quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O sorriso no elevador

         Num tempo em que os homens tinham desaprendido de sorrir, apareceu, certo dia, uma menina que tinha um sorriso tão simpático que uma pessoa até sentiria calor no coração, se o riso e a alegria não tivessem sido expulsos há tanto tempo da Terra.
Não se ganhava nada com eles, diziam, e, hoje em dia, quem é que tem alguma coisa para dar?
Mas, um belo dia, sem nada o deixar antever, apareceu aquela menina no elevador…
A princípio, ninguém reparou, tão preocupadas estavam as pessoas consigo mesmas.
Nem sequer Tomás, que naquele dia regressava da escola. Seguia no elevador, sério, a refletir, quando, de repente, ouviu a menina perguntar:
— Também sabes rir?
Admirado, Tomás virou-se.
— Já não rio desde os quatro anos — resmungou.
— Porquê? — perguntou a menina.
— Rir não serve de nada. Não vale um cêntimo. Aprende-se isso logo no infantário.
Ao entrar mais tarde no elevador com a mãe, Tomás voltou a encontrar a menina.
— Olá! — disse ela com um sorriso radiante.
— Olá — balbuciou Tomás, envergonhado.
E subiram calados.
Mas como a menina não deixava de sorrir, Tomás também não conseguiu por fim conter um sorriso.
Pela primeira vez! Mas a mãe logo ficou muito assustada.
— Pára com isso! — ralhou-lhe ela. — Não temos nada para dar!
Tomás assustou-se e fez uma cara séria.
Mas não conseguia esquecer o sorriso da menina no elevador.
Quando, na manhã seguinte, voltou a encontrá-la, ficou tão satisfeito que esboçou um tímido sorriso.
— Mas tu sabes rir! — exclamou a menina, radiante.
Tomás ficou tão contente que até sentiu umas coceguinhas pelas costas acima.
Desta vez sorriu, extasiado, e as cócegas então é que não paravam… Nunca tivera uma sensação daquelas! Mas era uma sensação tão boa que ele agora sorria sem parar na rua, no autocarro, na escola, na padaria. E Tomás tinha um sorriso tão amável que as pessoas não conseguiam deixar de responder com outro sorriso. E como elas sentiam de repente um formigueiro, também não conseguiam parar de sorrir!
Nesse dia, Tomás voltou alegremente para casa.
Estava todo contente: iria voltar a ver a menina! Mas quando, a sorrir, abriu a porta do elevador, só encontrou alguns vizinhos … que lhe sorriram, hesitantes. A menina já lá não estava e nunca mais a viu…
Só tinha ficado aquela sensação agradável de formigueiro.
E a menina?
Ora bem, caso alguma vez a encontres no elevador, já sabes…
Elke Bräunling
Da wird dia Angst ganz klein
Limburg, Lahn Verlag, 1998
(Tradução e adaptação)
 
 
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

Concerto por Josué Nunes


 


Música nas Igrejas-  Ermida de Santa Ana
3 Novembro 2012, às 18:00 h


Josué Nunes
Guitarra

Fernando Sor (1778-1839)
Variações Sobre o Tema da Flauta Mágica

Augustin Barrios Mangoré (1887-1944)
La Catedral
Prelúdio Saudade
Andante
Allegro

J.S. Bach(1685-1750)
Suite Bwv 996(lute)
Passagio e Presto
Allemande
Courante
Sarabande 
Bourré
Gigue

Francisco Tárrega (1852-1909)
Recuerdos de la Alhambra

Isaac Albéniz (1860- 1909)
Astúrias        
Rumores de la Calheta



Apoio :                                             
Organização  - Academia de Música de Tavira
Rua João Vaz Corte Real nº 20 8800-441 Tavira
Tele: 281322436

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Uma oficina diferente

Esta história faz parte de um ciclo em que a figura feminina aparece como elemento central
 
Uma oficina diferente
Aboubacar trancou a porta da sua oficina com um suspiro cansado mas satisfeito. O dia fora longo. Parecia que todas as motas e motocicletas da cidade tinham decidido avariar naquele dia. Felizmente não lhe faltavam clientes. Alguns diziam que não havia melhor mecânico em toda a capital, Ouagadougou, outros diziam que em todo o Burquina Faso! Aboubacar sorria modestamente. Sabia bem que, quando os clientes que tinham chegado suados a empurrar a motoreta sob o sol intenso regressavam a casa montados nela, não se poupavam a elogios… de alívio e de felicidade!
A meio dos quarenta, Aboubacar era o filho mais velho de uma família numerosa. Ainda pequeno, os pais tinham-no enviado para casa de um parente afastado que vivia na capital, para aprender um ofício e ser mais tarde o chefe da família, como era a tradição. Um vizinho mecânico, a quem todos tratavam carinhosamente por TioAssouf, gostou daquele rapazinho de olhar vivo e curioso, e acabou por levá-lo para a sua oficina. A família afeiçoou-se a Aboubacar, e como os filhos de Assouf tinham partido para França, este acabou por passar a viver em casa dele.
Ao final do dia, o Tio Assouf gostava de se sentar à porta de casa a fumar e a ler o jornal. Certo dia, o rapazinho perguntou-lhe:
— Tio Assouf, o que está a fazer com esses papéis nas mãos?
— Estou a ler o jornal, Aboubacar — respondeu-lhe seriamente.
— E porque é que está sempre a ver os mesmos papéis?
— Aboubacar, eu não estou a ver, estou a LER — disse-lhe. — E isto é um jornal. Aqui estão escritas as coisas mais importantes que acontecem no nosso país. Chega cá.
E perguntou-lhe em tom mais baixo:
— Tu sabes ler?
— Não.
— Humm… é pena… podias ajudar-me aqui numa frase que não consigo ler. Sabes, quando tinha a tua idade, não tive a sorte de poder ir para a escola todos os dias e aprendi só um bocadinho. Mas como tinha muita vontade, fui continuando a aprender sozinho. Mas há algumas palavras que não sei ler muito bem, e outras que não percebo, porque são novas. É por isso que demoro muitos dias, quer dizer… Bem… digamos que leio mais devagar. Mas… espera aí! Se não sabes ler, como é que descobriste que estou com o mesmo jornal?
— Porque há dois dias que vejo sempre a mesma imagem na parte de trás da página — respondeu Aboubacar.
— Tu és esperto, rapaz! — exclamou o Tio Assouf, passando-lhe a mão pela cabeça e soltando uma gargalhada jovial. De repente parou, com os olhos fixos em Aboubacar e disse-lhe, com um largo sorriso radioso:
— Como é que eu não pensei nisto mais cedo! TU é que vais aprender a ler e a escrever. E vamos ver se conseguimos que seja já na próxima semana! De manhã, escola. De tarde, logo se vê.
— Tio Assouf, eu tenho de trabalhar na oficina. É por isso que estou aqui!
— Não, Aboubacar. Aprender a ler e a escrever, a pensar sozinho e a compreender o que se passa à nossa volta é mil vezes mais importante. Até para trabalhar na oficina. Sabes fazer melhor as contas, percebes melhor o que fazes, podes ler e aprender coisas novas em livros e não demoras uma semana para ler um jornal de cinco folhas, como eu. Amanhã mesmo vou falar com o professor e logo se vê se podes ir para a escola normal ou juntar-te ao grupo de crianças cá do bairro a quem dá aulas em casa ao fim do dia. Anda, vamos jantar e contar tudo à Tia Esther.
A esposa de Assouf ficou radiante com a perspetiva de oferecer um futuro mais promissor a Aboubacar. Ela própria lamentava ter sido obrigada a ficar em casa e a ocupar-se unicamente das tarefas domésticas. Sentia que as raparigas não deviam ter um tratamento diferente dos rapazes. Por que razão não as mandavam à escola e as retiravam de lá quando eram precisas em casa? Se eram elas que iam ao mercado, que vendiam e faziam as compras? E dizia o que pensava em voz alta, sem vergonha do que pudessem pensar:
— As mulheres são tão capazes como os homens!
Decididamente, a família do Tio Assouf era muito diferente das normais, e não admira que Aboubacar se tivesse empenhado ao máximo em aprender avidamente tudo o que lhe ensinavam, quer fosse na escola ou na oficina, e escutasse com atenção as conversas de Assouf e da esposa e se começasse também a questionar sobre determinados assuntos.
Assim, de cada vez que fechava a oficina, que fora a de Assouf, Aboubacar nunca deixava de pensar nele e na esposa, e agradecia-lhes as oportunidades que lhe tinham dado.
♦♦♦
Naquele dia tão quente, Aboubacar ainda tinha tempo, antes do jantar, para se juntar aos amigos no largo, debaixo da árvore de mangas.
— Então, Abubacar, que tal o dia? — saudaram os amigos quando o viram chegar.
— Bebe uma cerveja — convidou-o Salit. — Com este calor, qualquer dia vais ter de comprar um ar condicionado para a oficina!
— Ar condicionado? Isso é para ti, que trabalhas para o estado…
— Sim, mas também não faz grande falta. À velocidade com que carimbam os papéis, não devem aquecer muito! — riu-se Aziz.
— Valia mais gastar o dinheiro num despertador. Passam o tempo a dormir, qualquer dia ainda ficam lá fechados de noite! — riu-se outro.
— Se o negócio continuar assim, precisava era de meter um… — começou Aboubacar.
— Olha, quem tem mais um em casa, sou eu.
— Vais ter outro filho?
— Não, tenho uma cunhada da sobrinha da minha mulher. Diz que o marido a tratava mal e resolveu fugir… Apareceu lá em casa cheia de nódoas negras, quase sem forças e lavada em lágrimas. Imaginem que caminhou dois dias inteiros. Vinha num estado miserável! A pena que metia!
— Coitada! Não consigo entender porque é que alguns maridos tratam tão mal as mulheres! Uma prima da Srª Maimouna, a que vende bolos no mercado, também fugiu para cá.
— Tratar mal? Mas as mulheres querem-se em casa a trabalhar e a ter filhos! E as filhas devem casar-se o mais depressa — ripostou o velho Suleiman.
— Porquê? Isso não é vida. Porque não hão de saber ler e escrever, ir à escola, trabalhar em qualquer lado, serem tratadas com respeito? São tão capazes como os homens. Olha a prima da Srª Maimouna. Tirou um curso de costura e agora trabalha em casa como costureira. Aprendeu a ler e consegue costurar a partir dessas revistas de costura modernas.
— Ora, lá vens tu com as tuas modernices, Abubacar — continuou Suleiman.
— Não são modernices. Vocês, Salit, não têm mulheres lá no escritório? E não fazem o mesmo trabalho?
— Sim, são da família do chefe. E… a verdade é que até não trabalham mal, quero dizer… bem… despacham as coisas mais depressa, lá isso é… E já que falas na prima da Srª Mamouna, a minha mulher já lá mandou coser uns tecidos e diz que não quer mais ninguém.
— Veem? Então?
— Pode ser, mas não acho bem. Só tive rapazes, mas se tivesse filhas…
— Pensavas de maneira diferente — atalhou rapidamente Abubacar.
— Ai, sim? Tu e as tuas ideias do costume. Se são tão boas como os homens, Abubacar, porque não metes nenhuma na oficina? — perguntou o velho Suleiman num tom desafiador.
— E porque não? Só porque ainda não me apareceu nenhuma.
Nesse momento, a mulher de Aboubacar chegou a correr.
— Aboubacar, desculpa, podes vir depressa para casa? Precisava de falar contigo.
— Aconteceu alguma coisa, Aida?
— Vem depressa. É a tua irmã Miriam.
♦♦♦
 
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Os pequenos cavalos de vento

As histórias enviadas fazem parte de um ciclo em que a figura feminina aparecerá como elemento central
 
Os pequenos cavalos de vento*
Nessa noite, por baixo da manta, Dolma tomara uma decisão. No dia seguinte, partiria ao alvorecer com o seu iaque e subiria o estreito que leva ao grande lago sagrado Zhara Yuntso. Ficava longe e muito alto na montanha, mas fá-lo-ia, pela sua mãe doente. Arranjara muitos pequenos cavalos de vento que lançaria do cume para levarem as suas orações.
Antes do amanhecer, Dolma encheu o alforge com comida para a viagem: carne seca, bolas de tsampa** e chá de manteiga. Abraçou a mãe e saiu para a manhã fria. O ar glacial apanhou-a de surpresa. Cerrou os dentes, pegou na corda do seu iaque e afastou-se do acampamento que ainda dormia. Após algumas horas de marcha, levantou-se uma tempestade, mas Dolma descobriu uma gruta entre as inclinadas rochas que a rodeavam.
Vamos abrigar-nos!
No fundo da gruta, a menina encontrou uma estátua de Buda. Ajoelhou-se, murmurando uma súplica. Mas, de tão esgotada que estava devido à longa caminhada, adormeceu aos pés da estátua. E sonhou que estava na mão de Buda e sobrevoava imensas planícies verdes. Buda falava-lhe docemente, animava-a, tranquilizava-a. E apontou-lhe com o dedouma ermida perdida na montanha. Dolma acordou sobressaltada, com uma estranha frase a martelar-lhe na cabeça: "Desconfia do mel doce oferecido no gume da navalha."
Estava sozinha com o seu iaque e segurava na mão uma pequena flauta. Quando a levou aos lábios, dela saiu uma doce melodia. Nesse instante sentiu a presença de alguém…uma sombra que logo desapareceu. A menina correu para a entrada da gruta e viu um enorme e belo bharal***.
Espera! Não te vás embora! — gritou ela. — Tenho de ir até à pequena ermida no cimo da montanha. Ajuda-me!
Porque é que te hei de ajudar? — perguntou a cabra azul.
— Porque, sozinha, nunca conseguirei lá chegar! E tu és a rainha desta montanha.
— O que fazes aqui sozinha?
— A minha mãe está doente e já não temos remédios que a curem. E o meu pai está na aldeia. Vou ao desfiladeiro de Zhara enviar as minhas preces aos deuses. É a única coisa que posso fazer.
— Anda comigo — disse a cabra a sorrir. — O som da tua flauta tocou-me.
Montada no seu iaque, Dolma seguiu o bharal até ao pôr-do-sol. Outras cabras vieram-‑se-lhes juntar e, à chegada ao mosteiro, eram já um pequeno grupo. Dolma agradeceu a ajuda da cabra e quis oferecer-lhe a flauta. Mas aquela recusou:
— A flauta escolheu-te a ti. Adeus e boa sorte, pequena Dolma.
A divisão estava na penumbra. Dolma aproximou-se. Pela janela aberta viu um velho monge a rezar diante de um altar. Bateu suavemente à porta para não assustar o ermita.
— Boa tarde. Gostaria de passar aqui a noite. Prometo não incomodar.
— Entra, pequena, entra. Estava à tua espera! — disse o monge, retorcendo-se de um modo estranho.
Dolma viu que o seu olhar era maligno. Tossia e a cara desfigurava-se ao falar.
— Acomoda-te, grrr, fica à vontade. Trago-te já um pouco de chá e uns deliciosos bolinhos. Volto já, grrr
Que esquisito! — pensou Dolma.
Foi então que viu um prato cheio de raízes. Apanhou algumas e guardou-as no gorro. Do quarto para onde o monge tinha desaparecido vinha um cheiro a chá, mas também uns sons nada tranquilizadores. Dolma lembrou-se do sonho e das palavras de Buda. Levantou-se para ver melhor o que se passava. E o que viu deixou-a sem fala: um demónio! Invadiu-a um cheiro a podre. Não havia um minuto a perder!
Fugiu dali. Pegou no alforge e no seu iaque e correu tanto quanto as suas pequenas pernas o permitiram. Deixou-se cair atrás de um chorten**** e acariciou o iaque, tranquilizando-o.
— Escapámos por um triz, meu bom amigo. Mais um pouco e estaríamos agora entre aquelas coisas que estavam dependuradas no teto.
Dolma olhou à sua volta. A noite estava clara. O iaque apontou então com a cabeça para o cume da montanha.
— Tens razão! — suspirou Dolma — Afastemo-nos mais desse demónio.
Caminharam a bom passo, mas o frio era tão intenso que a menina deixou de sentir os pés. Parou ao abrigo do vento e o iaque deitou-se, com ela entre as suas patas. Dolma pegou na flauta, e a melodia que saiu aqueceu-lhe o coração. Adormeceu sorrindo, embalada pela respiração do animal. Ao despertar, um pequeno cavalo fitava-a com curiosidade.
Assustaste-me!
— Desculpa. O que fazes aqui?
— Vou para o desfiladeiro do lago sagrado. Vou oferecer as minhas orações.
Posso acompanhar-te porque para mim é fácil. Mas, primeiro, tens de me deixar comer algumas dessas raízes para me darem força.
Dolma deu-lhe os pedaços que apanhara em casa do monge. O cavalo depressa os comeu. E logo saíram a galope. Parecia à menina que estavam a voar. Andaram muito e iam tão depressa que logo viram o resplendor do sol refletido na superfície do lago dominado pelo majestoso Zhara Lhatse.
Oh, que fumo é aquele a sair da água?
— São as fontes quentes da montanha. Podes tomar banho lá, se quiseres.
Dolma entrou com prazer nas águas borbulhantes. Em seguida, continuaram o caminho e, após umas horas, chegaram ao desfiladeiro de Zhara. A menina pegou nos seus pequenos cavalos de vento, aproximou-os dos lábios e soprou com todo o amor e força que tinha dentro de si. Fechou os olhos e enviou-os em pensamento aos deuses.
A viagem de regresso durou muitos dias. Dolma orou todo o caminho até chegar à aldeia. Ao entrar na tenda, deparou com o pai, os irmãos… e a mãe sentados em volta do lume. Colocou a pequena flauta diante da estátua de Buda e atirou-se para os braços da mãe.
♦♦♦♦
Vocabulário:
*CAVALOS DE VENTO: pequenos papéis com a figura de um cavalo pintado que se lançam ao céu. O vento leva aos deuses as preces que se escrevem neles. Os cavalos de vento também podem ser de tecido, em forma de bandeirinhas de oração.
**TSAMPA: bolinhas muito nutritivas típicas do Tibete, confecionadas com feijão vermelho, grão-de-‑bico, lentilhas, milho, amendoim natural, mel puro, banana verde, soja em grão e trigo.
***BAHRAL: cabra de pelagem azul e cornos grandes que vive nas montanhas do Tibete.
****CHORTEN ou STUPA: monumento funerário que guarda as relíquias de um santo ou orações sagradas. Encontram-se por todo o lado, porque dão vida aos lugares à entrada das aldeias, ao lado dos mosteiros, nos desfiladeiros e nos vales.
Anne-Catherine de Boel
Los pequeños caballos del viento
Barcelona, Corimbo, 2009
(Tradução e adaptação)
 
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

Concerto Acordeão

 
Silvino Campos - Acordeão
 
Música nas Igrejas-  Ermida de São Sebastião
27 de Outubro 2012, às 18:00 h
 
Organização  - Academia de Música de Tavira
Apoio:
Rua João Vaz Corte Real nº 20 8800-441 Tavira

Chegou o dia anunciado por Einstein


 
 
   A tomar um café: 
Convívio no restaurante: 
Disfrutando a BELEZA do Museu:

    

   
Gozando um dia de praia: 
No estádio..apoiando a sua equipa: 
Divertindo-se com a namorada ou namorado: 
Passeando na cidade num descapotável:
"Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à humanidade. Então o mundo terá uma geração de idiotas."
Albert Einstein
 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A História de Ruby Bridges

 
A nossa filha Ruby deu-nos uma grande lição, ao tornar-se alguém que ajudou a mudar o nosso país.
Tornou-se parte da nossa história, tal como acontece com os generais e os presidentes. À semelhança deles,
também Ruby foi uma líder, porque conduziu negros e brancos
a um maior entendimento.
(Testemunho da mãe de Ruby)
 
Ruby Bridges nasceu numa pequena cabana perto de Tylertown, no Mississipi.
Éramos pobres, muito pobres recorda ela. O meu pai trabalhava nas colheitas. Havia alturas em que tínhamos muito pouco para comer. Quando os donos das terras começaram a usar máquinas para facilitar as colheitas, o meu pai ficou sem emprego e tivemos de mudar de terra. Penso que tinha quatro anos quando partimos.
Em 1957, a família mudou-se para Nova Orleães. O pai arranjou emprego como porteiro e a mãe cuidava das crianças durante o dia. Depois de os aconchegar na cama à noite, ia esfregar o soalho de um banco. Iam à igreja todos os domingos.
Naquele tempo, as crianças brancas e as negras frequentavam escolas separadas em Nova Orleães. As crianças negras não tinham direito ao mesmo tipo de educação das brancas. O que era injusto e ia contra a Constituição. Em 1960, um juiz decidiu que quatro meninas negras frequentariam duas escolas primárias para brancos. Três das meninas foram para a Escola McDonogh 19. Ruby Bridges, então com seis anos, foi para a Escola William Frantz.
Os pais de Ruby estavam felizes por a filha poder participar num evento tão importante da história americana. No primeiro dia de escola de Ruby, uma multidão de brancos enfurecidos juntou-se à porta do edifício. Alguns traziam tabuletas nas quais diziam que não queriam crianças negras numa escola branca. Insultaram a menina e quiseram mesmo bater-‑lhe. Nem a cidade nem a polícia estatal ajudaram Ruby. Foi então que o Presidente dos Estados Unidos ordenou que guardas federais armados acompanhassem Ruby até à escola.
E assim, todos os dias, durante meses, Ruby teve aulas neste ambiente. Ia sempre para a escola escoltada por guardas federais, munida de uma lancheira e caminhando devagar. Quando se aproximava da escola, via logo a multidão que fazia piquete à porta do edifício. Homens, mulheres e crianças gritavam contra ela e queriam empurrá-la. Apenas a presença dos guardas e a ameaça da prisão os impedia de lhe fazerem mal.
Ruby apressava-se a entrar na escola, sem dizer palavra.
Os brancos da vizinhança recusaram-se a enviar os filhos para a escola. Quando Ruby entrava no edifício, só lá estavam ela e a professora, Mrs. Henry. Não havia crianças com quem aprender, brincar ou almoçar. Mas todos os dias Ruby entrava na sala com um grande sorriso, e preparava-se para aprender.
Era muito bem-educada e trabalhadora lembra a professora. Gostava de estar na escola. Não parecia nervosa, irritadiça ou assustada. Parecia-se com qualquer criança normal e relaxada que eu ensinara.
Ruby começou assim a aprender a ler e a escrever numa sala da aula vazia e numa escola vazia.
Às vezes perguntava-me como ela conseguia continua Mrs. Henry. Como passava por aquela multidão todos os dias e conseguia entrar na escola de uma forma tão descontraída.
A professora fazia-lhe perguntas para averiguar o verdadeiro estado de espírito da criança e Ruby sempre lhe assegurava que se sentia bem. Mrs. Henry decidiu esperar para ver se haveria alguma alteração no comportamento da sua aluna. Se esta, eventualmente, revelava desgaste ou queria desistir da escola.
♣♣♣
Certa manhã, algo de diferente se passou. A professora estava à janela a ver Ruby dirigir-se à escola, quando, de repente, a menina estacou e se dirigiu à multidão vociferante. Mrs. Henry perguntou-se o que estaria a sua aluna a dizer. A multidão parecia querer matá-‑la. Os guardas estavam assustados e queriam que Ruby entrasse na escola o mais depressa possível. Mas esta só o fez depois de dizer tudo o que tinha a dizer.
Quando entrou na sala de aula, a professora contou-lhe que a observara da janela e perguntou-lhe o que dissera àquelas pessoas. Ruby ficou agastada.
Eu não falei com elas.
Mas, Ruby, eu vi os teus lábios a mexer.
Eu não estava a falar com elas, estava a pedir por elas.
Quando as aulas terminaram naquele dia, Ruby saiu por entre a multidão, como de costume.
Depois de ter andado alguns quarteirões e de se ter distanciado da turba, a menina parou para repetir o pedido que fazia todos os dias...
♣♣♣
Nesse mesmo ano, dois rapazes brancos começaram a frequentar a escola de Ruby. Os pais estavam cansados de os ver metidos em sarilhos, em vez de estarem na escola a aprender. A multidão enfureceu-se com a presença deles mas, em breve, outros se lhes juntaram.
Um dos pais disse:
Temos estado a deixar que algumas pessoas roubem o direito dos nossos filhos à educação, ao quererem fazer justiça pelas suas próprias mãos. Temos de lutar ao lado da lei e defender o direito dos nossos filhos à educação.
E muitas crianças começaram a frequentar a escola.
Quando Ruby estava no segundo ano, a multidão desistiu de se manifestar e de desafiar a ordem do juiz para acabar com a segregação racial nas escolas. Depois de frequentar a escola primária, Ruby frequentou também a secundária.
Hoje é casada com um empreiteiro e tem quatro rapazes. Empresária de sucesso, criou a Ruby Bridges Educational Foundation, para fomentar o envolvimento dos pais na educação dos filhos.
Robert Coles; George Ford
The Story of Ruby Bridges
New York, Scholastic, Inc., 2004
(Tradução e adaptação)
 
 
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

Concurso "Biblioteca Escolar" (Dia das Bibliotecas Escolares)

Concurso de Poesia "A Biblioteca a Rimar" (regulamento)

Dia Mundial da Água (fotos)








A Criança e a Vida

Companheira do sol e das raízes, cheguei à grande cidade. Numa mão levava o diploma, na outra, o medo. O resto era a história antiga da minha solidão e da minha esperança...
A escola que me deram não era um desses poéticos lugares, brancos e cheios de flores com que sonhamos no fim do curso: era um velho primeiro andar, de uma rua suja de sal, pregões e humidade. Os rapazes que me deram também não tinham nada de comum com esses meninos de bata branca, normais, nos primeiros dias de aula, e que as mãezinhas nos entregam como se fossem de porcelana.
Lembro-me desse nosso primeiro encontro, tão comovidamente, que receio não encontrar a palavra exata para o esboçar.
Abri a porta e eles entraram. Eram quarenta e cinco e faltavam carteiras. Faltavam muitas carteiras, mesmo quando os sentei três a três e pus cinco na mesa que me destinaram para secretária. O diretor chegou e disse: — Este é o seu reino e aqui tem os seus «meninos». E sorria. — Se tiver sarilhos há de tê‑los, mas não estranhe – a esquadra da polícia fica no fim da rua. E eu estou ao seu dispor. Para as necessidades imediatas, aqui tem isto. Tem de escolher desde o princípio: ou a Senhora, ou eles. Sem complacências, se quiser sobreviver. Lamento dar-lhe a escória. Mas, paciência.
Desceu a escada.
E eu fiquei ali, face à nova aventura.
O silêncio que me envolveu era um silêncio pesado, expectante. E, no meio do silêncio, eles ali estavam, na manhã que nascia. Esculpidos em vento e mar. Vinham dos barcos ancorados no cais, do bairro de lata, de sabe-Deus-donde. Traziam nas mãos, em vez de mala e livros – não sei porquê, mas traziam – folhas de plátano e ramos de amendoeira florida. O outono dourava-lhes os cabelos. Eram sementes vivas da mais autêntica liberdade e não sabiam nada de preconceitos, nem de palavras, nem de coisa nenhuma.
Olhei-os também em silêncio. Um por um. Longamente. Depois, peguei na régua que o diretor acabara de oferecer-me como apoio e dei-a ao que me pareceu mais velho: Toma! Vai atirar fora. E depois, não sei o que lhes disse. Mas a fome de ternura era neles como o sol, a chuva e o desconforto. E como éramos primários, pobres e sozinhos, estabelecemos desde aquela hora um entendimento lúcido e discreto.
E foi assim que ficámos solidários e Amigos – Para – Sempre.
Aprendi então que a Verdade é uma palavra real.
E a Lealdade, também.
Depois, muitos vieram: da Europa, da África, das ilhas perdidas do Atlântico. Mas ali, na escola húmida e despojada, é que aconteceu o milagre que nunca mais se repetira.
Tenho-me perguntado muitas vezes porquê. E cada vez vou tendo mais a certeza que o excesso de conforto destrói o Rosto Iluminado do Homem. Aqueles não tinham, não esperavam, nem pediam nada: por isso, estavam disponíveis para tudo. Os passeios que demos, as notícias que comentámos, os poemas que lemos, a vida que conscientemente os ajudei a desventrar, foram a sua primeira riqueza e fizeram crescer na «escória» uma branca flor de fraterna alegria.
Foi como se um vento de loucura nos tivesse perturbado a todos, e o mundo estivesse suspenso do que fizéssemos. E nas paredes sujas da sala, pintámos o sol e pássaros verdes. E nos buracos dos tinteiros partidos nasceram flores. Eles eram a Terra quente e aprenderam a amá‑la também. E a pobreza que os esboçava começou a ser um pretexto, não para a sua derrota, mas para a sua dignidade e a sua força.
A alegria daqueles rapazes contagiava os indiferentes e as pessoas, muitas, muitas: poetas, professores, pintores, operários, sentiam que junto deles as manhãs eram mais claras e a fome mais terrível. Hoje, alguns serão operários honestos, ardinas apressados, vendedores ambulantes; outros serão marinheiros, outros, sei lá o que serão! Sei lá o que a vida fez deles!
Estas páginas são uma homenagem que lhes devo. Guardei-as, dia após dia, ano após ano, até os perder nos novos caminhos que tive de pisar, como um testemunho. Oxalá alguns deles possam ler estas linhas e reencontrar-se nelas.
Não eram génios, nem poetas, nem meninos-prodígios. Eram filhos de pescadores, de varinas, de ladrões-de-coisas... essenciais-ao-dia-a-dia. Moravam em casas com buracos e dormiam nos barcos, no vão das portas, nos degraus da doca, em qualquer sítio. Alimentavam­‑se de um bocadinho de pão, de um peixe assado e às vezes de água. Apenas. Tinham oito, nove, dez, onze, quinze anos, mas conheciam as mil maneiras de escapar aos polícias, de viajar de borla, de sobreviver.
Os dias eram-lhes duros e comprados com muita coragem e destemor. Por isso custei a entender – ENTENDI!? – como a Poesia foi para eles tão violenta e tão fácil. Pediam para fazer poemas, como quem pede o pão da fome. A princípio a medo, ingénuos. Depois, a mergulharem na aventura da palavra com uma dor e uma lucidez já adultas.
Quando expus a primeira coletânea de textos destes rapazes, ilustrados por alguns dos nomes mais válidos da nossa pintura, o ambiente que cercou a exposição, ao verem a idade dos autores, foi de suspeita e dúvida. Quando eles apareciam, desgrenhados e sujos – a hilaridade era quase completa. E eram eles que me confortavam, soberanos: —Deixe lá. Têm a cabeça cheia de vento. Não percebem nada.
E ficava tudo certo, outra vez.
Mas ensinaram-me que, quando se é humilhado naquilo que em nós é claridade e certeza, aprende-se mais depressa o sentido exato da liberdade, da paz, do ódio, do amor e do ridículo do quotidiano. Eles revelaram-me que a miséria transforma as crianças, mais que os adultos, em anjos implacáveis de lucidez, e que a fome os ateia e lhes faz crescer nos olhos brancas e terríveis asas de sonho ou destruição.
E há, nestes anjos de fogo, uma voz oculta e violenta em que é preciso, é urgente, meditarmos. Ela pode denunciar, construir ou semear a alegria, a vergonha ou o remorso.
Ela pode ser a semente da Esperança, da Paz entre os homens.
Ela pode ser o ódio.
Ela pode ser o Amor.
Maria Rosa Colaço
A Criança e a Vida
Lisboa, Ed. Ulmeiro, 1996
(Adaptação)
 
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias
 
 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fados


 

Fados


Música nas Igrejas-  Ermida de São Sebastião
20 de Outubro 2012, às 18:00 h
 
Sara Gonçalves - Canto
Miguel Drago - Guitarra Portuguesa
Virgilio Lança - Viola
 


Organização  - Academia de Música de Tavira
    
Rua João Vaz Corte Real nº 20 8800-441 Tavira
Tele: 281322436

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Dá-me asas!


Ontem fui para o jardim e desenhei um anjo.
— Obrigado — disse-me ele quando me preparava para lhe desenhar as asas. — Está muito bonito. Mas não me desenhes essas asas. Sabes, aquelas em que estás a pensar agora, com as grandes penas brancas.
— Porque não?
— Essas incomodam um pouco. Estão sempre a atrapalhar, a prenderem-se nos ramos, nos fios da electricidade, e, como sou um tanto distraído, bato com elas em todo o lado. Ah! E sujam-se imenso! Gostava de ter uma coisa nova. Pensa em algo de diferente. Dá-me asas...
Desenhei-lhe então asas de ondas de mar, depois, asas de erva e asas de vidro reluzente. Tentei também com uma fita de luz, com um raio de sol, com ramos em flor, com um turbilhão de neve e até com uma centelha de alegria. Experimentei asas de algodão, asas de vento e até mesmo asas de imaginação!
Desenhei-lhe asas de letras e asas de papel branco.
Observei-o atentamente e dei-lhe umas asas com sardas.
— Obrigado — disse o anjo quando acabou de experimentar todas as minhas asas. — Gostei muito de tudo o que me deste. Mas agora é a tua vez!
Fechei os olhos. De repente, senti que tudo estava a ficarleve. Tive a impressão de perder o meu corpo e de ficar só com os meus contornos.
— Desta vez vamos dar só um passeio pequenino — disse o anjo. — Para que em tua casa ninguém fique preocupado com a demora.
E voámos por três vezes em volta da velha nogueira do meu jardim.
 
 
Heinz Janisch
Schenk mir Flügel
St. Pölten, NP Buchverlag, 2003
(Tradução e adaptação)
 
A Equipa Coordenadora do Clube das Histórias

Dia Mundial da Alimentação (17 de outubro)

Outubro – Mês Internacional das Bibliotecas Escolares

 
O Agrupamento Vertical de Escolas Dom Paio Peres Correia, ao longo deste mês, celebra a importância das bibliotecas escolares, dinamizando diversas iniciativas nas BE, designadamente:

 Ao longo do mês - sessões de formação de utilizadores (dinamizadas pela Professora Bibliotecária, Fátima Veríssimo)
 
- a implementação do Programa de Monitores nas Bibliotecas Escolares.
 
Dia 2 de outubro – Dia Nacional da Água - Palestra dinamizada pela Engenheira Susana Pereira, da empresa Águas do Algarve (organização conjunta da BE, projeto Eco-Escolas e Câmara Municipal de Tavira, Divisão de Ambiente).
 
Dia 17 de outubro – Dia Mundial da Alimentação - Sessão Informativa para os alunos dos 2º/3º ciclos, da responsabilidade do Projeto Escola Ativa (docentes Margarida Campos e Luís Silva).
 
Dia 22 de outubro – lançamento do concurso de poesia A Biblioteca a rimar.
 
- Lançamento do concurso de slogan da BE;
- Exposição de fotos da BE;
- «O Baú do passado, presente e futuro».