareceu um senhor elegantemente vestido.
— Quem terá tido a ideia de abrir galerias tão estreitas? — exclamou o homem.
Ao ver a criança, perguntou-lhe:
— Será que poderias ajudar-me, meu pequeno?
— Tenho de levar o vagão ao comboio, senhor — respondeu Louis.
— Deixa lá, não é isso que vai parar o trabalho na mina. De qualquer forma, nem sequer deverias estar aqui — continuou o homem.
Convencido, Louis deixou o vagão e ajudou o homem a desenrolar uma corrente estranha.
— Ora bem, onde terei posto o meu lápis? — perguntou-se o estranho.
— Está na sua orelha — reparou o rapaz.
— Está pois. Sou tão distraído — murmurou a personagem.
"Quem será este senhor tão estranho?" perguntava-se Louis.
De repente, ouviu-se um grito:
— Louis, onde estás?
Era Ratel.
— Com que então, escondes-te aí. Vais ver…
Ratel estacou ao avistar o visitante.
— Oh, Senhor Chagnon! Não o tinha visto — desculpou-se, num tom de voz servil.
— Vejo que não — disse, secamente, o homem.
Aproximando-se do encarregado, perguntou:
— Não lhe tinha já dito para parar a exploração deste sector?
— Disse sim, mas eu pensava que…
— Muito bem. Falarei directamente com o administrador.
O homem pegou no saco que tinha posto no chão e pediu a Louis:
— Pega no meu material e segue-me, pequeno.
— E o meu vagão? Quem vai empurrá-lo? — perguntou Ratel.
— Empurre-o você. A partir de agora, esta criança é o meu assistente pessoal.
Virou costas ao encarregado e afastou-se, seguido de Louis. Ratel ficou vermelho de raiva. Uma raiva que não se apagaria…
O Senhor Chagnon era engenheiro agrimensor. O seu trabalho consistia em medir as galerias com precisão, a fim de poder cartografar as minas. Utilizava instrumentos muito engraçados, que Louis estava encarregado de transportar. A criança acompanhava o agrimensor em todas as suas deslocações e ficava a conhecer as galerias.
Um dia, desembocaram numa galeria onde corria um pequeno riacho. Aqui e ali, as ratazanas comiam a madeira do passadiço e os cogumelos que cresciam por todo o lado. Perdido nos seus pensamentos, o Senhor Chagnon não viu os restos de refeição que um roedor acabava de abandonar. O pé escorregou, o homem perdeu o equilíbrio e caiu à água. Felizmente que não se magoou.
— Graças a Deus que a minha lâmpada não se apagou. Seria bem difícil encontrar a saída às escuras.
— Onde vai dar este riacho? — perguntou Louis, enquanto o seu novo chefe tentava secar-se.
— Vai dar a um poço especial: o poço mais baixo da mina. Existem tubos que aspiram a água desse poço para o exterior.
— Porque é preciso mandá-la para o exterior? — continuou Louis.
— Para que a mina não fique inundada em poucos dias.
Embora fosse distraído, o agrimensor conhecia as galerias como ninguém. Numa outra ocasião, o jovem mineiro foi surpreendido por uma corrente de ar.
— Estamos perto de um poço de ventilação — explicou o engenheiro. — Está equipado com um enorme ventilador, que permite renovar o ar da mina e eliminar uma parte do grisu.
Louis pensou que a mina estava cheia de segredos, segredos de que os habitantes da aldeia nem sequer suspeitavam. Mas, apesar de todo o prazer que explorar a mina na companhia do agrimensor lhe dava, ficava sempre contente quando a jornada de trabalho chegava ao fim.
Chegava a invejar as mulheres e crianças que recolhiam alguns restos de carvão nos aterros por detrás da mina. Contudo, mesmo que estas pessoas trabalhassem ao ar livre, estavam longe de ganhar o que ele ganhava como mineiro de fundo. Pensava o mesmo quando via as mulheres encarregadas de retirar os pedaços de rocha misturados com o carvão. Era um trabalho monótono e fatigante, pelo qual eram pagas apenas segundo o número de cestos de pedras que enchiam por dia.
Em redor de um dos pontões, crescia um emaranhado de vias-férreas. O carvão acabado de escolher pelas mulheres era carregado em grandes vagões, que partiam em direcção a Lyon, a Le Puy, e a outros portos do rio Loire. Louis continuava a seguir o engenheiro por todo o lado, dos pontões aos passadiços, dos passadiços ao edifício onde se encontrava o escritório do engenheiro. Depois de ter arrumado o material, o rapaz punha-se a admirar os mapas que estavam nas paredes.
Quando, às vezes, o engenheiro não passava o dia todo no fundo da mina, Louis transportava lâmpadas. Atravessava a mina inteira para trocar lâmpadas acesas por lâmpadas apagadas, melhorando assim o seu conhecimento das galerias.
Louis esperava sempre, com impaciência, a chegada do domingo, o único dia de descanso dos mineiros. Deitado na erva ao lado de Tounet, desfrutava, enfim, do sol. Há mais de três meses que trabalhavam no fundo da mina. A alguns metros deles, o pai de Louis ocupava-se do jardim. Antigo mineiro, sofria de silicose, uma doença dos pulmões que afecta a maioria dos mineiros. Como já não podia trabalhar na mina, ocupava-se da horta para alimentar a família.
Tounet perguntou a Louis:
— Quantos anos vivem os cavalos?
Um pouco surpreendido, Louis pensou por momentos e respondeu:
— Não sei, mas não tantos como as pessoas. Porque perguntas?
— Por nada. Penso que gostaria de passar a vida inteira com o Tambour.
No dia seguinte, regressaram ao trabalho. Mal os dois pequenos mineiros chegaram ao fundo, encontraram Ratel, que saía de uma das galerias. Louis esboçou um sorriso trocista que logo perdeu.
— Vem comigo! — ordenou o encarregado.
— Estou à espera do Senhor Chagnon — resistiu o rapaz.
— Não estou a falar contigo! Estou a falar com ele!
E designou Tounet com o queixo.
— Mas… e o Tambour… — balbuciou Tounet.
Ratel nem o ouvira:
— Como o Senhor Engenheiro me tira o meu pessoal, tenho de recuperá-lo onde posso.
O encarregado pegou no rapaz pelo colarinho e levou-o consigo.
Tounet gritava e chorava:
— Tambour! Quero ver o Tambour!
Louis sentiu-se consternado. Como não podia atacá-lo, Ratel atacava o seu melhor amigo. Quando o Senhor Chagnon chegou, a criança, quase a chorar, contou-lhe o que se passara.
— Ai é assim que ele se comporta? Não te preocupes, hoje à noite falarei com o administrador. O mais provável é que Ratel seja despedido. Tem dado demasiado nas vistas!
Louis ficou mais tranquilo. No dia seguinte, Tounet voltaria para junto do cavalo e ele livrar-se-ia de vez do encarregado. Foi com o coração mais leve que seguiu o engenheiro rumo a uma galeria que uma equipa estava naquele momento a cavar na rocha.
Naquele preciso instante, Ratel colocava Tounet diante de um ventilador manual e mandava-o pôr o maquinismo a trabalhar mais depressa. Com os olhos cheios de lágrimas, o rapazinho começou a dar à manivela. Os mineiros tinham pena dele, mas não ousavam dizer nada, com medo de Ratel.
Louis e o engenheiro tinham acabado de chegar à nova galeria.
— Se os meus cálculos estiverem certos, em breve devemos encontrar carvão — exclamou o agrimensor.
Em seguida desatou a rir, porque se tinha enganado no instrumento que tirara do saco. Louis riu também, sempre admirado com a distracção do homem.
Mas as coisas não estavam a correr bem a Tounet. O cansaço e o desespero consumiam-no. Estava totalmente exausto. Foi então que viu algo que lhe partiu o coração: Tambour estava a ser conduzido por um mineiro e nem reparara nele. O rapaz desatou a soluçar.
Talvez por causa das lágrimas, teve de repente a sensação de que a luz da galeria se esbatera. Tentou regular a chama da sua lâmpada, sem reparar no tom azulado que a chama adquirira. Então, morto de cansaço e esquecido de todas as recomendações que lhe tinham sido feitas vezes sem conta, Tounet levantou a grelha da lâmpada.
É impossível descrever o barulho tremendo e a detonação infernal que se fez sentir por toda a mina. Dentro da nova galeria todos foram projectados ao solo. Depois da surpresa, veio o pânico.
— Temos de evacuar toda a gente! — gritou alguém por entre as nuvens de pó.
Desataram todos a correr em direcção à cabina que os levaria à superfície. Louis ouviu uma discussão entre dois encarregados:
— Alguém apanhou grisu lá para os lados do "Inferno".
"Grisu? Inferno?", pensou Louis.
— Tounet! — gritou, espavorido, desatando a correr em direcção ao labirinto mineiro.
Sabia bem por onde ir, pois já lá tinha estado. Reflectia nas direcções a tomar em voz alta, para apaziguar o medo que sentia. De repente, ficou sem fôlego, e sentiu que o chão lhe fugia debaixo dos pés. Um mineiro acabara de o agarrar pelo pescoço e levava-o de volta para a cabina.
— Deixe-me, deixe-me! Tenho de ir procurar o Tounet!
O mineiro nem lhe prestou atenção. Louis gritou pelo amigo, mas em vão. Na obscuridade da mina, no coração do Inferno, Tounet já não podia ouvi-lo.
O balanço do acidente foi anunciado nessa mesma noite: catorze feridos e seis mortos. Entre os mortos, estava um rapaz chamado Antoine Vallat, que todos conheciam como Tounet. Um cavalo tinha igualmente morrido na mina. As galerias, fragilizadas pela explosão, não demoraram a desmoronar.
No dia seguinte ao drama, Louis voltou ao trabalho na mina. Passaria aí toda a sua vida. Atingido pela silicose, como o pai, desceu ao poço pela última vez em 1913, numa cabina instalada no novo poço Couriot. Morreu dois anos mais tarde, a 19 de Maio de 1915.
Foi encontrado deitado na relva, a alguns metros do seu jardim, aquele mesmo onde quarenta anos antes o amigo tinha murmurado:
— Gostaria de passar a vida inteira com o Tambour.
FIM
Fabien Grégoire
Les enfants de la mine
Paris, l'école des loisirs, 2003
(Tradução e adaptação)
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias
terça-feira, 6 de julho de 2010
As crianças da mina - 1ª parte
— Tenham cuidado ao sair. O solo está escorregadio — avisou o professor, enquanto abria a porta pesada.
Apesar da advertência, os alunos tiveram dificuldade em resistir a uma pequena corrida, tanto mais que tinham passado a manhã toda sentados. Iniciou-se uma perseguição, um soco derrapou no gelo fino, e a brincadeira acabou em gargalhadas.
De todos os alunos, apenas dois não partilharam o bom humor reinante.
— Louis e Tounet! — exclamou o professor. — O que fazem aqui? As aulas já acabaram.
— Queríamos despedir-nos de si — murmurou Tounet.
— Sim, queríamos — confirmou Louis. — Amanhã descemos os dois e não vamos poder voltar.
A fisionomia do professor alterou-se e uma profunda tristeza invadiu os seus olhos.
— Já me tinha esquecido — disse.
Ficou calado por uns instantes e depois apertou demoradamente a mão de cada um dos rapazes.
— Vão, meus filhos, e sejam prudentes.
Nessa noite de Inverno, Louis e Tounet deixaram a escola para sempre. No dia seguinte, iriam descer à mina. A mina engolia todas as crianças que fizessem dez anos. Era essa a regra, tanto em Saint-Étienne, como em toda a França. Os dois rapazes pararam para saudar o cavalinho Tambour pela última vez. Fizesse chuva ou sol, o animal esperava--os sempre por detrás da cerca.
— Adeus, Tambour, vamos sentir a tua falta.
Depois da despedida, abalaram para suas casas, que ficavam nos arredores da cidade.
Na manhã seguinte, às cinco horas, os mineiros partiram para o trabalho. Eram cinco os que afrontavam a noite e o vento glacial: Louis e o primo, Émile, acompanhados por Tounet, pelo pai deste, Isidore, e pelo irmão, Charles.
— Eis-nos chegados! — resmungou Isidore, depois de uns longos minutos de caminhada.
As instalações da mina surgiram, devagar, diante dos olhos do grupo. Por entre um conjunto de barracas, chaminés e carris de comboio, distinguiam-se as silhuetas de dois pontões. Estavam construídos na vertical dos poços e sustentavam os cabos dos ascensores.
Cada poço tinha um nome. Louis e Tounet trabalhariam no Châtelus nº 1. A estrutura de madeira erguia-se com orgulho junto da via-férrea que conduzia a Firminy. À entrada do pontão, começava todo um labirinto de construções e de passagens.
— Vamos perder-nos — inquietou-se Tounet.
Mas chegaram sem problemas ao local onde cada um recebia a sua lâmpada. Charles repetiu os avisos:
— Nunca levantem a grelha da vossa lâmpada! Se a chama ficar azulada e aumentar, é sinal de grisu.
O grisu, um gás explosivo libertado pelo carvão, estava sempre na origem de vários acidentes. Três anos antes, por exemplo, tinha matado 70 pessoas no poço Jabin, a leste da cidade. Para evitar as explosões, as lâmpadas estavam equipadas com uma fina grelha metálica, que impedia que o grisu que houvesse na mina se inflamasse. Daí o aviso de Charles.
De repente, sem se aperceberem, já estavam diante do elevador, à espera de que uma das cabinas subisse. Os cabos desfilavam a toda a velocidade. Ouvia-se um barulho de trovão algures.
— Tens medo? — perguntou Tounet a Louis.
— Não. E tu?
— Eu também não — retorquiu o rapazinho.
Mas, apesar do esforço para aparentar a calma, estavam ambos muito pálidos.
Por entre um barulho de ferragens, uma cabina surgiu do poço para os levar para o fundo da mina. Mal se instalaram, a porta fechou-se com um ruído surdo. De repente, como se o chão fugisse debaixo dos pés, a cabina desceu a pique com uma rapidez incrível. Os dois rapazinhos tiveram a impressão de que o estômago ia sair-lhes pela boca.
Um vento escaldante fustigou-lhes o rosto. Foram sacudidos com violência: da esquerda para a direita, de frente para trás, de encontro às grades, de encontro às pernas dos mineiros. O vazio abriu-se debaixo deles e Louis pensou que ia desmaiar. Depois, a cabina travou bruscamente e imobilizou-se.
— Chegámos, rapazes!
Viam finalmente a mina de que tanto tinham ouvido falar. Diante deles estava uma sala, da qual partiam duas galerias.
— Toca a andar! Não estamos aqui para ver a paisagem! — disse Charles.
As equipas separaram-se. Louis foi com Émile para o estaleiro, enquanto Tounet acompanhava o irmão às cavalariças.
A equipa encabeçada por Émile atravessou dezenas de galerias, embrenhando-se cada vez mais no coração da terra. Quando chegou ao estaleiro, Émile disse:
— É aqui! O tecto está quase a abater. Temos de substituir a madeira toda num percurso de dez metros.
Louis foi encarregado de transportar as pranchas desde o armazém, a algumas dezenas de metros dali. A temperatura era insuportável e o rapaz já tinha saudades do vento glacial do exterior. Por volta do meio-dia, a refeição magra que tinham levado foi bem-vinda. Os mineiros contaram histórias como a do cavalo que se embebedara com o vinho do palafreneiro ou a do mineiro que jurava ter encontrado Belzebu numa mina de Ricamarie.
Findas a refeição e a brincadeira, o trabalho foi retomado, no meio de uma humidade impressionante. Por volta das quatro da tarde, iniciou-se o regresso à superfície. Louis reencontrou Tounet, que tinha sido encarregado de conduzir um dos cavalos da mina.
— O meu cavalo chama-se Apolo — disse, com orgulho.
Os dois amigos tinham mil coisas a contar um ao outro, depois deste primeiro dia. De volta a casa, tomaram banho, a última tarefa da jornada de um mineiro. Mas Louis sabia, por ter visto outros mineiros, que a poeira do carvão não sairia só com um banho…
As duas crianças desembaraçaram-se bem nas primeiras semanas de trabalho. Contudo, um incidente entre Louis e Ratel, um dos encarregados da mina, veio estragar o bom ambiente. Ao manobrar um tronco pesado demais, Louis magoou acidentalmente o encarregado num joelho.
— Imbecil! — gritou o homem. — Nem vês o que fazes!
— É o meu primito. Está a começar — desculpou-o Émile.
— É teu primo? Então tiro-te dois francos por não o teres ensinado a respeitar os superiores. Tu — continuou, falando com Louis — vens comigo. Tenho um óptimo trabalho para um idiota do teu estilo.
Louis foi empurrar vagões no sector oeste da mina, uma zona em que as galerias eram antigas, confusas e perigosas. Os mineiros chamavam a este sector "O Inferno". Enquanto empurrava um vagão carregado com mais de cem quilos de carvão, Louis tentava encontrar um apoio para fincar os pés no solo lamacento. O seu trabalho consistia em conduzir as carruagens desde o local de extracção do carvão até à galeria principal. Aqui, os vagões eram atrelados de forma a constituir pequenos comboios, que iriam ser puxados por cavalos até à cabina.
"O Inferno" fazia jus ao nome: respirava-se com muita dificuldade e o calor era mais forte do que em qualquer outro lado da mina. Ainda por cima, o local tinha fama de estar cheio de grisu, devido às características do carvão aí existente. Os mineiros tinham muito cuidado com as candeias e respeitavam todas as normas de segurança, para não pôr em perigo a sua vida e a dos seus camaradas de trabalho.
continua…
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias
sexta-feira, 2 de julho de 2010
AVISO-GPS

triste.
Quando se faz uma viagem longa utilizamos quase todos um GPS para nos orientar durante a deslocação.
Os ladrões também.
Uma família parte para férias no carro.
A viagem decorre normalmente e decidem parar para tomar um refresco, deixando a viatura no estacionamento próximo.
Quando regressam, constatam que o GPS foi roubado.
Algumas horas mais tarde os vizinhos telefonam para os informar que a casa foi assaltada.
Os ladrões utilizaram simplesmente a função de retorno a casa.
Eles estavam tranquilos, sabendo que os proprietários estavam longe, portanto não seriam incomodados.
Um conselho:
No GPS mude o seu endereço (que você conhece sem dúvida) pelo posto da policia próximo.
Os ladrões ficarão com o GPS mas não lhe roubarão a casa.
Todos os cuidados são poucos, portanto seja prudente quando se desloca em viatura.
Boas férias!
Subscrever:
Mensagens (Atom)