O Dia de Todos os Santos, que se celebra hoje, é cada vez mais o Dia dos
Fiéis Defuntos, marcado para amanhã. Igreja não condena esta vontade popular,
que aproveita assim o feriado para lembrar os familiares que já morreram. A
homenagem aos mortos acontece um pouco por todo o mundo, de formas muito
diferentes.
O primeiro
dia de Novembro é marcado pela ida de milhares de portugueses aos cemitérios,
que nesta altura estão especialmente enfeitados. Mas esta visita tem tendência
a acontecer no dia anterior ao definido pela Igreja, muito por culpa da força
popular. Assim, é cada vez mais comum celebrar-se o Dia dos Fiéis Defuntos no
Dia de Todos os Santos.
Um fenómeno
que pode ser explicado simplesmente pelo facto de o dia 1 de Novembro (Dia de
Todos os Santos) ser feriado e o dia 2 (Dia dos Finados), não. Porém, o padre
José Manuel Almeida prefere acrescentar uma justificação mais espiritual.
"A voz
do povo é a voz de Deus e se calhar muitos dos nossos defuntos podem ser também
celebrados no dia de Todos os Santos", explica. O religioso vai mais longe
e acredita que co-mo "Deus escreve direito por linhas tortas, esta mistura
popular dos dois dias pode fazer-nos pensar e levar à luz: Se calhar não são
datas assim tão diferentes."
Uma coisa
parece certa, os portugueses dão mais significado ao Dia dos Finados que à
celebração de Todos os Santos. Talvez porque esta é uma data em que
"particularmente se recordam os amigos e familiares que se encontram a
caminho da comunhão com Deus", refere o prior de Santa Isabel. A proximidade
das pessoas aos seus defuntos aumenta o significado desta data, em relação à
celebração de santos que são desconhecidos.
A homenagem
aos mortos é um acontecimento global e é vivido de diferentes formas um pouco
por todo o mundo. Tal como sublinha o padre José Manuel Almeida, "no
México é uma festa bastante divertida, enquanto aqui tem um pendor mais triste
e saudoso".
Em Portugal,
no dia de Todos-os-Santos as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos
bandos para pedir o pão-por-deus de
porta em porta. As crianças quando pedem o pão-por-deus recitam versos e
recebem como oferenda: pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, amêndoas
ou castanhas, que colocam dentro dos seus sacos de pano. É também costume em
algumas regiões os padrinhos oferecerem um bolo, o Santoro. Em algumas
povoações chama-se a este dia o ‘Dia dos Bolinhos’.
Esta
tradição teve origem em Lisboa em 1756 (1 ano depois do terramoto que destruiu
Lisboa). Em 1 de Novembro de 1755 ocorreu o terramoto que destruiu Lisboa, no
qual morreram milhares de pessoas e a população da cidade, que era na sua
maioria pobre, ainda mais pobre ficou.
Como a data
do terramoto coincidiu com uma data com significado religioso (1 de Novembro),
de forma espontânea, no dia em que se cumpria o primeiro aniversário do
terramoto, a população aproveitou a solenidade do dia para desencadear, por
toda a cidade, um peditório, com a intenção de minorar a situação paupérrima em
que ficaram.
As pessoas,
percorriam a cidade, batiam às portas e pediam que lhes fosse dada qualquer
esmola, mesmo que fosse pão, dado grassar a fome pela cidade. E as pessoas
pediam: "Pão por Deus".
Esta
tradição perpetuou-se no tempo, sendo sempre comemorada neste dia e tendo-se
propagado gradualmente a todo o país.
Até meados
do séc. XX, o "Pão-por-Deus" era uma comemoração que minorava as
necessidades básicas das pessoas mais pobres (principalmente na região de
Lisboa). Noutras zonas do país, foram surgindo variações na forma e no nome da
comemoração. A designação indicada acima (Dia dos Bolinhos) em Lisboa nunca foi
utilizada, nem era sequer conhecido este nome.
Nas décadas
de 60 e 70 do séc. XX, a data passou a ser comemorada, mais de forma lúdica, do
que pelas razões que criaram a tradição e havia regras básicas, que eram escrupulosamente
cumpridas: só podiam pedir o "Pão-por-Deus", crianças até aos 10 anos
de idade (com idades superiores as pessoas recusavam-se a dar); as crianças só
podiam andar na rua a pedir o "Pão-por-Deus" até ao meio-dia (depois
do meio-dia, se alguma criança batesse a uma porta, levava um
"raspanete", do adulto que abrisse a porta).
A partir dos
anos 80 a tradição foi gradualmente desaparecendo e, actualmente, raras são as
pessoas que se lembram desta tradição.
Até a
comunicação social, contribui para o empobrecimento da memória coletiva. Neste
dia todas as estações de TV, Rádio e jornais, falam no Halloween, ignorando
completamente o "Pão-por-Deus".
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