Há muito tempo atrás, um caçador esquimó morava no Pólo Norte com a mulher e os filhos. A vida era difícil. Para matarem a fome, tinham de caçar.
Caçavam o dia inteiro. Arrastavam as presas para o seu acampamento, comiam a carne, e da pele faziam roupas. Depois de comer sentavam-se, cansados e em silêncio, ao lado uns dos outros, e começavam a bocejar.
Só o filho mais novo perguntava, de vez em quando:
— O que é que podemos ainda fazer hoje?
— Dormir! O que mais? — respondia o pai.
— Podíamos ir ter com os homens que moram no acampamento vizinho.
Mas o pai abanava a cabeça.
— As pessoas lá também estão a dormir.
Então deitavam-se, chegavam-se uns aos outros, cobriam-se com as mantas de pele e adormeciam. Assim se passavam os dias, assim se passavam as noites, umas iguais às outras.
Certo dia, o filho mais novo foi sozinho à caça. Viu uma águia a voar em círculos por cima dele e esticou o arco. A águia aproximava-se cada vez mais. Por fim pousou no chão e aninhou-se na neve em frente ao rapazinho, a olhar muito calmamente para o caçador. A águia ainda era nova mas era grande e tinha umas penas bonitas. O jovem caçador sentiu-se estranhamente sem coragem e baixou o arco.
— Vai-te embora — disse para a águia. — És tão bonita! Não quero matar-te.
— Jovem caçador — disse a águia — vem comigo ao meu acampamento. Tenho um presente para ti. Quero dar-te a dádiva da festa.
— Festa? O que é isso? — perguntou o rapaz.
— Uma festa alegra o coração — disse a águia. — Os amigos reúnem-se e comem todos juntos. Depois tocam nos tambores, cantam e dançam. Quem dá uma festa não está sozinho.
Então o rapaz foi com a águia, porque queria receber a dádiva que ajudava a afastar a solidão. Subiram a um grande monte. No cimo estava o acampamento da águia.
— Mãe! — gritou a jovem águia ainda de longe. — Trago um homem jovem que nunca esteve numa festa. Não sabe tocar tambor, nem cantar, nem dançar.
O rapaz teve medo, pois a mãe-águia era assustadoramente grande. A família inteira do rapaz podia dormir debaixo das suas asas. A mãe-águia abriu os olhos milenares e olhou para o jovem.
— Construí uma tenda para a festa, meninos! — disse.
A águia mostrou ao rapaz como se esticava pele de rena sobre uma armação de madeira, como se faziam baquetas de osso e como se batia com elas na pele esticada para começarem a soar.
— Inventai uma canção, meninos — disse a mãe águia.
— Uma canção? — perguntou o rapaz.
— Procura numa recordação boa e arranja palavras para ela — disse a mãe-águia.
O rapaz ficou a pensar. Depois, começou a bater no tambor e disse:
Caçavam o dia inteiro. Arrastavam as presas para o seu acampamento, comiam a carne, e da pele faziam roupas. Depois de comer sentavam-se, cansados e em silêncio, ao lado uns dos outros, e começavam a bocejar.
Só o filho mais novo perguntava, de vez em quando:
— O que é que podemos ainda fazer hoje?
— Dormir! O que mais? — respondia o pai.
— Podíamos ir ter com os homens que moram no acampamento vizinho.
Mas o pai abanava a cabeça.
— As pessoas lá também estão a dormir.
Então deitavam-se, chegavam-se uns aos outros, cobriam-se com as mantas de pele e adormeciam. Assim se passavam os dias, assim se passavam as noites, umas iguais às outras.
Certo dia, o filho mais novo foi sozinho à caça. Viu uma águia a voar em círculos por cima dele e esticou o arco. A águia aproximava-se cada vez mais. Por fim pousou no chão e aninhou-se na neve em frente ao rapazinho, a olhar muito calmamente para o caçador. A águia ainda era nova mas era grande e tinha umas penas bonitas. O jovem caçador sentiu-se estranhamente sem coragem e baixou o arco.
— Vai-te embora — disse para a águia. — És tão bonita! Não quero matar-te.
— Jovem caçador — disse a águia — vem comigo ao meu acampamento. Tenho um presente para ti. Quero dar-te a dádiva da festa.
— Festa? O que é isso? — perguntou o rapaz.
— Uma festa alegra o coração — disse a águia. — Os amigos reúnem-se e comem todos juntos. Depois tocam nos tambores, cantam e dançam. Quem dá uma festa não está sozinho.
Então o rapaz foi com a águia, porque queria receber a dádiva que ajudava a afastar a solidão. Subiram a um grande monte. No cimo estava o acampamento da águia.
— Mãe! — gritou a jovem águia ainda de longe. — Trago um homem jovem que nunca esteve numa festa. Não sabe tocar tambor, nem cantar, nem dançar.
O rapaz teve medo, pois a mãe-águia era assustadoramente grande. A família inteira do rapaz podia dormir debaixo das suas asas. A mãe-águia abriu os olhos milenares e olhou para o jovem.
— Construí uma tenda para a festa, meninos! — disse.
A águia mostrou ao rapaz como se esticava pele de rena sobre uma armação de madeira, como se faziam baquetas de osso e como se batia com elas na pele esticada para começarem a soar.
— Inventai uma canção, meninos — disse a mãe águia.
— Uma canção? — perguntou o rapaz.
— Procura numa recordação boa e arranja palavras para ela — disse a mãe-águia.
O rapaz ficou a pensar. Depois, começou a bater no tambor e disse:
.
Vi uma águia a voar
Lá no alto, sobre mim.
Desceu à terra e olhou-me.
O meu coração aqueceu e saltou de alegria.
A águia tornou-se minha amiga.
Vi uma águia a voar
Lá no alto, sobre mim.
Desceu à terra e olhou-me.
O meu coração aqueceu e saltou de alegria.
A águia tornou-se minha amiga.
.
— Está bem — disse a mãe-águia. — Agora escuta as tuas palavras. Há nelas uma melodia que tens de aprender a ouvir. O rapaz escutou e começou a cantar, primeiro em voz baixa, depois mais alto.
— Agora dançai, meninos! — gritou a mãe-águia. — Jovem, o teu coração está a saltar de alegria. Deixa as tuas pernas imitarem-no!
O rapaz saltava e batia no tambor, ria de alegria e cantava a sua canção.
— Agora já sabes tudo — disse a mãe-águia — mas não recebeste a dádiva só para ti. Tens de a partilhar com todos os Homens.
O rapaz assim prometeu. Ainda tinha no saco de caça um pouco de gordura de foca. Pegou nela e pô-la em frente da mãe-águia.
Era uma oferenda pequenina, mas a mãe ficou contente.
— Ele aprendeu mesmo tudo o que é preciso saber para a festa – disse para o filho. — Leva-o de volta à terra dele.
O rapaz pôs os braços à volta do pescoço da águia, que levou o seu amigo para a planície, onde se despediram um do outro.
O jovem correu para casa e contou aos pais e aos irmãos a deliciosa prenda que tinha recebido.
Juntos prepararam uma festa, construíram uma casa, fizeram tambores, inventaram canções. Conversaram e riram uns com os outros, tentaram dançar, e os seus pensamentos tornaram-se alegres.
Ao fazerem qualquer coisa, perguntavam-se se não podiam inventar dali uma canção. E assim começaram a olhar as coisas à sua volta de uma nova forma.
Convidaram as pessoas do acampamento vizinho e vieram convidados de todos os lados. Fizeram um banquete, cantaram, dançaram e tocaram.
E vieram os lobos e os ursos polares, as raposas vermelhas e cinzentas, os linces e as galinhas da neve, e todos festejaram com os homens a primeira festa.
Tradução e adaptação
Lene Mayer-Skumanz (org.)
Hoffentlich bald
Wien, Herder Verlag, 1986
— Está bem — disse a mãe-águia. — Agora escuta as tuas palavras. Há nelas uma melodia que tens de aprender a ouvir. O rapaz escutou e começou a cantar, primeiro em voz baixa, depois mais alto.
— Agora dançai, meninos! — gritou a mãe-águia. — Jovem, o teu coração está a saltar de alegria. Deixa as tuas pernas imitarem-no!
O rapaz saltava e batia no tambor, ria de alegria e cantava a sua canção.
— Agora já sabes tudo — disse a mãe-águia — mas não recebeste a dádiva só para ti. Tens de a partilhar com todos os Homens.
O rapaz assim prometeu. Ainda tinha no saco de caça um pouco de gordura de foca. Pegou nela e pô-la em frente da mãe-águia.
Era uma oferenda pequenina, mas a mãe ficou contente.
— Ele aprendeu mesmo tudo o que é preciso saber para a festa – disse para o filho. — Leva-o de volta à terra dele.
O rapaz pôs os braços à volta do pescoço da águia, que levou o seu amigo para a planície, onde se despediram um do outro.
O jovem correu para casa e contou aos pais e aos irmãos a deliciosa prenda que tinha recebido.
Juntos prepararam uma festa, construíram uma casa, fizeram tambores, inventaram canções. Conversaram e riram uns com os outros, tentaram dançar, e os seus pensamentos tornaram-se alegres.
Ao fazerem qualquer coisa, perguntavam-se se não podiam inventar dali uma canção. E assim começaram a olhar as coisas à sua volta de uma nova forma.
Convidaram as pessoas do acampamento vizinho e vieram convidados de todos os lados. Fizeram um banquete, cantaram, dançaram e tocaram.
E vieram os lobos e os ursos polares, as raposas vermelhas e cinzentas, os linces e as galinhas da neve, e todos festejaram com os homens a primeira festa.
Tradução e adaptação
Lene Mayer-Skumanz (org.)
Hoffentlich bald
Wien, Herder Verlag, 1986
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