segunda-feira, 19 de maio de 2008

Manuel Cabanas


Manuel dos Santos Cabanas
(11 de Fevereiro de 1902 – 25 de Maio de 1995)



Manuel dos Santos Cabanas nasceu no concelho de Vila Real de Santo António no início do século XX e faleceu já no crepúsculo desse mesmo século. Durante a sua vida, passada a maior parte na cidade do Barreiro, na margem Sul do rio Tejo, assistiu e participou a grandes episódios da nossa história.
De origens muito humildes, próprias de famílias rurais, o Mestre, como ficaria conhecido, demonstrou sempre grande preocupação pelas injustiças sociais, pela defesa das liberdades e pelo auxílio aos mais desfavorecidos. Embora tivesse grande respeito pela profissão dos seus progenitores, a agricultura, Manuel Cabanas quis dar um outro rumo à sua vida, empregando-se nos Caminhos de Ferro, onde iria exercer funções durante largo tempo da sua vida.
O jovem Manuel decidiu mudar o rumo da sua vida e foi viver para o Barreiro, onde passaria a maior parte da sua existência.
Toda a sua vida foi norteada pelos princípios da Revolução Francesa, “Liberdade, igualdade e fraternidade”. Repúblicano convicto, Manuel Cabanas “viveu” o fim da monarquia e a implantação da República em 1910. Foi um lutador, um combatente contra qualquer forma de repressão. Foi torturado, preso, penalizado na sua profissão. Foi desterrado para a Estação de Caminhos de Ferro da Moita, onde trabalhava apenas de noite. Toda a noite! Como o trabalho não era muito, Manuel Cabanas aproveitou o tempo para aprender. A aprendizagem foi feita através da leitura de livros e revistas, algumas delas proibidas na época pelo regime salazarista. A esse período da sua vida, denominamos de “Universidade da Moita”. De uma forma autodidacta aprendeu sobre os mais variados temas: política, história, direito, arte, religião, filosofia entre outras áreas. É um exemplo que deveria ser seguido ainda hoje. Sem os recursos que dispomos actualmente, como a internet, a televisão ou o telefone, Manuel Cabanas preparou-se para a vida, adquirido um saber enciclopédico.
Manuel Cabanas foi um defensor das liberdades! Todo o tipo de liberdade: de pensamento, de expressão, de escolha. Por isso lutou sempre contra o regime Salazarista, contra a utilização da força pela PIDE, contra a censura. E foi muitas vezes penalizado por isso.
Esteve ao lado de Arlindo Vicente e mais tarde do General “Sem medo” Humberto Delgado, que acabaria por ser morto pela PIDE. Esteve ao lado dos capitães de Abril e dos grandes activistas políticos que estiveram na origem do 25 de Abril de 1974. Foi um dos elementos fundadores do Partido Socialista, na altura ainda clandestino.
Manuel Cabanas teve sempre grande apetência pelas tertúlias, organizando pequenos grupos onde debatia os mais variados assuntos. Tinha o dom da palavra e facilmente cativava a atenção daqueles que o ouviam.
Tinha também muito jeito para os ofícios, dedicando-se à encadernação de livros, actividade que ensinou a Aquilino Ribeiro. Mais tarde dedicou-se à Xilogravura, arte que o viria a notabilizar no mundo artístico. Em Vila Real de Santo António existe uma galeria com o seu nome que alberga grande parte da sua obra artística.
O Mestre estabeleceu relações de amizade com as elites culturais da época. Criou até uma relação de grande amizade com Cândido Portinari, notável pintor brasileiro do século XX. Já para não falar da sua relação com Aquilino Ribeiro ou com o antigo Presidente da República, natural de Portimão, Manuel Teixeira Gomes.
A vida de Manel Cabanas foi riquíssima. Pode-se dizer que não houve apenas um Manuel Cabanas, mas vários. Foi jornalista, historiador e até professor. Fez parte da Maçonaria. A sua dimensão é enorme e a sua história confunde-se com a própria história do século XX português.
Como muitos artistas, Manuel Cabanas nunca teve grande apreço pelos bens materiais. Acabou com algumas dificuldades económicas, mas nunca perdeu a dignidade e foi sempre fiel aos seus princípios.
Manuel Cabanas dizia:
“Tudo sacrifiquei a minha modesta mensagem espiritual no intuito de realizar alguma coisa que se prolongasse para além da minha vida.”

Manuel dos Santos Cabanas é um exemplo a seguir.

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