Um médico já idoso da Dacota dos Índios Sioux, Lame Deer, tentou explicar a um amigo branco o modo de pensamento dos índios. A palavra sioux Wakan Tanka, que utiliza, significa "força da criação", "grande espírito"
O que vês aqui, amigo? Uma simples panela de fundo já abaulado, e enegrecida pela fuligem. Está em cima do fogo, neste velho fogão de lenha. A água que tem dentro está a ferver e o vapor de água faz saltar a tampa. Dentro há água a ferver, carne com ossos, gordura e batatas.
Esta panela já velha não parece transmitir-nos nada, e de certeza que a única coisa em que pensas quando olhas para ela é em como cheira bem a sopa, o que te faz lembrar que estás com fome.
Mas eu sou um índio e medito em coisas simples e banais do dia-a-dia – como nesta panela. A água que está a ferver vem das nuvens. É um símbolo do céu. O fogo vem do Sol, que nos aquece a todos: homens, animais, árvores. A carne faz-me pensar nas criaturas de quatro patas nossas irmãs, os animais, que nos servem de alimento para podermos viver. O vapor da água é o símbolo do sopro da vida. Foi água, sobe agora para o céu e vai voltar a ser nuvem. Tudo isto é sagrado.
Quando olho para esta panela cheia de sopa, penso em como Wakan Tanka, o Grande Segredo, olha por mim e desta forma tão simples. Nós, os Sioux, pensamos muito e muitas vezes nos objectos do dia-a-dia. Para nós, eles têm uma alma. O mundo à nossa volta está cheio de símbolos que nos ensinam o sentido da vida.
Nós dizemos que vós, os brancos, estais completamente cegos de um olho porque vedes muito pouco. Nós vemos muitas coisas que vocês há muito deixaram de ver.
Também poderíeis ver, se quisésseis, mas já não tendes tempo; estais muito ocupados. Nós, os índios, vivemos num mundo de símbolos e representações, onde o quotidiano e o espiritual são um só. Para vós, os símbolos não passam de palavras faladas, ou escritas num livro. Para nós, elas são uma parte da Natureza, uma parte de nós mesmos: a Terra, o Sol, o Vento, a Chuva. Pedras, árvores, animais, e até pequenos insectos como formigas e gafanhotos. Nós tentamos percebê-los, não com a cabeça mas com o coração, e basta-nos um pequeno indício para apreendermos a sua mensagem.
Lene Mayer-Skumanz (Org.)
Hoffentlich bald
Wien, Herder Verlag, 1986
O que vês aqui, amigo? Uma simples panela de fundo já abaulado, e enegrecida pela fuligem. Está em cima do fogo, neste velho fogão de lenha. A água que tem dentro está a ferver e o vapor de água faz saltar a tampa. Dentro há água a ferver, carne com ossos, gordura e batatas.
Esta panela já velha não parece transmitir-nos nada, e de certeza que a única coisa em que pensas quando olhas para ela é em como cheira bem a sopa, o que te faz lembrar que estás com fome.
Mas eu sou um índio e medito em coisas simples e banais do dia-a-dia – como nesta panela. A água que está a ferver vem das nuvens. É um símbolo do céu. O fogo vem do Sol, que nos aquece a todos: homens, animais, árvores. A carne faz-me pensar nas criaturas de quatro patas nossas irmãs, os animais, que nos servem de alimento para podermos viver. O vapor da água é o símbolo do sopro da vida. Foi água, sobe agora para o céu e vai voltar a ser nuvem. Tudo isto é sagrado.
Quando olho para esta panela cheia de sopa, penso em como Wakan Tanka, o Grande Segredo, olha por mim e desta forma tão simples. Nós, os Sioux, pensamos muito e muitas vezes nos objectos do dia-a-dia. Para nós, eles têm uma alma. O mundo à nossa volta está cheio de símbolos que nos ensinam o sentido da vida.
Nós dizemos que vós, os brancos, estais completamente cegos de um olho porque vedes muito pouco. Nós vemos muitas coisas que vocês há muito deixaram de ver.
Também poderíeis ver, se quisésseis, mas já não tendes tempo; estais muito ocupados. Nós, os índios, vivemos num mundo de símbolos e representações, onde o quotidiano e o espiritual são um só. Para vós, os símbolos não passam de palavras faladas, ou escritas num livro. Para nós, elas são uma parte da Natureza, uma parte de nós mesmos: a Terra, o Sol, o Vento, a Chuva. Pedras, árvores, animais, e até pequenos insectos como formigas e gafanhotos. Nós tentamos percebê-los, não com a cabeça mas com o coração, e basta-nos um pequeno indício para apreendermos a sua mensagem.
Lene Mayer-Skumanz (Org.)
Hoffentlich bald
Wien, Herder Verlag, 1986
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